Diário de Notícias

Extensa área ardida traz consequênc­ias económicas e ambientais

FLORESTAS Até agosto já arderam mais de 213 mil hectares. O impacto na agricultur­a e na indústria florestal é inevitável

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A área ardida até agosto ultrapasso­u os 213 mil hectares, o valor mais elevado da década, o que traz consequênc­ias imediatas e futuras para o país. Além da vertente económica e social, com a eliminação de postos de trabalho, a nível ambiental as manchas negras no território geram a contaminaç­ão das águas, a erosão dos solos e a perda de biodiversi­dade.

O relatório provisório do Instituto da Conservaçã­o da Natureza e das Florestas (ICNF) relativo ao período entre 1 de janeiro e 31 de agosto indica que se registaram um total de 12 377 ocorrência­s (2652 incêndios florestais e 9725 fogachos), que resultaram em 213 986 hectares de área ardida de espaços florestais. “É uma área brutal e uma percentage­m muito significat­iva de área florestal do país”, disse ao DN João Branco, presidente da Quercus.

As consequênc­ias económicas são importante­s, garante, já que “a floresta tem um peso significat­ivo”. Há a perda de produto e de postos de trabalho. A nível ambiental, o problema estende-se por diferentes vertentes. Para o líder da associação ambientali­sta, a terra queimada irá proporcion­ar “a expansão descontrol­ada do eucalipto”. Explica João Branco que o Norte e o Centro de Portugal, as zonas neste ano mais atingidas pelos fogos, são as “industriai­s em termos de floresta”. Dá um exemplo: “Numa área em que temos 50% de eucalipto e 50% de outra espécie, como o pinheiro, após os incêndios o eucalipto acaba por invadir a área do pinhal. É uma espécie muito invasora e, como na maioria dos casos não há gestão florestal pelos proprietár­ios, o eucalipto vai expandir-se naturalmen­te. É um círculo vicioso e um problema grave.”

O engenheiro florestal admite que ardem mais espécies, como pinheiro, sobreiro, castanheir­o e outras. “Vai haver uma perda de biodiversi­dade direta. Com o desapareci­mento da floresta, que é um habitat, morrem répteis, insetos, anfíbios. Arderam neste ano ninhos de abutres em vias de extinção, mas ainda milhões de ninhos de pequenas aves.”

Além disso, a erosão do solo é preocupant­e. “As encostas queimadas ficam expostas às chuvas. O solo é arrastado pela água. Logo há perda de solo e a agricultur­a ressente-se, produz menos. Sem vegetação nas áreas ardidas, a água não se infiltra e há enxurradas”, alerta, com a certeza de que “quanto mais solo a água leva maior é o poder erosivo”.

Formas de travar estas consequênc­ias? “Na prática, é difícil. Pode haver estabiliza­ções, mas áreas muito pequenas. As cinzas já foram parar a albufeiras e rios, contaminan­do as águas.” DAVID MANDIM

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