Diário de Notícias

Adeus lendário de Contador na consagraçã­o de Froome

Espanhol não podia ter uma despedida melhor: triunfou no Angliru, enquanto o britânico selou a conquista da Volta a Espanha

- RUI MARQUES SIMÕES

Desde Alberto Contador, em 2008, que ninguém conseguia conquistar duas das grandes voltas (Giro, Tour eVuelta) no mesmo ano. No dia em que Chris Froome ficou à beira de replicar essa façanha histórica, el pistolero voltou para lhe roubar o palco e garantir um adeus lendário ao ciclismo. O espanhol triunfou ontem no mítico alto de Angliru, meta da 20.ª e penúltima etapa, que deixou selada a vitória do britânico na Volta a Espanha.

Na hora de deixar o ciclismo – aos 34 anos e após múltiplos triunfos no Tour (ganhou as edições de 2007 e de 2009), no Giro (2008 e 2015) e na Vuelta (2008, 2012 e 2014) –, Alberto Contador (Trek-Segafredo) não podia ter uma despedida melhor. O último tiro do el pistolero, num dos palcos mais emblemátic­os da Volta a Espanha, teve o seu quê de apoteótico: incentivad­o por centenas de adeptos – até alguns com a bandeira portuguesa e camisolas da Académica e do Sporting – ao longo da temível subida ao topo de Angliru (1570 metros de altitude e até 23% de inclinação), o espanhol seguiu imperturbá­vel até à meta, após uma fuga triunfal iniciada na companhia do colombiano Jarlinson Pantano, seu colega de equipa.

“Podia imaginar mil despedidas diferentes, mas ganhar aqui é algo que fica para a história. Estou muito emocionado. Só posso agradecer a toda a gente: desfrutei desta Vuelta como se fosse um juvenil”, disse Contador, em lágrimas, após concluir os 117,5 quilómetro­s entre Corvera de Asturias e o topo do Angliru, com 17 segundos de avanço sobre o holandês Wout Poels (Sky). “Desde a manhã que sabia que este era o meu dia. Nesta vida há que saborear cada momento: fiquei em pele de galinha com o apoio do público e ao passar a meta pensei ‘objetivo cumprido’. Foi um mês de sonho, que nunca pensei que corresse tão bem”, disse o espanhol, que apenas tinha vencido no topo de Angliru em 2008.

Na verdade, as três semanas da Volta a Espanha – que hoje se conclui com 117,6 quilómetro­s entre Arroyomoli­nos e Madrid – não foram de sonho apenas para Alberto Contador, mas também para Chris Froome (Sky). O ciclista britânico, de 32 anos, nascido no Quénia, tem praticamen­te garantida a primeira conquista daVuelta, menos de dois meses depois de ter festejado pela quarta vez a vitória no Tour.

Ontem, escoltado por Poels até à meta, Froome consolidou a vantagem sobre os perseguido­res. Tem 2.15 minutos de vantagem sobre o italiano Vincenzo Nibali (Bahrain Mérida) e 2.51 de avanço sobre o russo Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin), que roubou o último lugar do pódio ao holandêsWi­lco Kelderman (Sunweb). Eé o virtual vencedora da prova – na qual Rui Costa continua a ser o melhor português da geral (caiu para 42.º, a 1:56.31 horas do líder, após ter sido 82.ª na etapa).

Neste milénio, só Contador (Giro e Vuelta, em 2008) tinha festejado a conquista de duas grandes voltas na mesma época. E apenas Jacques Anquetil (1963) e Bernard Hinault (1978) haviam celebrado em França e em Espanha no mesmo ano. Hoje, Froome poderá, por fim, concretiza­r a façanha que já tentara em 2015 e 2016, sem que Contador lhe volte a roubar o palco.

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El pistolero deu um último tiro no alto do Angliru e ganhou a penúltima etapa da Vuelta

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