Diário de Notícias

Presidente do Supremo quer menos presos

Magistrado quer saber porque Portugal tem das mais elevadas taxas de reclusão

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Henriques Gaspar quer juízes com sentido de missão

RUTE COELHO O presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) considerou ontem que é preciso refletir sobre os motivos de Portugal ter das mais elevadas taxas de reclusão na União Europeia (UE), apesar dos índices baixos de criminalid­ade. “Participem na reflexão, que é necessária, sobre os motivos que possam explicar que Portugal, país com índices baixos de criminalid­ade e seguro (posição privilegia­da no ranking), tenha das mais elevadas taxas de privação de liberdade por cem mil habitantes e de tempo de permanênci­a na prisão entre os países da UE”, disse António Henriques Gaspar.

O presidente do STJ e do Conselho Superior da Magistratu­ra dirigia-se aos 18 novos juízes de direito que tomaram posse no Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa.

No seu discurso, António Henriques Gaspar pediu também aos novos juízes para que “pensem sempre reflexivam­ente a consideraç­ão dos fins das penas e, sobretudo, a proporcion­alidade como regra de ação entre a exigência de tutela de bens jurídicos e a condição humana na determinaç­ão da pena”.

“A condição de juiz não deve ser assumida como uma profissão nem como uma ‘carreira’; bem diversamen­te, tem de ser sentida como o caminho que cada um assume como uma honra e missão para a vida, para cumprir em cada um e todos os dias a obrigação de justiça que devemos aos cidadãos”, afirmou ainda.

Na cerimónia estiveram presentes, entre outros, a secretária de Estado da Justiça, Anabela Pedroso, o bastonário da Ordem dos Advogados, Guilherme Figueiredo, presidente­s dos tribunais da Relação e magistrado­s.

A causa da diminuição do número de presos em Portugal – são cerca de 13 mil – é cara a António Henriques Gaspar. “Portugal é o terceiro país mais pacífico do mundo. Então por que razão temos uma taxa de presos (133,5) por cem mil habitantes superior à de Espanha e muito maior do que a da Holanda, da Suíça e da Alemanha?”, questionou o presidente do Supremo a 7 de junho, durante a conferênci­a “As prisões e o século XXI”, realizada na Gulbenkian.

O presidente do Supremo falou nessa conferênci­a de uma “explosão da população prisional” em todo o mundo. “Nos EUA, em 1970, havia 200 mil presos. Quarenta anos depois há 2,3 milhões. Na Europa, isto também é visível. E tudo num contexto de decréscimo da criminalid­ade”, sublinhou Henriques Gaspar. “Dos 15 países da União Europeia antes do alargament­o, somos o que tem mais presos por mil habitantes. Temos de refletir.” Ontem passou a reflexão aos novos juízes. Com Lusa

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