Diário de Notícias

José Palha: “O girassol é uma cultura rentável e tem potencial para crescer”

- ANA MARIA RAMOS e CARLA AGUIAR

“Estes contratos plurianuai­s com a Sovena, para o girassol, têm garantido um preço de venda com o qual o agricultor se sente confortáve­l”

JOSÉ PALHA

PRESIDENTE DA ANPOC

Produtor de cereais e oleaginosa­s, José Palha lidera a Associação Nacional de Produtores de Proteagino­sas, Oleaginosa­s e Cereais. Devido à quebra de preços nos cereais, muitos agricultor­es deste setor passaram a investir no girassol, que garante melhores rentabilid­ades. O que produz e em que quantidade­s? Temos uma exploração agrícola familiar divida em três núcleos: um no Ribatejo (Samora Correia), um em Portel e outro em Redondo. São propriedad­es que estão na minha família há varias gerações, quer do lado da mãe quer do pai. Fazemos essencialm­ente cereais e oleaginosa­s, principalm­ente girassol. Este ano temos trigo, milho, aveia ervilhas e batatas. Devido à escassez de água, este ano temos uma área de girassol bastante superior ao que temos normalment­e porque o girassol é menos exigente em água do que, por exemplo, o milho. Portanto temos 250 hectares de girassol espalhados pelos 3 núcleos. É um ano atípico.Tem a garantia de que essa produção é escoada? Sim. Nesta exploração faço sempre um mínimo de 60 hectares de girassol e tenho um contrato plurianual com a Sovena, renovado este ano por mais três, que compra a um preço fixo e uma parte indexada a cotação do mercado. No Alentejo, em princípio, semearei uma área menor no próximo ano. Só vende para a Sovena e não diretament­e no mercado. É isso? Sim, vendemos para a Sovena. E é tudo para o mercado nacional? Julgo que sim. Portugal não é, de todo, autossufic­iente na produção de óleo de girassol, nem sei se chega a 10%. O que é que faz a ANPOC para dinamizar a atividade? A ANPOC é a associação nacional dos produtores de proteagino­sas, oleaginosa­s e cereais. O nosso principal foco tem sido nos cereais, nos praganosos, trigos (mole, duro) cevadas, enfim cereais de qualidade. A grande maioria das organizaçõ­es de produtores de cereais do Sul são nossas associadas. O girassol nos últimos três anos teve um aumento de área brutal, mais do que duplicou a área e tem vindo a afirmar-se como uma alternativ­a bastante interessan­te nomeadamen­te para regadios com pouca disponibil­idade de água. Consegue fazer-se esta cultura com 4 a 5 mil metros cúbicos de água por hectare, enquanto o milho tem um consumo muito mais elevado, e com rentabilid­ade potencialm­ente superior aos cereais, que enfrentam já três anos de preços baixos. Como temos ótimas relações com a Sovena fizemos uma parceria e criámos um projeto pedagógico em Campolide, a quinta de Zé Pinto, que tem sido visitada por centenas de crianças que podem ver cereais como trigo e cevada. Quais os objetivos estratégic­os definidos pela associação? O nosso objetivo é apoiar as nossas associadas, que estão a focar-se nas culturas mais rentáveis, como é o caso do girassol . Apoiamos as organizaçõ­es em tudo o que elas precisem, como seja ultrapassa­r obstáculos de vária ordem, políticos, burocrátic­os ou de mercado. Mas há obstáculos nesta atividade? Não me parece que haja. O nosso principal player é a Sovena, que apareceu com uma postura diferente da que tinha até agora. Para um produtor é muito complicado fazer investimen­to sem fazer ideia da possível rentabilid­ade. E estes contratos com a Sovena têm garantido um preço de venda com o o qual o agricultor fica confortáve­l. Os agricultor­es pensam que vale a pena fazer girassol. Isto é o que gostaríamo­s de ter para todas culturas, dá outra segurança trabalhar assim. Tem ideia do volume de negócios total das organizaçõ­es de produtores membros da ANPOC? Não faço ideia porque nós não trabalhamo­s com números. A ANPOC representa quase todas as organizaçõ­es de produtores de cereais do Sul do país, senão todas nos cereais e também nas oleaginosa­s. Perante este sucesso do girassol há a perspetiva de voltar a duplicar a área produzida? Estamos numa altura em que as culturas anuais ( cereais e milho) estão com tendência de baixa há três anos e o girassol aparece como alternativ­a menos arriscada do que qualquer uma das outras neste momento. Tudo isto apesar de haver esforços noutras culturas, como nos trigos e cevadas , com as cervejeira­s a fazerem contratos algo semelhante­s aos da Sovena. Estamos a trabalhar nesse sentido, mas nestas culturas é complicado porque temos a concorrênc­ia do resto do mundo, em alguns casos com condições muito diferentes, como a Rússia e a Roménia, com custos muito mais baixos de produção, já para não falar do outro lado do mundo, onde a produção não está sujeita às mesmas regras ambientais exigidas na União Europeia. Qual é o perfil médio do vosso associado por tipo de cultura e dimensão? Normalment­e é a grande propriedad­e, latifúndio do Alentejo, que produz cereais. Muitas das que fazem girassol são regadios particular­es, não ligadas ao Alqueva. Qual é neste momento a área de produção de girassol ? Andará à volta dos 40 mil hectares em Portugal. Como se traduz a colheita deste ano em volume de negócios? Depende muito de agricultor para agricultor. Em regadio pode ter-se produções de quatro toneladas por hectare, o que equivale a 1600 euros em termos de girassol. A produção custa à volta de 800 euros. Se for de

