Diário de Notícias

Mário Quina (1930-2017). “Um grande senhor” do olimpismo nacional

Medalha de prata nos Jogos de 1960 morreu aos 87 anos. Desaparece “um grande desportist­a”, frisa o presidente do COP

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VELA “Quando chegou a altura de nos chamarem ao pódio, sentimos um arrepio como nunca sentíramos na nossa vida. A bandeira portuguesa foi arriada preguiçosa­mente, para momentos depois, ao som da marcha de continênci­a, subir de novo e ficar a tremular, altaneira, mais bonita do que nunca. Ao mesmo tempo, chegou às nossas mãos aquela rodela de prata que tem para nós o valor de todos os diamantes do mundo”: mais de 50 anos depois, Mário Gentil Quina ainda recordava com indisfarçá­vel emoção o momento em que, ao lado do irmão José Manuel, escreveu uma das páginas mais belas da história da vela nacional. O velejador – medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Roma 1960 – morreu anteontem, aos 83 anos.

O desporto nacional despede-se hoje (missa de corpo presente às 10.00, na Igreja da Boa-Nova, no Estoril, seguida de funeral para o cemitério local) de “um grande senhor” – como lhe chama o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantin­o. “É o desapareci­mento de um grande desportist­a, que dedicou parte significat­iva da sua vida à causa do olimpismo”, sublinha o dirigente, em declaraçõe­s ao DN

A carreira do velejador – que também se distinguiu como médico (especializ­ado em gastroente­rologia) e professor catedrátic­o da área – foi muito para lá daquele fim de verão de 1960 em que, ao lado do irmão José Manuel Quina, levou o barco Ma’Lindo ao 2.º lugar da classe Star nos Jogos de Roma. Mário Quina, nascido no Estoril a 1 de janeiro de 1930, apaixonou-se pela vela ainda na adolescênc­ia, participou em quatro edições dos Jogos Olímpicos – Helsínquia 1952 ( 17.º na classe Finn), Roma 1960, México 1968 (17.º, em Star, com José Quina) e Munique 1972 (21.º em Dragão, com Francisco Quina e Fernando Bello) –, e dedicou-se ao movimento olímpico até ao fim da vida. Entre 2012 e 2016 presidiu à Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal.

Mário Quina “procurava acompanhar a evolução do desporto com muito bom senso, sempre aberto ao que de novo ia acontecend­o. Fazia questão de estar presente nos eventos que se organizava­m. E foi sempre reconhecid­o pelas gerações mais novas, às quais queria transmitir sempre palavras de apoio e estímulo”, destaca José Manuel Constantin­o.

A mensagem seria de incentivo à superação, como é próprio de quem conseguiu concluir o curso de medicina ao mesmo tempo que competia entre a elite da vela mundial (também foi medalha de bronze, no Europeu da classe Star, em 1965, ao lado de Manuel Ricciardi) e de quem subiu ao Olimpo, em Roma, com um barco comprado a prestações – “quando o comprei, já se chamava Ma’Lindo. Teoricamen­te, era o mais lindo de todos. Achei piada ao nome e mantive-o”, recordou numa cerimónia de homenagem, em 2011. “A sua competênci­a e dedicação serviram para engrandece­r várias gerações de velejadore­s ao longo de décadas”, concluiu o presidente da Federação Portuguesa de Vela, António Roquette, em comunicado divulgado pelo organismo. RUI MARQUES SIMÕES

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