Tempo da investigação a Tancos preocupa Marcelo
Presidente quer responsabilidades apuradas num curto espaço de tempo, depois de ter sido informado sobre processos disciplinares
O Presidente da República foi informado ontem sobre os processos disciplinares já instaurados pelo Exército na sequência das falhas de segurança registadas nos paióis de Tancos, soube ontem o DN. Marcelo Rebelo de Sousa não falou no final da visita ao Regimento de Paraquedistas – uma das cinco unidades responsáveis pela segurança dos paióis de Tancos, onde se descobriu em finais de junho que tinha desaparecido material de guerra – mas, já em Lisboa, mostrou-se preocupado com o tempo da investigação.
“Não só é importante apurar factos e eventuais responsabilidades como apurar num tempo que seja o mais curto possível, por um lado para o prestígio da instituição militar e por outro lado também para a própria atuação interna da instituição militar”, declarou o comandante supremo das Forças Armadas, citado pela Lusa.
“Estou atento, acompanho o que se passa e preocupa-me o tempo”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, durante a visita à associação Acreditar (de apoio a crianças e jovens com cancro). “O que considero hoje que há que dizer é que o tempo do apuramento, respeitando naturalmente a iniciativa das entidades de investigação criminal, é um tempo importante. É isso o que eu tenho a dizer neste momento, passados dois meses e uma semana”, reforçou, escusando-se a falar “sobre dados concretos” deste caso.
Um desses casos concretos foi a referida informação que foi dada ao comandante supremo das Forças Armadas pelo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Rovisco Duarte, que abriu os processos após a investigação realizada pelo Regimento de Engenharia n.º 1 ao furto de material (lança-granadas anticarro, explosivos, granadas de mão ofensivas, munições) nos paióis de Tancos.
À margem da visita presidencial aos paraquedistas e citado pela Lusa, o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira, adiantou que os nomes dos militares só serão divulgados no final do processo, “tal como aconteceu com o processo dos Comandos” (em que morreram dois recrutas no curso iniciado em setembro de 2016). Os militares envolvidos vão agora poder defender-se no âmbito dos processos, pelo que no final poderão ser ilibados.
Recorde-se que o furto em Tancos foi anunciado pelo próprio Exército no final de junho, depois de na véspera à tarde ter sido detetada a violação dos perímetros de segurança dos paióis de Tancos e o arrombamento de dois paiolins.
Vicente Pereira lembrou que o CEME mandou instaurar três inquéritos – ao funcionamento do sistema de videovigilância, à intrusão nas instalações e à gestão de cargas – e depois mandou suspender o reforço dos meios de vigilância previstos para o local, bem como transferir o armamento para outras unidades (mesmo que da Força Aérea e ou Marinha).
Também o ministro Azeredo Lopes, que acompanhou a visita do Presidente da República ao Regimento de Paraquedistas da Brigada de Reação Rápida, já recebeu os relatórios requeridos à Inspeção-Geral da Defesa Nacional e aos três ramos das Forças Armadas sobre o estado de segurança das instalações militares onde é guardado o material de guerra, disse fonte do ministério ao DN. O governante ainda não analisou os documentos, adiantou a mesma fonte.
Mantém-se assim em aberto apenas o inquérito a cargo do Ministério Público, com o apoio da PJ e da Polícia Judiciária Militar (com competência específica sobre crimes estritamente militares). Fontes já citadas pelo DN sob anonimato indicaram que “era tão fácil” entrar nos paióis de Tancos “que as possibilidades são imensas” quanto à autoria do furto.