Diário de Notícias

REGRESSO ÀS AULAS

HÁ MEGA-AGRUPAMENT­OS COM MAIS POPULAÇÃO DO QUE MUITOS CONCELHOS

- PEDRO SOUSA TAVARES

É cada vez mais clara a tendência de concentraç­ão de alunos e recursos num grupo restrito de agrupament­os. O DN inicia hoje o retrato do novo ano letivo.

Os concursos de colocação de professore­s voltaram a evidenciar a tendência de concentraç­ão de alunos e recursos humanos num lote restrito de escolas – os chamados mega-agrupament­os –, cuja população escolar, incluindo alunos, docentes e funcionári­os, já é em certos casos igual ou superior ao número de habitantes de muitos concelhos e municípios do país.

De acordo com dados elaborados pelo blogue DeArLindo, nos concursos da mobilidade interna, que permitem a deslocação de professore­s dos quadros entre estabeleci­mentos de ensino, registaram-se 12 208 colocações, com 809 dos 811 agrupament­os existentes a registarem entradas. Mas a distribuiç­ão esteve longe de ser homogénea, com 40 agrupament­os a superarem as 30 colocações – o dobro da média nacional –, e três a atingirem 60 ou mais.

Em parte dos casos, explica ao DN Arlindo Ferreira, autor do blogue e diretor do Agrupament­o de Escolas Cego do Maio, da Póvoa de Varzim, estas entradas serviram para compensar outros professore­s que saíram do quadro. “Mas na maior parte das situações são novas entradas ditadas pela necessidad­e de colocar mais professore­s.”

E como é que estas escolas precisam de tantos professore­s numa altura em que tantas outras lidam com a falta de alunos? Fatores naturais, como a migração das populações do interior para o litoral, são uma explicação. Mas há também um claro contributo de medidas políticas, como a agregação de agrupament­os de escolas e, mais recentemen­te, os cortes nos contratos de associação com estabeleci­mentos do ensino particular e cooperativ­o.

Os três casos que atingiram ou excederam as 60 colocações são, claramente, mega-agrupament­os. Aliás, tendo em conta que o referencia­l para merecer esse título são dois mil alunos, provavelme­nte será necessário encontrar uma nova designação para os classifi- car. Com comunidade­s escolares, entre alunos, professore­s e funcionári­os, que chegam a rondar as 4500 pessoas, já superam a população de dezenas de concelhos ou municípios do país, de Cuba, no Alentejo, ao Corvo, nos Açores.

No Agrupament­o de Escolas Vergílio Ferreira, de Lisboa, o ano letivo vai arrancar com “4000 alunos e cerca de 350 professore­s”, segundo a subdiretor­a Luísa Santos. As 66 entradas de quadros são um caso raro – “só existe mais um no país”. Mas face a esta dimensão até “nem são uma percentage­m tão grande assim”, defende, explicando que – apesar de só estar em funções desde 2014 – a atual direção já se vai habituando a fazer gestão em larga escala de recursos humanos: “Todos os anos entra e sai muita gente”, acrescenta. “Que não é fácil, não é”, admite.

Entre 2012-13 e 2013-14, o agrupament­o absorveu as escolas dos entretanto extintos agrupament­os de Telheiras e de São Vicente de Telheiras, passando a englobar uma dezena de escolas, do jardim-de-infância ao secundário.

Igualmente complexa, segundo o diretor Carlos Teixeira, é a gestão do mega-agrupament­o Camilo Castelo Branco, de Famalicão, que soma 3771 alunos no presente ano letivo, superando os 300 docentes, incluindo os técnicos que lecionam os cursos profission­ais. “Tem de se gerir muito em delegação de competênci­as, ter as competênci­as bem afinadas e distribuíd­as. Tem de ser assim porque, de facto, não é fácil”, concorda.

Também com 66 professore­s de quadro integrados pela mobilidade interna, Carlos Teixeira garante que a integração destes profission­ais nem sequer é o maior desafio, até porque, diz, “nem todos” são professore­s novos no agrupament­o. “São quadros de zona pedagógica que no ano passado viram interrompi­da a sua continuida­de no agrupament­o. Muitos deles foram agora a concurso e voltaram à escola.”

O Agrupament­o de Escolas Padre Benjamim Salgado, que atingiu as 60 colocações na mobilidade interna, ocupando o terceiro lugar a esse nível no país, também é de Vila Nova de Famalicão. Um facto ao qual não é alheio o corte de muitos contratos de associação que o Ministério da Educação tinha com escolas privadas do concelho, que implicou o encaminham­ento dos alunos para a rede pública.

“Contribuiu um pouco, não podemos escamotear essa realidade”, confirma Carlos Teixeira. “Na zona onde está implementa­do o agrupament­o, as escolas públicas receberam mais alunos. A nossa e também as outras do concelho.”

 ??  ?? A Escola Secundária Vergílio Ferreira foi renovada no âmbito do Programa da Parque Escolar e a então ministra da Educação, Isabel Alçada, inaugurou em maio de 2011 as novas instalaçõe­s
A Escola Secundária Vergílio Ferreira foi renovada no âmbito do Programa da Parque Escolar e a então ministra da Educação, Isabel Alçada, inaugurou em maio de 2011 as novas instalaçõe­s
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal