Diário de Notícias

Eutanásia e transparên­cia adiadas para depois do verão

Vários diplomas apresentad­os nesta sessão legislativ­a no Parlamento – ou até na anterior – deverão transitar para a próxima. Os deputados vão de férias no final de julho

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

O Parlamento encaminha-se para os últimos dias de mais uma sessão legislativ­a – a segunda da atual legislatur­a –e a aprovação final de diplomas acelera-se dramaticam­ente. Só no plenário de sexta-feira, por exemplo, o guião das votações tinha 24 páginas. O último plenário será a 19 de julho. E depois disso estão agendados seis dias de reuniões de comissões, até ao dia 28, reuniões para a redação final dos diplomas.

O que já se sabe é que um dos principais pacotes legislativ­os em discussão no Parlamento – o que levou à criação em abril de 2016 de uma comissão eventual para o reforço da transparên­cia no exercício de funções públicas, presidida pelo social-democrata Fernando Negrão – ficará para depois do verão.

Estão em causa muitos projetos de leis sobre tudo o que diz respeito ao exercício de funções públicas e políticas. Questões como controlo público de riqueza, regime de incompatib­ilidades e impediment­os, registo de interesses e prevenção de conflito de interesses, regime de responsabi­lidade e regulação do lobbying.

Fernando Negrão disse ao DN que a comissão vai entrar num processo de votação dos projetos alínea a alínea. Mas o tempo que falta para as férias parlamenta­res de verão não chega. O Parlamento reabre em meados de setembro mas deverá imediatame­nte suspender os trabalhos por causa das eleições autárquica­s (que são a 1 de outubro, havendo mais de 50 deputados candidatos às mais variadas funções autárquica­s. E depois, em 15 de outubro, chega o Orçamento do Estado para 2018, cuja discussão deverá prolongar-se até ao final de novembro.

Resumindo: na melhor das hipóteses, as novas leis da transparên­cia – que vão, por exemplo, apertar o regime de incompatib­ilidades a que os políticos estão sujeitos ou legislar, finalmente, sobre a penalizaçã­o do enriquecim­ento injustific­ado, só estarão aprovadas perto do final deste ano.

O que vai passar para depois do verão – e com toda a probabilid­ade –, para depois das autárquica­s, é a descrimina­lização da eutanásia. Já há um projeto do PAN, o Bloco de Esquerda tem andado pelo país a discutir um anteprojet­o – e nada está agendado. Por ora é muito difícil antecipar se se criará no Parlamento uma maioria que aprove uma lei sobre a eutanásia. O voto do PCP será decisivo. O mais certo é que, no caso de a lei ser aprovada, o Presidente da República a envie depois para o Tribunal Constituci­onal, para efeitos de verificaçã­o preventiva de constituci­onalidade.

Outro processo legislativ­o a ter de esperar pela próxima sessão legislativ­a é o relativo aos prazos internupci­ais (o intervalo obrigatóri­o definido por lei que deve mediar entre a dissolução de um casamento e a celebração de um novo). Atualmente o prazo para as mulheres é quase o dobro (300 dias) do que é para os homens (180) – algo que decorre de legislação aprovada há 40 anos (1977). O Bloco propõe que sejam 180 dias para ambos os sexos, por igual. Já o PAN defende que pura e simplesmen­te esse prazo não exista.

O mesmo destino – tudo o indica – terão os projetos que visam baixar as custas judiciais (cujo aumento foi congelado com o Orçamento do Estado em vigor). Está em causa uma resolução (efeito não vinculativ­o) do BE que “recomenda ao governo a redução das custas judicias” e ainda dois projeto de lei (efeito vinculativ­o, se aprovados): um do PAN, que torna “mais abrangente­s” as isenções de custas; e outro do PCP, que cria uma unidade de missão para revisão geral do regime legal. Foi por propostas dos comunistas que a evolução das custas ficou neste ano congelada.

O que deverá ser aprovado até ao final da sessão legislativ­a é a controvers­a lei dos metadados – ou seja, a lei que permitirá aos serviços de informação terem acesso legal a, por exemplo, faturação detalhada do telemóvel de um suspeito de terrorismo ou espionagem (para saberem com quem fala, quando e por quanto tempo). Estão dois diplomas em cima da mesa, um do CDS (mais antigo) e outro do governo (mais recente). A matéria é constituci­onalmente controvers­a, mas já haverá um entendimen­to com o Presidente da República para que este não suscite a intervençã­o do Tribunal Constituci­onal.

No próximo mês deverá também ser aprovada em versão final e global a revisão da Lei da Nacionalid­ade, que abre a porta a crianças filhas de estrangeir­os nascidas em Portugal.

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À medida que se aproxima o final do ano parlamenta­r, há cada vez mais votações no plenário. Na sexta-feira passada, o guião tinha 24 páginas

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