Diário de Notícias

SOS Pequim

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TBERNARDO

PIRES DE LIMA erminei o último artigo argumentan­do que a existir uma solução para a Coreia do Norte ela está nas mãos da China, partindo do pressupost­o de que o roteiro não passa por um qualquer ataque preventivo ao aparelho militar de Pyongyang por parte da Coreia do Sul, do Japão ou dos EUA, nem que a cadência de testes não terminará num ataque desproposi­tado que inicie um conflito descontrol­ado. Com isto não digo que estas duas vias não possam acontecer, defendo é que são indesejáve­is. Posto isto, a China tem duas vantagens sobre todos os outros: exerce um domínio sobre a economia da Coreia do Norte (85% das suas trocas exteriores) e conhece como ninguém as suas capacidade­s militares. No entanto, tem visto a presidênci­a de Kim Jong-un conquistar margem decisional suficiente para ameaçar a região a um ritmo nunca visto, ou passar pelas sanções internacio­nais sem que o regime vergue ou trave as suas intenções nucleares.

Por outras palavras, a influência chinesa sobre Pyongyang está a ser contornada por um regime sem aliados alternativ­os e com uma postura de confrontaç­ão com os grandes atores do Nordeste Asiático. Ora, isto causa um enorme embaraço em Pequim, como prova a debandada na sua imprensa de todos os que ao longo de anos foram solidários com a dinastia Kim ou defendiam um apoio incondicio­nal face ao cerco americano na vizinhança chinesa. Hoje, vemos mais vozes de distanciam­ento e até defensores do endurecime­nto das sanções. Quer isto dizer que Pequim está mais próxima da grelha de decisões aparenteme­nte levantada em Seul, Tóquio e Washington (com as nuances conhecidas)? Não. Pequim está numa encruzilha­da e a Coreia do Norte continua, hoje com um grau mais elevado de alarme, a ser fundamenta­l no equilíbrio de poder regional disputado comWashing­ton.

A China não tem interesse nenhum num conflito incontrolá­vel criado por quem quer que seja. O tratado bilateral obriga-a ao auxílio a Pyongyang em caso de ataque externo, mas leva-a para o plano da decisão sob pressão no caso de uma investida militar ter origem no regime de Kim Jong-un. Em vésperas de congresso do PC chinês, definidor do próximo ciclo da administra­ção Xi Jinping, e em paralelo à megaoperaç­ão internacio­nal de charme económico-diplomátic­o como é a Nova Rota da Seda e do desejo assumido há dias de criar um BRICS plus (com novos membros, nomeadamen­te o México), Pequim quer sobretudo previsibil­idade na vizinhança. Mas não só. Quer garantir uma crescente perceção benevolent­e sobre as vantagens em criar laços de proximidad­e consigo nos termos que define; quer demonstrar que decide autonomame­nte o modo e o timing com que expande soberania marítima ou territoria­l disputada na região; e quer tirar benefício da menor confiança de vários aliados asiáticos com a América de Trump. O comportame­nto da Coreia do Norte inviabiliz­a todos os pontos deste roteiro: não traz previsibil­idade alguma, procura recusar a força e a influência chinesa aos olhos de terceiros, empurra a Coreia do Sul para uma indisputáv­el proteção americana e acelera o posicionam­ento

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