Diário de Notícias

Já não há cavalos mas ainda se faz bons negócios na Feira da Luz

Procissão da Nossa Senhora da Luz, padroeira da freguesia, encerra as festividad­es, que incluem concertos, teatro e muito mais

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FILOMENA NAVES Há as tradiciona­is barracas de comes e bebes, as farturas e a ginjinha, e há o artesanato local, as louçarias e os panos, e mais todo o bricabraqu­e e os divertimen­tos que são a alma de uma festa popular. Mas a Feira da Luz, que até 24 de setembro é o centro da animação na freguesia lisboeta de Carnide, vai muito para lá disso, com um programa rico de atividades culturais, religiosas e outras, ligadas ao associativ­ismo local.

Com uma componente religiosa muito marcada – afinal a sua génese foi a romaria dedicada a Nossa Senhora da Luz, iniciada em 1464 –, a Feira da Luz “é uma das mais antigas do país, senão a mais antiga”, diz Fábio Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Carnide. Nesta altura do ano, “em que os festivais de verão já terminaram, esta acaba por ser uma das festividad­es mais significat­ivas em Lisboa”, sublinha o autarca.

O cariz religioso das festas adivinha-se na toponímia que aqui se encontra a cada passo. “Em Carnide tudo é Luz, por causa da santa padroeira da freguesia”, nota Fábio Sousa. “É a Estrada da Luz e a Azinhaga da Luz, é o Hospital da Luz, a Igreja da Luz...” Com a feira não podia ser diferente. Quando a romaria se iniciou, há 553 anos, depressa se lhe juntaram os vendedores de santinhos e medalhas, que passaram a marcar presença. Depois, gradualmen­te, vieram muitos outros: os que vendiam louça e fruta, os cesteiros e, por fim, os comerciant­es de gado.

Com o tempo, a venda de vacas e de cavalos tornou-se uma das atrações centrais da feira de fim de verão, que celebrava – e celebra – a sua santa, mas também a vida terrena, na sua abundância de fim de colheitas, atraindo gente de todo o lado. Tão importante se tornou que, em 1881, por decreto camarário – Carnide pertencia à Câmara de Belém –, a Feira da Luz passou de três para cinco dias. O mercado do gado fazia-se entre 8 e 11 de setembro e a procissão no último domingo do mês.

Durante todo o século XIX, feira e romaria ganharam mais feirantes e público. Este incluía tanto o povo como as famílias aristocrát­icas e os boémios. Conta-se que um desses boémios lisboetas foi o conde deVimioso, que se fazia acompanhar da Severa, a “mãe” do fado.

Ano-chave para a Feira da Luz foi 1929. “Em abril foi inaugurada a linha do elétrico entre os Restaurado­res a Carnide, o 13, facilitand­o o acesso à freguesia, e então passou a vir imensa gente de Lisboa”, conta Fábio Sousa. Foi também nessa altura que o calendário se alargou, do primeiro sábado de setembro até ao último domingo do mês.

Neste ano, as festas iniciaram-se a 26 de agosto e, como manda a tradição, terminam a 24, com a procissão dedicada à padroeira da freguesia. Até lá, há muita animação: concertos gratuitos para toda a família e para um público mais jovem – até esse dia vão atuar os Amor Eletro e Tiago Bettencour­t, entre outros –, eventos desportivo­s, um festival de tunas, ranchos folclórico­s, teatro de rua, lançamento de livros, cinema ao ar livre, e muito mais.

Organizada pela junta de freguesia, a feira reflete, afinal, a vivência cultural, associativ­a e de comunidade de Carnide. E agora, que os parquímetr­os da EMEL estão instalados e a funcionar – autarcas locais e população protagoniz­aram em abril um mediático protesto contra os parquímetr­os no centro histórico da freguesia –, a junta decidiu disponibil­izar durante este mês um espaço de estacionam­ento gratuito. “Tivemos de encontrar uma alternativ­a, porque recebemos muitos visitantes”, diz Fábio Sousa. Fica na Azinhaga das Carmelitas, ali muito próximo, e está devidament­e indicada. A Feira da Luz mantém a imagem de marca que já vem desde o século passado. Tal como a venda de louça, de todos os tamanhos e feitios e para todos os gostos. Nas duas imagens a preto e branco, captadas pelo repórter do DN em 1950, vê-se bem o cariz popular, e também a popularida­de, destas festas de setembro, em Lisboa. E os divertimen­tos não podem faltar. Muito concorrido, o carrossel lá estava, a pôr sorrisos nos lábios. Tradição que permanece no século XXI

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