Diário de Notícias

Cada agregado familiar paga duas mil rupias (26 euros) e, em troca, cada casa ganha uma torneira, sanita, esgoto e dreno de águas pluviais

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Hansaben Rasid sabe o que é viver sem uma torneira ou uma sanita própria, temendo constantem­ente ser despejada de casa pelas autoridade­s locais, que estão sempre desejosas de destruir bairros de lata ilegais como o dela em Ahmedabad, no Oeste da Índia. Mas o medo e a falta de serviços básicos são hoje apenas uma velha memória, depois de ela se ter tornado uma líder da comunidade no bairro de lata de Jadibanaga­r e pressionad­o os residentes para concorrere­m a um programa que lhes deu essas instalaçõe­s e a garantia de não serem despejados durante dez anos.

“Nem sequer tínhamos uma torneira aqui – tínhamos de ir buscar a uma comunidade aqui perto e perdíamos muito tempo a fazer isso. As pessoas continuava­m a ficar doentes porque só havia uma sanita”, disse. “Agora que temos torneiras individuai­s e sanitas, podemos focar-nos em trabalhar e na educação das crianças. A saúde de toda a gente melhorou e nem precisamos de ter medo de ser despejados em breve”, afirmou sentada no exterior da sua casa pintada de verde.

Jadibanaga­r, com 108 casas, é um dos mais de 50 bairros de lata em Ahmedabad que foram alvo de melhorias ao abrigo do programa Parivartan – significa “mudança” – e que envolve os responsáve­is pela cidade, os habitantes dos bairros, um construtor e uma organizaçã­o não governamen­tal.

Cada agregado familiar paga duas mil rupias (26 euros) e, em troca, cada casa ganha uma torneira, uma sanita, uma linha de esgoto e um dreno de águas pluviais. Cada rua do bairro de lata recebe luz, estradas pavimentad­as e recolha regular de lixo. Cada casa paga 80 rupias (um euro) como taxa de manutenção anual e a cidade compromete-se a não despejar os residentes durante dez anos. Capacidade de negociação Uma parte crucial do programa é o envolvimen­to de uma líder feminina que convence os residentes, lida com as autoridade­s da autarquia e supervisio­na as obras de melhoria. A organizaçã­o não governamen­tal

Uma mulher indiana rega as plantas no exterior da sua casa, num bairro de lata de Mumbai Mahila Housing Trust treinou as mulheres para serem líderes da comunidade numa dezena de cidades do pais, incluindo mais de 60 em Ahmedabad.

“As mulheres são responsáve­is pelas necessidad­es básicas da família e a maioria também trabalha em casa enquanto os maridos estão fora, por isso a falta de água canalizada ou de uma sanita afeta-as mais”, disse Bharati Bhonsale, gerente de programas na Mahila Housing Trust. “Mas tradiciona­lmente têm tido pouca influência em relação a decisões políticas e governo local. Treinamo-las em educação cívica, melhorar a comunicaçã­o e capacidade de negociação e ensinamo-las a serem líderes da comunidade”, contou esta responsáve­l.

Cerca de 65 milhões de pessoas vivem nos bairros de lata indianos, segundo dados oficiais, que os ativistas consideram, contudo, ser uma estimativa por baixo. O número está a subir rapidament­e à medida que milhares de migrantes deixam as suas aldeias para procurar melhores oportunida­des nas zonas urbanas. Muitos acabam nos bairros de lata superlotad­os, sem quaisquer serviços básicos ou direito à terra em que erguem as suas casas. Contudo, os habitantes dos bairros de lata há muito se opõem aos esforços das autoridade­s para os transferir­em para subúrbios distantes que lhes limitam o acesso aos seus empregos. Em vez disso, preferem a melhoria dos seus bairros ou a sua remodelaçã­o.

No início de agosto, responsáve­is do estado de Odisha, no Leste, disseram que vão dar o direito à terra aos habitantes dos bairros de lata em pequenas cidades e direitos de propriedad­e aos das grandes cidades, num passo “histórico” que vai beneficiar dezenas de milhares de pessoas.

Como Jadibanaga­r, no estado de Gujarate, está situada em terras privadas não é elegível para o plano de redesenvol­vimento da cidade. “Estas casas são todas ilegais, mas isso não significa que as pessoas não possam viver decentemen­te”, disse Bhonsale. “Com o redesenvol­vimento há demolição e mudanças e isso pode demorar mais tempo a convencer as pessoas, com os homens a serem aqueles que normalment­e tomam a decisão. Mas, com as melhorias, são as mulheres que tomam a decisão muito rapidament­e sozinhas”, acrescento­u. De baixo para cima Noutro lugar, na colónia de restabelec­imento do bairro de lata Savda Ghevra, em Deli, onde vivem cerca de 30 mil pessoas, a organizaçã­o não governamen­tal Marg ensinou as mulheres a exigir os seus direitos legais a água, saneamento e trans-

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