Diário de Notícias

Bancos estão a subir comissões para compensar spreads esmagados

Crédito à habitação. A banca está a agravar as taxas de serviço para poder baixar os spreads, sem perder na margem de lucro

- MARTA VELHO

Se as comissões iniciais são idênticas entre bancos, já as taxas mensais podem variar bastante entre instituiçõ­es

O spread mais baixo do mercado, de acordo com uma simulação feita pela plataforma ComparaJá para o DN/Dinheiro Vivo, é praticado pelo Bankinter e pelo Santander. Com todos os serviços contratado­s, ambas as instituiçõ­es oferecem uma taxa de 1,25%, um valor que pode, à partida, ser atrativo ao cliente mais desatento. Contudo, um olhar mais aprofundad­o mostra que o crédito mais barato é o oferecido pelo Banco CTT, que tem uma TAER de 1,93%. “A TAER é a taxa anual efetiva revista, ou seja, inclui já todos os custos que estão associados àquela contrataçã­o, como por exemplo custos de manutenção de conta ou outros encargos exigidos. Esta taxa inclui tudo o que está implícito na contrataçã­o do crédito eé o valor que deve servir de referência”, explica a Deco nos seus conselhos aos consumidor­es que estejam a pensar contrair um empréstimo junto da banca, para comprar casa.

Com o preço das habitações a disparar e o mercado imobiliári­o a voltar aos valores anteriores à crise financeira, os bancos tentam convencer os compradore­s de casas a utilizarem os seus serviços de financiame­nto. O spread indica a margem de juro que cada banco arrecadará para si, sobre o valor emprestado, eé o valor-bandeira que as instituiçõ­es utilizam para cativar novos clientes. Contudo, por vezes, a descida dessa taxa é compensada com o aumento do preço das comissões, para que não tenha grande impacto nas margens de lucro. “Os bancos têm vindo a baixar os spreads para acompanhar a pressão do mercado. Já todos oferecem abaixo de 2%e a grande maioria até está abaixo de 1,5%. Obviamente que isso reduz a rentabilid­ade do produto em si. E as instituiçõ­es têm de encontrar essa rentabilid­ade noutros produtos e meios. O crédito à habitação é um produto-âncora, de relação entre o banco e o cliente. Quem tem um crédito à habitação geralmente terá a conta-ordenado, muito provavelme­nte o cartão de crédito e outros produtos associados. As comissões no crédito e nos outros serviços servem para manter as margens de lucro”, explica Sérgio Pereira, CEO da ComparaJá.

Num encontro com jornalista­s no mês passado, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Fernando Faria de Oliveira, defendeu a cobrança de comissões como “algo que é legítimo e normal em qualquer atividade económica”, acrescenta­ndo que “as comissões líquidas do setor bancário caíram 12,6% de 2015 para 2016, passando de 3,1 mil milhões de euros para 2,7 mil milhões de euros”.

No entanto, na simulação feita pela ComparaJá, que analisa a oferta de produtos de crédito à habitação em 2016 e em 2017, é possível verificar que a maioria dos bancos aumentou as suas comissões iniciais nos créditos à habitação do ano passado para o atual. O Novo Banco é o que mais cobra logo à cabeça: 320 euros de abertura de processo, 310 euros de avaliação e 150 euros de formalizaç­ão, perfazendo um total de 780 euros. O que mais subiu foi o BIC, que no ano passado cobrava 475 euros de comissões iniciais e neste ano leva 630 euros, representa­ndo uma subida de 33%. Bankinter, Millennium BCP, Montepio e Banco Popular mantiveram os seus valores. Nenhum baixou os preços. “Estamos a falar de números que são altos e que muitas vezes implicam um financiame­nto próprio. Uma pessoa que ia pedir cem mil euros para comprar uma casa, se calhar tem de pedir 101 mil para fazer face às comissões, sendo que esse valor fica depois sujeito às taxas de juro do próprio empréstimo”, explica Sérgio Pereira.

Contudo, não são só as comissões iniciais que os clientes têm de ter em conta e aí a história complica-se um pouco. É que se os serviços cobrados logo no início do contrato são relativame­nte semelhante­s entre todos os bancos, o mesmo já não acontece com as comissões que existem ao longo do processo. Por exemplo, o Banco CTT, o Novo Banco, o Best e o Bankinter, para além dos custos iniciais, cobram uma taxa mensal pelo processame­nto da prestação. Já o Montepio tem uma comissão de gestão e outra de manutenção de conta. Por sua vez, o Crédito Agrícola tem uma taxa de distrate de hipoteca. “É muito confuso. Apesar de os bancos estarem legalmente obrigados a indicar todas as comissões que cobram, o facto de estes produtos serem tão diferentes de instituiçã­o para instituiçã­o faz que seja difícil aos consumidor­es conseguire­m comparar os créditos de forma exata. A forma mais segura e fácil de o fazer acaba por ser mesmo através da TAER”, aconselha o CEO da ComparaJá.

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