Diário de Notícias

Bruno, William e maradona

- FERREIRA FERNANDES

Houve na blogosfera portuguesa um tipo chamado maradona, assim, tudo em letras pequenas porque curvadas ao estilo próprio, luminoso. Quando se falar do que se escreveu bem em Portugal, digamos, entre 2008 e 2013, digo estes anos porque os segui lendo-o, ninguém será justo se não acrescenta­r ao Fulano e ao Sicrano, ao poeta e ao romancista, o maradona. Sobre futebol aprendi a ler com Nelson Rodrigues e Carlos Pinhão e li do maradona, um dia, um texto sobre o William de Carvalho. E mais uma vez, como tantas em Nelson Rodrigues e Carlos Pinhão, vi o fascínio que um herói com pernas certas pode exercer na escrita alheia. O fascínio eu conheço-o de mim próprio, garoto, enchendo os olhos com os deuses de um qualquer ASA-Atlético, no campo da minha aldeia, Coqueiros, Luanda. Ah, como eu gostaria ser o Caçador, o Dinis, o Jacinto João... Segredo meu, que confesso com prazer, por ser inveja legítima, isso de sonhar ser por um minuto que seja aquela estrela em calções... Poucas imagens repetidas me comovem sempre como essa da mão do miúdo que dá a mão ao futebolist­a a entrar em campo. O maradona teve um dia um deslumbram­ento desses – e foi por William de Carvalho. O maradona tinha o costume de apagar o que escrevia. Nunca percebi porque se escondiam aquelas pérolas, até hoje. Leio Bruno de Carvalho a dizer: “William deve-me a carreira.” Percebi maradona: apagava por piedade.Talvez Bruno de Carvalho nunca venha a saber quanto pequenino é.

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