“Se ficarem, vocês não vão sobreviver”: o aviso antes de o furacão chegar
Turistas passam cada vez mais tempo na cidade do outro lado da ponte. Crescimento do turismo em Lisboa ajudou a atrair visitantes e levou ao aumento da oferta hoteleira, em que se destacam os hostels. Surfistas vêm o ano inteiro
Taxa de ocupação subiu 30% na Costa de Caparica e já começa a ter turistas no ano inteiro Muitos dos proprietários dos hostels ainda não se dedicam a tempo inteiro à atividade. Requalificação de edifícios já existentes é uma das mais-valias desta atividade, destaca o presidente da junta
Dois rapazes de calções e tatuagens abrem a porta de uma vivenda com dois pisos e de saída está um casal com ar nórdico. Despedem-se com um “goodbye, we will be back next year” (“adeus, voltaremos no próximo ano”), o que começa já a ser uma frase habitual para Luís Vaz e Daniel Félix, os dois sócios doWavespot Surf House, um dos primeiros hostels da Costa de Caparica. O alojamento que gerem surgiu há cinco anos, “apenas fomos ultrapassados por outro hostel que abriu primeiro”, mas hoje a concorrência é cada vez maior. O que não incomoda os dois sócios de 40 anos. “Quantos mais hostels houver mais a Caparica fica no mapa”, acreditam.
A cidade deixou há uns anos – quatro, segundo o presidente da Junta de Freguesia da Costa de Caparica (ver entrevista na página ao lado) – de ser apenas o areal dos lisboetas e restantes habitantes da área metropolitana da capital. Agora são cada vez mais os turistas que escolhem a Costa para passar férias. Ou para surfar, nos meses de inverno. “Tem havido um crescimento na ordem dos 30% a nível de taxa de ocupação”, aponta José Ricardo Dias Martins. Notando-se já que “a filosofia de Costa todo o ano começa a ganhar força.” Já que há “operadores turísticos com uma ocupação para lá de outubro, o que quer dizer que há um alargamento daquilo que é a denominação da época balnear de junho a setembro, isso são bons sinais, tem que ver com tudo aquilo que foi a mudança das dinâmicas da Costa de Caparica”, defende o presidente da junta. E muitos dos turistas que por aqui passam optam por ficar em hostels. Uma oferta turística que também na Costa é especial. Por aqui a denominação hostel é aplicada a vivendas requalificadas que têm capacidade em média para menos de 20 pessoas. São espaços “onde a partilha é maior”, descreve o autarca local. Procura de ambiente familiar No hostel de Luís e Daniel essa procura pelo ambiente familiar e descontraído durante todo o ano já se nota. A casa – que era da avó da mulher de Luís, mas que ninguém na família quis ocupar ou vender – pode receber 16 pessoas divididas por um quarto de casal, um twin, um quádruplo e um dormitório para oito pessoas. Os preços variam entre os 20 e os 50 euros por noite. E os hóspedes podem usufruir de uma cozinha, uma sala, um terraço com barbecue, aluguer de pranchas para surf. Na porta da rua estão escritas todas as indicações de como abrir a porta ou contactar os proprietários.
Tudo simples e claramente virado para um público mais jovem. Embora os dois sócios garantam receber pessoas “dos 8 aos 80 anos, de todas as classes sociais”.
Quem frequenta a casa são maioritariamente espanhóis, mas também “eslovenos, holandeses e alemães”, enumera Daniel Félix. E se muitos vêm para “estadas de um dia (achamos que são pessoas que estão em Lisboa e aproveitam para vir passar um dia à praia), também temos já estadas de duas semanas e repetidas de um ano para o outro”, sublinha.
Daniel despediu-se recentemente, do local onde já estava há 17 anos, para ficar a tempo inteiro no hostel. Luís, que trabalha na área de engenharia e construção civil, ainda não o conseguiu fazer, mas não esconde que é esse o seu desejo: “Isto é o que me dá mais gozo fazer.” A forma animada e calorosa com que se despediram do casal de hóspedes espelha isso mesmo.