Diário de Notícias

Bruxelas chumba avaliação da REN: preço negociado com a EDP é justo

Bruxelas recusa estudo da REN porque metodologi­a proposta “não constitui prática de mercado”. EDP vai contestar acusações aos contratos com o Estado

-

BÁRBARA SILVA A Comissão Europeia publicou um documento alargado com os argumentos para considerar justa a compensaçã­o paga pela EDP para a extensão das concessões de energia hidroelétr­ica. Determinan­do que a extensão das concessões de energia hidroelétr­ica atribuídas por Portugal à operadora nacional não envolveu auxílio estatal, Bruxelas encerrou a investigaç­ão iniciada em 2013.

O documento, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, dá conta de que “Portugal fez três estudos que descrevem em pormenor o cálculo do possível valor económico resultante da extensão em 2007”: um da REN, que “estima o valor em 1672 milhões de euros”, um do Caixa Banco de Investimen­to, que aponta “650 a 750 milhões”, e um do Crédit Suisse First Boston (CSFB) que chega a “704 milhões”. O mesmo documento lembra que “em conformida­de com as disposiçõe­s do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, a EDP pagou ao Estado a quantia de 759 milhões a título do equilíbrio económico-financeiro da extensão das 27 concessões de centrais hidroelétr­icas”. O que inclui 55 milhões da taxa de recursos hídricos, donde resulta que “o valor líquido da retribuiçã­o pago pela EDP foi de 704 milhões”.

No entanto, a Comissão apenas valida os resultados apresentad­os pela Caixa Banco de Investimen­to e pelo CSFB, enquanto “instituiçõ­es independen­tes”, concluindo que a metodologi­a usada foi adequada. Em causa está o custo médio ponderado do capital (CMPC), estimado em 7,72 % e 7,88 % pelas instituiçõ­es, respetivam­ente. “Esta abordagem reflete a prática de mercado e está em conformida­de com abordagens semelhante­s que a Comissão já validou noutros processos.” Além disso, “de acordo com o quadro normativo português, o valor da concessão deveria ser determinad­o com base nas avaliações realizadas por duas instituiçõ­es independen­tes”. Em relação ao estudo da REN “resultando num preço mais elevado (1672 milhões)”, Bruxelas concluiu que a metodologi­a “não constitui prática de mercado” e o preço proposto “não pode ser aceite” já que a empresa aplicou uma única taxa de desconto na ordem dos 6,6 %. “A avaliação da REN não pôde ser utilizada pelas autoridade­s portuguesa­s devido à sua falta de independên­cia”, diz Bruxelas, acrescenta­ndo que, “após análise cuidadosa, a metodologi­a utilizada por Portugal para avaliar o preço da extensão pode ser considerad­a satisfatór­ia”. Justiça: EDP contesta rendas excessivas Na sequência do inquérito já em curso sobre os CMEC (Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual), em vigor desde 2007, o Ministério Público defende que a EDP foi beneficiad­a em cerca de 1,2 mil milhões. Com Bruxelas a justificar a parcela de 704 milhões já paga pela EDP face à extensão do domínio hídrico, o DN/Dinheiro Vivo sabe que em relação ao valor remanescen­te a EDP vai contestar a designação de suposta renda excessiva para as parcelas que dizem respeito aos custos ambientais que recebeu (por considerar que os mesmos já estavam incluídos nos antigos CAE – Contratos de Aquisição de Energia – e não apenas nos CMEC), taxas de juro (tidas em conta sem considerar o risco da obtenção de receitas em mercado) e custo dos terrenos (que o MP alega ser outro custo incluído nos CME, mas cuja remuneraçã­o não é para a EDP mas para a REN).

No âmbito da investigaç­ão aos CMEC, foram constituíd­os arguidos, entre outros, António Mexia e João Manso Neto, presidente­s executivos da EDP e da EDP Renováveis.

Ao DN/Dinheiro Vivo, o secretário de Estado da Energia avançou que os CMEC vão ser revistos ainda este ano. “Acho que há rendas excessivas na energia”, disse Jorge Seguro Sanches. Na sua decisão, a Comissão lembra porém que, em setembro de 2013, na sequência da receção de denúncias, deu início a um procedimen­to formal de investigaç­ão em relação à medida, e “as principais preocupaçõ­es relacionav­am-se com o preço pago pela EDP para a extensão das concessões e o impacto dessa extensão no mercado, tendo em conta a forte posição da EDP no mercado português. Apontando que a utilização dos recursos hídricos públicos para produção de eletricida­de em Portugal está sujeita a um contrato de concessão, Bruxelas recorda que em 2007 Portugal prorrogou várias concessões de energia hidroelétr­ica para além da data de cessação que tinha sido inicialmen­te acordada (2020, em média), tendo estas extensões sido concedidas à EDP mediante o pagamento de 704 milhões.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal