Diário de Notícias

Novo delator na Lava-Jato revela ter pago comissões a Michel Temer

Um homem-bomba do regime decide falar e a polícia federal apresenta relatório com “provas vigorosas” de corrupção do presidente

- JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo

Temer (à direita) foi recebido por Putin no Kremlin e recusou comentar acusações de que é alvo Lúcio Bolonha Funaro é o mais recente delator da Operação Lava-Jato a envolver o nome do presidente da República no esquema de corrupção entre empresas e políticos no Brasil. Disse o corretor da Bolsa de valores, a cumprir pena de prisão em Brasília, que Michel Temer pediu para que fossem realizadas duas operações de crédito num fundo de investimen­tos estatal destinado a empresas privadas. Depois da entrevista de fim de semana do empresário e delator Joesley Batista à revista Época em que acusava Temer de liderar a mais perigosa organizaçã­o criminosa do Brasil, o Palácio do Planalto sofre novo golpe na sua credibilid­ade.

As operações, segundo Funaro, geraram “comissões expressiva­s num montante aproximado de 20 milhões”. Dinheiro que, ainda de acordo com a delação, ajudou a irrigar a campanha para a presidênci­a da República de 2014 e a campanha de um candidato do PMDB, o partido a que Temer pertence e a que naquela altura presidia à prefeitura de São Paulo. As empresas beneficiad­as foram, diz Funaro, a BR Vias, dona da companhia aérea brasileira Gol, e a LLX, do grupo liderado pelo empresário Eike Batista.

O delator disse ainda que Temer tinha conhecimen­to de subornos relativos a um contrato entre a petrolífer­a estatal Petrobras e a construtor­a Odebrecht. Suborno que beneficiou sobretudo Moreira Franco, um dos ministros mais íntimos do presidente da República. Geddel Vieira Lima, que se demitiu do executivo em novembro após pedir favorecime­nto público para um apartament­o pessoal, foi outro dos visados por Funaro, num depoimento anexado à Operação Patmos, assim chamada em alusão à ilha bíblica onde o apocalipse foi revelado ao apóstolo João.

Moreira Franco e Geddel Vieira Lima negaram as acusações e Temer, em visita à Rússia, onde se encontrou com o presidente Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmitri Medvedev, não comentou.

Temer também se recusou a falar sobre o relatório parcial da polícia federal que vê “provas vigorosas de corrupção passiva do presidente”. “Não faço juízo jurídico”, disse, após encontro com empresário russos em Moscovo. Segundo esse relatório, houve prática de corrupção passiva de Temer “em face de, valendo-se da interposiç­ão de Rodrigo Rocha Loures [o assessor especial da presidênci­a filmado a carregar mala com dinheiro], ter aceitado promessa de vantagem indevida em razão da sua função”. A polícia federal ainda não analisou outros dois supostos crimes resultante­s da gravação efetuada pelo delator Joesley Batista, o da compra do silêncio de Eduardo Cunha e o da omissão de Temer após ouvir relato de compra de juízes pelo seu interlocut­or.

Mais tarde, o Ministério Público federal denunciou o ex-ministro Henrique Eduardo Alves e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, ambos já presos, por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Os dois, aliados históricos de Temer, teriam recebido 11,5 milhões de reais em subornos relativos à construção do estádio Arena das Dunas, em Natal, cidade de Alves, a propósito do Mundial de futebol de 2014.

Entretanto, o antigo presidente Lula da Silva apresentou as alegações finais no caso da suposta aquisição de um apartament­o tríplex com a ajuda de dinheiro sujo de uma construtor­a. A sentença, a cargo do juiz da Operação Lava-Jato Sergio Moro, será conhecida provavelme­nte ainda neste mês.

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