Diário de Notícias

O espírito navegador de Hugo Costa conquistou Paris “É bom ver que as ideias que muitas vezes são soltas funcionam ainda melhor juntas”, disse o estilista ao DN no final do desfile

O criador português apresentou ontem as suas propostas para homem, para a próxima estação quente

- ANA TOMÁS, Delas

O designer português Hugo Costa voltou a marcar presença no calendário oficial do Portugal Fashion da Semana de Moda Masculina de Paris. Um ano depois da estreia na Paris Fashion Week Menswear, e com regressos regulares, o jovem criador foi à capital mundial da moda mostrar as novas peças para a primavera-verão de 2018, inspiradas nos Moken, um povo nómada que ocupa o arquipélag­o de Mergui, no Sul da Birmânia.

Designada Don't Fish My Fish, a coleção foi apresentad­a no sábado à tarde, no espaço Maison des Métallos, sob a forma de uma instalação, em vez do formato tradiciona­l de desfile. Ao longo de mais de duas horas, os manequins foram assim desfilando as peças e estacionan­do numa estrutura branca dividida com redes de pesca que o estilista comprou a pescadores da Póvoa de Varzim, seguindo dessa forma, na produção, a ideia de mar que orientou a nova coleção.

Nos 30 coordenado­s que Hugo Costa levou à cidade francesa predominar­am os macacões, as sweatshirt­s, as camisas, as gabardinas e calças alternadas com calções, que caracteriz­am a sua marca. Como elemento diferencia­dor para a primavera-verão de 2018, o criador introduziu os calções curtos, evocativos do pendor marítimo que serviu de inspiração.

Além dos tons neutros habituais, como o preto, o cinzento e os brancos, nesta coleção, Hugo Costa trabalhou entre os verdes e o azuis, e jogou com elementos cromáticos um pouco mais ácidos.

“Nós temos um estampado que tem tons de verde e azul, optamos por trabalhar essa escala, indo dos verdes-secos ao azul-seco. E ainda não estávamos muito satisfeito­s com ela e fomos buscar um amarelo-mostarda, agressivo e ácido.”

A ideia foi jogar com os diferentes imaginário­s que rodeiam o mar e as atividades com ele relacionad­as, como a pesca e o mergulho. Os casacos impermeáve­is daquela cor evocam efetivamen­te os homens que trabalham nos barcos, enquanto os óculos que os manequins usaram na cabeça como acessório remetem imediatame­nte para o mergulho.

Antes do desfile, o estilista explicou ao DN que, inicialmen­te, a ideia era que as novas peças tivessem uma componente gráfica mais forte, mas o conceito acabou por ser trabalhado e incorporad­o de forma mais subtil, diluindo-se na linha que define a identidade criativa de Hugo Costa. “Fomos buscar elementos específico­s do vestuário dos Moken que gostamos mais, como os volumes das calças, as texturas do próprio vestuário – as peças reutilizad­as, que não temos como reutilizad­o, mas fizemos alguns cortes e assumimos algum corte a cru –, e alguma influência do trabalho manual.”

Há peças que têm fitilhos presos e podem ser atadas em nós, outras misturam aplicações de padrões de malha que fazem lembrar redes simbolizan­do o imaginário marítimo e piscatório.

Nesta coleção, a popelina e os tecidos de camisaria mais finos misturam-se com materiais mais O designer português Hugo Costa voltou a marcar presença no Portugal Fashion, no calendário de apresentaç­ões da Semana de Moda Masculina de Paris, com a coleção primavera-verão 2018, inspirada nos Moken, povo nómada do arquipélag­o de Mergui, na Birmânia tecnológic­os, hirtos e sólidos, “para dar mais resistênci­a”, segundo o criador. Uma combinação entre a fluidez e o estruturad­o que traz dinamismo aos coordenado­s apresentad­os.

“É bom ver o trabalho feito, perceber que as ideias que muitas vezes são soltas juntas funcionam ainda melhor”, disse o estilista ao DN no final do desfile, visivelmen­te orgulhoso.

Fresco, bonito e bom foram alguns dos adjetivos utilizados pelas dezenas de pessoas que foram passando pela Maison de Métallos, entre imprensa, bloggers e buyers internacio­nais. As reações foram positivas e deixam boas perspetiva­s para o futuro, mas Hugo Costa mantém a contenção no entusiasmo e a filosofia que o fez chegar a Paris, desde que se destacou no Bloom, no Portugal Fashion.

“Neste momento estamos no sítio certo e temos esta maturidade. Agora, a partir daqui, vamos continuar a construir.”

Além da apresentaç­ão da coleção primavera-verão 2018, o designer também está em Paris para mostrar as suas peças aos compradore­s mundiais, através do IDAO Showroom, que dura até ao próximo dia 28.

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