Diário de Notícias

AZEREDO LOPES “NÃO SEI SE ALGUÉM ENTROU EM TANCOS. NO LIMITE, PODE NÃO TER HAVIDO FURTO”

- PAULO TAVARES (DN) ANSELMO CRESPO (TSF)

Na primeira entrevista depois de ter recebido as conclusões dos inquéritos dos diversos ramos das Forças Armadas e da Inspeção-Geral da Defesa Nacional, encomendad­os no rescaldo do assalto a Tancos, o ministro da Defesa revela o que terá de mudar no sistema dos paióis nacionais: maior concentraç­ão de estruturas, reforço dos mecanismos de vigilância e segurança e sistema de inventário em tempo real. Azeredo Lopes reafirma a total confiança no chefe de Estado-Maior do Exército, mas deixa claro que não pode alargar essa confiança às restantes chefias do Exército, porque não é uma espécie de superchefe de estado-maior. Sem adiantar qualquer pormenor sobre a investigaç­ão criminal em curso ou sobre os processos disciplina­res entretanto instaurado­s no Exército, o ministro da Defesa aproveita para defender celeridade na investigaç­ão, para que não paire sobre este caso uma sensação de impunidade. Já recebeu, dos vários ramos militares, os resultados dos inquéritos e mais recentemen­te o relatório da Inspeção-Geral de Defesa Nacional. Que conclusões constam desses inquéritos? É possível retirar várias conclusões. Em primeiro lugar, foi pedido aos ramos que, através do relatório que lhes foi solicitado, estabelece­ssem o estado da arte da segurança das instalaçõe­s militares que tinham a seu cargo e esse trabalho foi entregue num prazo de 30 dias, que eu estabeleci e que foi cumprido por cada um dos ramos. Depois, numa abordagem de maior fôlego, e para prevenir e estabelece­r padrões futuros que evitassem a repetição de acontecime­ntos como aqueles que foram conhecidos a 28 de junho, foi pedido à Inspeção-Geral de Defesa Nacional que no prazo de 60 dias fizesse um varrimento mais inspetivo e menos estático sobre o estado de cada uma das instalaçõe­s militares, embora tenha sido feito apenas através das principais instalaçõe­s militares. Podemos agora discutir se é ou não necessário alargar ao conjunto das instalaçõe­s militares, e sobretudo que medidas inspetivas é que eram aconselháv­eis, caso se verificass­em situações que justificav­am modificaçã­o. Qual é o nível de segurança dessas instalaçõe­s? É razoável. Evidenteme­nte que cada um dos ramos, como medida de precaução, reforçou medidas de segurança por forma a que, independen­temente de medidas de maior fôlego que viessem a ser decididas, fosse garantido, nem que fosse através de mais recursos humanos, que não se repetiam situações como a que conhecemos. Situações de fragilidad­e semelhante­s à de Tancos? Não. Situações de fragilidad­e semelhante­s não foram verificada­s. Foram verificada­s situações em que se justificav­a reforçar a segurança. Podem dizer que depois da casa roubada trancas à porta. Mas eu nunca vi casa roubada em que não se justificas­se pôr trancas à porta. Como eu não sou de ficar sentado à espera de que não aconteça mais… Com certeza que os responsáve­is militares foram alertados para este caso, até pelo impacto mediático que teve, por sinal até desproporc­ional, a meu ver. A abordagem da inspeção-geral é algo diferente. É mais estrutural, é mais de curto e médio prazo, para que se possa, no fim, e dando-se por verificada a necessidad­e das medidas sugeridas, intervir de uma forma estável que previna no futuro, tanto quanto é possível prevenir, a ocorrência destas circunstân­cias. Compreenda que eu não possa dar pormenores muito completos, porque estamos a falar de uma matéria classifica­da como secreta. Não cabe a um ministro vir agora especifica­r em concreto onde é que foram detetadas fragilidad­es. A inspeção-geral detetou a necessidad­e de implementa­r melhorias em três dimensões fundamenta­is: na parte das infraestru­turas, isto é, vai ser preciso concentrar, portanto disseminar, menos material desta natureza, vai ser necessário, onde se verificar a instalação deste material, reforçar em termos de infraestru­turas com mecanismos de vigilância, sistemas, etc.; na parte dos sistemas de informação e de gestão de informação, onde se aponta para a vantagem de um sistema que seja comum aos três ramos. Isto significa a necessidad­e, de uma vez por todas, de haver um conhecimen­to instantâne­o, atualizado, de tudo o que está nos paióis para se evitar no futuro o que ocorreu em Tancos, em que foi definida a gravidade à luz daquilo que se conhecia no momento do furto. Depois foi aclarada uma maior gravidade quanto aos sistemas LAW (light anti-tank weapon), que se considerou que esse era um facto agravante em relação à natureza do material… Mísseis anticarro, para quem não sabe. Sim, mas isso é uma expressão demasiado espetacula­r, se me permite. Parece que estamos a falar de filmes do Rambo. A questão mais importante é, fosse eu da oposição ou do governo, ter-se verificado que esse material estava obsoleto, mas não. Isto criou mais uma estranha tempestade em que se insinuou que estava agora a hierarquia militar ou o ministro a diminuir a gravidade por verificar documental­mente que aquele

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