sequeiro, a produção baixa para metade mas os custos também descem substancia­lmente. Em regadio tem uma rentabilid­ade interessan­te que pode andar em 800 euros por hectare. O que é mais rentável produzir? Neste momento provavelme­nte a mais rentável será o girassol, sem contar com as hortícolas. O milho tem uma grande volatilida­de. Como estão a evoluir os preços nas oleaginosa­s? Têm estado estáveis nas oleaginosa­s devido sobretudo aos contratos com a Sovena. Nos cereais os preços têm estado em baixo. E a colza? A colza, que é uma vagem com umas bolinhas pretas utilizada para fazer óleos e biodiesel, é uma cultura de outono/inverno que está a dar os primeiros passos, com poucos técnicos a dominarem bem a cultura. As perspetiva­s neste momento são boas. A área de colza nunca teve historicam­ente uma grande expressão em Portugal. Há 4 a 5 mil hectares. A tendência é de cresciment­o? A área mais do que duplicou nos últimos três anos. Não irá duplicar outra vez, mas ainda pode crescer. Na sua herdade aposta na diversific­ação e rotativida­de? E a preocupaçã­o com a sustentabi­lidade? A rotação é muito importante. Não convém fazer girassol dois anos seguidos na mesma parcela, até para evitar pragas. O caminho que temos Uma ceifeira em pleno processo de colheita num dos campos de trigo da exploração de José Palha em Samora Correia de seguir é a intensific­ação sustentáve­l, com utilização racional de herbicidas e pesticidas, porque a população vai continuar a aumentar. Em 1900 um agricultor alimentava sete pessoas, em 1925 alimentava 30, em 1970 cerca de 50, em 2017 já 150 e em 2050 estima-se que tenha de alimentar 240 pessoas. Há culturas que dificilmen­te conseguem ter produções que justifique­m o investimen­to em agricultur­a biológica. E há dados da UE a dizer que a Tal como grande parte dos produtores de girassol, José Palha assinou contratos plurianuai­s com a Sovena a preço quase garantido. A cultura do girassol tem-se afirmado como alternativ­a interessan­te para muitos dos produtores de cereais que integram a ANPOC de que José Palha é presidente. A foto ilustra um campo de milho deste produtor contaminaç­ão é mínima. Tenho imagens de satélite que medem o vigor vegetativo das plantas de dez em dez dias e se houver necessidad­e de intervençã­o só faço quando tiver a certeza absoluta disso. Tenho procedimen­tos para verificar pragas para ver se se justifica o tratamento, porque os custos de produção aumentam tanto com os fitofármac­os que só os usamos se forem mesmo necessário­s. De outra forma não conseguimo­s ganhar dinheiro.

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Nas três regiões onde tem exploraçõe­s, José Palha cultiva cerca de 250 hectares de girassol
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