REGRESSO ÀS AULAS
HÁ MEGA-AGRUPAMENTOS COM MAIS POPULAÇÃO DO QUE MUITOS CONCELHOS
É cada vez mais clara a tendência de concentração de alunos e recursos num grupo restrito de agrupamentos. O DN inicia hoje o retrato do novo ano letivo.
Os concursos de colocação de professores voltaram a evidenciar a tendência de concentração de alunos e recursos humanos num lote restrito de escolas – os chamados mega-agrupamentos –, cuja população escolar, incluindo alunos, docentes e funcionários, já é em certos casos igual ou superior ao número de habitantes de muitos concelhos e municípios do país.
De acordo com dados elaborados pelo blogue DeArLindo, nos concursos da mobilidade interna, que permitem a deslocação de professores dos quadros entre estabelecimentos de ensino, registaram-se 12 208 colocações, com 809 dos 811 agrupamentos existentes a registarem entradas. Mas a distribuição esteve longe de ser homogénea, com 40 agrupamentos a superarem as 30 colocações – o dobro da média nacional –, e três a atingirem 60 ou mais.
Em parte dos casos, explica ao DN Arlindo Ferreira, autor do blogue e diretor do Agrupamento de Escolas Cego do Maio, da Póvoa de Varzim, estas entradas serviram para compensar outros professores que saíram do quadro. “Mas na maior parte das situações são novas entradas ditadas pela necessidade de colocar mais professores.”
E como é que estas escolas precisam de tantos professores numa altura em que tantas outras lidam com a falta de alunos? Fatores naturais, como a migração das populações do interior para o litoral, são uma explicação. Mas há também um claro contributo de medidas políticas, como a agregação de agrupamentos de escolas e, mais recentemente, os cortes nos contratos de associação com estabelecimentos do ensino particular e cooperativo.
Os três casos que atingiram ou excederam as 60 colocações são, claramente, mega-agrupamentos. Aliás, tendo em conta que o referencial para merecer esse título são dois mil alunos, provavelmente será necessário encontrar uma nova designação para os classifi- car. Com comunidades escolares, entre alunos, professores e funcionários, que chegam a rondar as 4500 pessoas, já superam a população de dezenas de concelhos ou municípios do país, de Cuba, no Alentejo, ao Corvo, nos Açores.
No Agrupamento de Escolas Vergílio Ferreira, de Lisboa, o ano letivo vai arrancar com “4000 alunos e cerca de 350 professores”, segundo a subdiretora Luísa Santos. As 66 entradas de quadros são um caso raro – “só existe mais um no país”. Mas face a esta dimensão até “nem são uma percentagem tão grande assim”, defende, explicando que – apesar de só estar em funções desde 2014 – a atual direção já se vai habituando a fazer gestão em larga escala de recursos humanos: “Todos os anos entra e sai muita gente”, acrescenta. “Que não é fácil, não é”, admite.
Entre 2012-13 e 2013-14, o agrupamento absorveu as escolas dos entretanto extintos agrupamentos de Telheiras e de São Vicente de Telheiras, passando a englobar uma dezena de escolas, do jardim-de-infância ao secundário.
Igualmente complexa, segundo o diretor Carlos Teixeira, é a gestão do mega-agrupamento Camilo Castelo Branco, de Famalicão, que soma 3771 alunos no presente ano letivo, superando os 300 docentes, incluindo os técnicos que lecionam os cursos profissionais. “Tem de se gerir muito em delegação de competências, ter as competências bem afinadas e distribuídas. Tem de ser assim porque, de facto, não é fácil”, concorda.
Também com 66 professores de quadro integrados pela mobilidade interna, Carlos Teixeira garante que a integração destes profissionais nem sequer é o maior desafio, até porque, diz, “nem todos” são professores novos no agrupamento. “São quadros de zona pedagógica que no ano passado viram interrompida a sua continuidade no agrupamento. Muitos deles foram agora a concurso e voltaram à escola.”
O Agrupamento de Escolas Padre Benjamim Salgado, que atingiu as 60 colocações na mobilidade interna, ocupando o terceiro lugar a esse nível no país, também é de Vila Nova de Famalicão. Um facto ao qual não é alheio o corte de muitos contratos de associação que o Ministério da Educação tinha com escolas privadas do concelho, que implicou o encaminhamento dos alunos para a rede pública.
“Contribuiu um pouco, não podemos escamotear essa realidade”, confirma Carlos Teixeira. “Na zona onde está implementado o agrupamento, as escolas públicas receberam mais alunos. A nossa e também as outras do concelho.”