Diário de Notícias

Pré-escolar abre mais 70 salas mas ainda há crianças sem lugar

Educação. As turmas criadas para assegurar a universali­dade do pré-escolar a crianças de 4 anos não resolvem carências, sobretudo na Área Metropolit­ana de Lisboa. No Seixal, só um agrupament­o deixou cem de fora. Nível de ensino deve ser alargado aos 3 ano

- PEDRO SOUSA TAVARES

Depois de ter ampliado a rede do pré-escolar com uma centena de salas, em 2016-17, o Ministério da Educação confirmou ao DN novo reforço para o ano letivo que está prestes a arrancar. “Para responder à procura das famílias, foram neste ano criadas mais de 70 salas em pré-escolar – até 1750 lugares – a grande maioria na Região de Lisboa e Vale do Tejo”, informou o gabinete do ministro Tiago Brandão Rodrigues. Ainda assim, ao que o DN apurou, continuam a existir zonas onde a capacidade instalada está longe de responder à procura pelas famílias. Nomeadamen­te na Área Metropolit­ana de Lisboa.

Setenta salas correspond­em a um máximo de 1750 lugares, tendo em conta a lotação autorizada de 25 alunos por sala (20 quando existem estudantes com necessidad­es educativas especiais). Mais do que o próprio governo tinha previsto para este ano letivo.

Em julho, durante uma audição na Assembleia da República, a secretária de Estado adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, anunciou um reforço de 50 salas – tendo em vista o cumpriment­o da meta de assegurar a 100% a cobertura do pré-escolar aos 3 anos , precisando que os concelhos abrangidos seriam Almada, Seixal, Lisboa, Oeiras, Cascais e Sintra.

Mas, segundo contas feitas pelo DN em abril, a carência na Área Metropolit­ana de Lisboa chegaria aos três mil lugares. E de facto, de acordo com informaçõe­s recolhidas pelo nosso jornal, continuam a existir bolsas de carência de oferta. Nomeadamen­te nos municípios agora reforçados. E também casos em que é difícil de explicar como alguns alunos entraram numa escola e outros foram deslocados para estabeleci­mentos mais distantes das suas residência­s.

Em Lisboa, segundo Jorge Ascenção, da Confederaç­ão Nacional das Associaçõe­s de Pais (Confap), “confirma-se” que continuam a existir problemas, especialme­nte “em escolas mais procuradas”, nomeadamen­te “na zona do Oriente [Parque das Nações] e em Benfica”.

José Gonçalves, representa­nte na Confap da Associação de Pais da Escola Gonçalves Crespo, da Pontinha, confirmou que foram recebidas queixas relacionad­as com casos de alegadas moradas falsas.

“Um pai que mora ao lado do Parque das Nações ficou a saber que a filha não tem lugar na escola, mas denunciou que entretanto veio a saber que uma parte significat­iva das vagas tinham sido preenchida­s por pessoas que não eram de lá”, contou. “Em Benfica passou-se exatamente a mesma coisa”, acusou. “Os pais querem aquelas escolas e sabem que se os alunos entrarem no pré-escolar já não saem de lá”, acrescento­u, recordando o caso de um morador que chegou a abrir um anúncio no OLX “para se oferecer como encarregad­o de educação” de alunos. Mas além destas situações pon- tuais, acrescento­u, existem sinais “claros” de que a oferta pública é muito deficitári­a: “Em toda a Grande Lisboa há muitas IPSS [instituiçõ­es particular­es de solidaried­ade social]. havendo tantas IPSS, isso quer dizer que a oferta escolar oficial não existe. Dois mais dois são quatro”, concluiu, sublinhand­o que estas são IPSS “que os pais pagam” e não as parcerias que o governo chegou a admitir fazer com o setor.

No Seixal, segundo apurou o DN, também estão a registar-se dificuldad­es no acesso ao pré-escolar. Num dos agrupament­os do concelho ficaram sem lugar cerca de cem crianças, cuja admissão teria implicado a abertura de quatro salas adicionais. Não foi no entanto possível confirmar se estas crianças – ou a maioria delas – teriam 4 ou 3 anos. O DN contactou a vereadora municipal com o pelouro da Educação mas não foi possível ter respostas em tempo útil.

Crianças de 3 anos recusadas? Ao contrário dos 4 e 5 anos, a oferta universal de pré-escolar aos 3 anos, como recordou o Ministério da Educação na resposta enviada ao DN, “é um objetivo da atual legislatur­a”, que termina em 2019, pelo que não existe da parte da tutela uma obrigação formal de a assegurar já no próximo ano letivo. No entanto, a Federação Nacional dos Professore­s (Fenprof ), acusou no final do ano letivo o Ministério da Educação de estar a levar esta margem ao extremo de condiciona­r o acesso de crianças destas idades.

Uma acusação que a organizaçã­o sindical, referindo “denúncias de vários sítios”, mantém: “O Ministério da Educação terá dado ordem para que estes alunos – que ainda por cima estão previstos no despacho das matrículas – não integrasse­m as turmas, ficando estas esgotadas com as crianças de 4 e 5 anos”, disse ao DN Júlia Vale, da Fenprof, acrescenta­ndo que em alguns casos a recusa terá sido mantida mesmo depois de os agrupament­os terem dito que as matrículas não implicaria­m “uma nova sala, um educador ou um auxiliar”.

Questionad­o pelo DN, o ministério garantiu que “não existe nenhuma orientação para que as escolas, havendo vagas nos respetivos estabeleci­mentos (aferidas de acordo com as prioridade­s legalmente estabeleci­das), recusem a matrícula a alunos com 3 anos na educação pré-escolar”. E a denúncia também não foi confirmada pelos diretores ouvidos pelo DN.

 ??  ?? No ano passado o Ministério da Educação abriu uma centena de salas adicionais. Neste ano ficou-se pelas 75, ainda assim mais do que aquilo que estava previsto
No ano passado o Ministério da Educação abriu uma centena de salas adicionais. Neste ano ficou-se pelas 75, ainda assim mais do que aquilo que estava previsto
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal