AZEREDO LOPES “NÃO SEI SE ALGUÉM ENTROU EM TANCOS. NO LIMITE, PODE NÃO TER HAVIDO FURTO”
Na primeira entrevista depois de ter recebido as conclusões dos inquéritos dos diversos ramos das Forças Armadas e da Inspeção-Geral da Defesa Nacional, encomendados no rescaldo do assalto a Tancos, o ministro da Defesa revela o que terá de mudar no sistema dos paióis nacionais: maior concentração de estruturas, reforço dos mecanismos de vigilância e segurança e sistema de inventário em tempo real. Azeredo Lopes reafirma a total confiança no chefe de Estado-Maior do Exército, mas deixa claro que não pode alargar essa confiança às restantes chefias do Exército, porque não é uma espécie de superchefe de estado-maior. Sem adiantar qualquer pormenor sobre a investigação criminal em curso ou sobre os processos disciplinares entretanto instaurados no Exército, o ministro da Defesa aproveita para defender celeridade na investigação, para que não paire sobre este caso uma sensação de impunidade. Já recebeu, dos vários ramos militares, os resultados dos inquéritos e mais recentemente o relatório da Inspeção-Geral de Defesa Nacional. Que conclusões constam desses inquéritos? É possível retirar várias conclusões. Em primeiro lugar, foi pedido aos ramos que, através do relatório que lhes foi solicitado, estabelecessem o estado da arte da segurança das instalações militares que tinham a seu cargo e esse trabalho foi entregue num prazo de 30 dias, que eu estabeleci e que foi cumprido por cada um dos ramos. Depois, numa abordagem de maior fôlego, e para prevenir e estabelecer padrões futuros que evitassem a repetição de acontecimentos como aqueles que foram conhecidos a 28 de junho, foi pedido à Inspeção-Geral de Defesa Nacional que no prazo de 60 dias fizesse um varrimento mais inspetivo e menos estático sobre o estado de cada uma das instalações militares, embora tenha sido feito apenas através das principais instalações militares. Podemos agora discutir se é ou não necessário alargar ao conjunto das instalações militares, e sobretudo que medidas inspetivas é que eram aconselháveis, caso se verificassem situações que justificavam modificação. Qual é o nível de segurança dessas instalações? É razoável. Evidentemente que cada um dos ramos, como medida de precaução, reforçou medidas de segurança por forma a que, independentemente de medidas de maior fôlego que viessem a ser decididas, fosse garantido, nem que fosse através de mais recursos humanos, que não se repetiam situações como a que conhecemos. Situações de fragilidade semelhantes à de Tancos? Não. Situações de fragilidade semelhantes não foram verificadas. Foram verificadas situações em que se justificava reforçar a segurança. Podem dizer que depois da casa roubada trancas à porta. Mas eu nunca vi casa roubada em que não se justificasse pôr trancas à porta. Como eu não sou de ficar sentado à espera de que não aconteça mais… Com certeza que os responsáveis militares foram alertados para este caso, até pelo impacto mediático que teve, por sinal até desproporcional, a meu ver. A abordagem da inspeção-geral é algo diferente. É mais estrutural, é mais de curto e médio prazo, para que se possa, no fim, e dando-se por verificada a necessidade das medidas sugeridas, intervir de uma forma estável que previna no futuro, tanto quanto é possível prevenir, a ocorrência destas circunstâncias. Compreenda que eu não possa dar pormenores muito completos, porque estamos a falar de uma matéria classificada como secreta. Não cabe a um ministro vir agora especificar em concreto onde é que foram detetadas fragilidades. A inspeção-geral detetou a necessidade de implementar melhorias em três dimensões fundamentais: na parte das infraestruturas, isto é, vai ser preciso concentrar, portanto disseminar, menos material desta natureza, vai ser necessário, onde se verificar a instalação deste material, reforçar em termos de infraestruturas com mecanismos de vigilância, sistemas, etc.; na parte dos sistemas de informação e de gestão de informação, onde se aponta para a vantagem de um sistema que seja comum aos três ramos. Isto significa a necessidade, de uma vez por todas, de haver um conhecimento instantâneo, atualizado, de tudo o que está nos paióis para se evitar no futuro o que ocorreu em Tancos, em que foi definida a gravidade à luz daquilo que se conhecia no momento do furto. Depois foi aclarada uma maior gravidade quanto aos sistemas LAW (light anti-tank weapon), que se considerou que esse era um facto agravante em relação à natureza do material… Mísseis anticarro, para quem não sabe. Sim, mas isso é uma expressão demasiado espetacular, se me permite. Parece que estamos a falar de filmes do Rambo. A questão mais importante é, fosse eu da oposição ou do governo, ter-se verificado que esse material estava obsoleto, mas não. Isto criou mais uma estranha tempestade em que se insinuou que estava agora a hierarquia militar ou o ministro a diminuir a gravidade por verificar documentalmente que aquele