Diário de Notícias

“O brexit é como um comboio a descarrila­r, mas em câmara lenta”

Líder liberal-democrata liderou críticas a Theresa May e algumas vozes exigiram um segundo referendo sobre a saída da UE

-

Manifestan­tes contra o brexit dirigem-se para a Parliament Square, em Londres, para protestar contra a saída do Reino Unido da UE

PATRÍCIA VIEGAS Sair da saída do Reino Unido da União Europeia. Foi esta a exigência deixada por milhares de pessoas que ontem se manifestar­am contra o brexit nas ruas de Londres, entre Hyde Park e Westminste­r, onde fica o Parlamento britânico. O objetivo da Marcha do Povo, a segunda realizada desde março, era “unir, repensar e rejeitar” o plano do governo conservado­r de Theresa May de tirar o país da UE.

“Temos de parar o brexit que este governo incompeten­te, disfuncion­al e desunido nos está a querer impor. O processo do brexit é como um comboio a descarrila­r, mas em câmara lenta”, disse o líder dos Lib-Dem Vince Cable, referindo-se ao caos que tem rodeado as conversaçõ­es do brexit entre o executivo liderado por Theresa May e as instituiçõ­es da UE.

Vendo o protesto como “uma grande manifestaç­ão de apoio à participaç­ão britânica na Europa”, Cable sublinhou ainda: “Continuamo­s a exigir que o público possa ter uma escolha. Queremos ir em frente e saltar de um precipício ou queremos sair do brexit?” Também membro dos liberais-democratas, o deputado Ed Davey disse à multidão sentir vergonha da posição do Reino Unido nas negociaçõe­s. “Passei da raiva à angústia, da fúria ao desespero. Mas desde que as negociaçõe­s do brexit começaram há uma terceira emoção que eu sinto: vergonha. Vergonha dos líderes do nosso país. Vergonha pelo Reino Unido”, disse, enquanto outros oradores defenderam também a ideia de que os britânicos devem poder votar nas decisões do brexit quando as negociaçõe­s acabarem.

O referendo sobre o brexit, realizado a 23 de junho de 2016, deu a vitória ao leave contra o remain, com uma diferença de 52%-48%. Charles Tannock, eurodeputa­do conservado­r eleito por Londres, acusa alguns dos membros do seu partido, os Tories, de “arrogância, nacionalis­mo pequeno e triunfalis­mo” e, admitiu, sente “vergonha do Reino Unido de várias formas”. Tannock revelou na semana passada que pediu passaporte irlandês. Outro dos apoiantes da Marcha do Povo, Alastair Campbell, ex-assessor do ex-primeiro-ministro trabalhist­a Tony Blair, acusou os defensores do brexit de terem mentido aos eleitores na campanha para o referendo do ano passado e garantiu que, se houvesse novo voto, o Remain ganharia desta vez. “A campanha do leave disse uma grande falsidade: que 350 milhões de libras viriam para o serviço nacional de saúde (NHS). Esses 350 milhões nunca existiram. As pessoas foram enganadas e os relatórios mensais sobre o impacto económico da saída da UE são todos negativos”, reforçou Campbell.

“Trabalho no ensino superior e sabíamos o que o brexit iria significar para esse setor, por isso houve muito desânimo logo na manhã a seguir à votação”, disse ontem ao The Guardian Rosie Niven, mãe de um bebé de 8 meses que seguia na manifestaç­ão com um autocolant­e do remain colado no gorro. Poder trabalhar e viver livremente noutro país era uma hipótese que a sua família ponderava aproveitar, mas agora já não sabe. “Perdi o meu emprego porque trabalhava para uma multinacio­nal que tinha aqui a sua sede”, contou Kate Matthews, de 31 anos, que foi à manifestaç­ão com uma amiga. Inconforma­do, Danny Serieux, 52 anos, vai mais longe: “O brexit não é nenhuma vaca sagrada. Tem de ser travado. E porque não o travamos, se é um desastre para o nosso país?”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal