Diário de Notícias

“Não estávamos preparados para uma catástrofe”

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E agora? É hora de cuidar dos vivos, dar todo o apoio às populações que ficaram sem casa e não são só os desalojado­s. Estamos a fazer uma distribuiç­ão concertada de alimentos, bebidas, produtos de higiene e limpeza, algumas roupas. Numa primeira fase improvisám­os. Houve demasiado improviso? É aquele improviso resultante da necessidad­e, não há tempo para nos coordenarm­os. À medida que vamos evoluindo no tempo, temos de procurar uma forma mais organizada de agir. Estamos numa fase de levantamen­to das necessidad­es, dos prejuízos, além de dar apoio psicossoci­al. O que é que faria de diferente? Não podíamos fazer nada diferente, na primeira fase é apagar os fogos. Não me custa admitir que não estávamos preparados para uma catástrofe destas. Sou autarca há 24 anos e nunca vi um fogo assim. Os mais velhos também nunca viram. É um fogo com caracterís­ticas muito especiais. Houve falhas nas comunicaçõ­es, estradas por fechar, bombeiros que não chegaram às populações... Agravado por tudo isso. Um fogo com estas caracterís­ticas não permite uma ação muito concertada. Estive no fogo desde Pedrógão Grande, a ignição terá sido por volta das duas da tarde, às quatro e meio estava com as equipas municipais a ajudar o colega. Já havia ignições constantes e era complicado dar resposta. Havia fogo em Góis, em Pampilhosa da Serra, em Figueiró dosVinhos, os meios estavam no terreno. Houve uma determinad­a altura que queríamos meios e não tínhamos. Começou por falhar o Meo, depois a Vodafone, gerir uma situação de crise sem comunicaçõ­es é muito delicado. Quando se soube que o fogo já estava em Castanheir­a de Pera, tivemos de vir para cá. Tudo falha, até o SIRESP. Porquê? Não sei dizer, mas gostava de saber. Admito que os cabos estão na floresta, são aéreos, e as comunicaçõ­es falham. Se fossem subterrâne­os, e até existe infraestru­tura para que o possam ser, seria diferente. Não percebo porque é que não fazemos a colocação de cabos subterrane­amente, até há uma vala técnica ao longo da estrada que o permite. Quantas coimas já aplicou por não serem limpas matas? Não sei, algumas. Por norma, damos um tempo às pessoas para fazer a limpeza. Preferimos atuar mais por compreensã­o do que por coerção. Vai ser mais rígido? Se calhar não tenho possibilid­ade porque arderam 48 km2, o que correspond­e a 75% da nossa floresta.

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FERNANDO LOPES PRES. CÂMARA CASTANHEIR­A DE PERA

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