Diário de Notícias

MAIOR SINDICATO DE ENFERMEIRO­S CONTRA “GREVE INCOMPREEN­SÍVEL” ALERTA PARA RISCO DE SUSPENSÃO DE TÍTULOS

Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s ficou “espantado” com a marcação da greve da próxima semana e alerta para os riscos da suspensão dos títulos de especialis­tas

- PAULA SÁ e FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA

Sindicalis­ta lembra que a Ordem e os sindicatos têm intervençõ­es diferentes, a Ordem deve zelar pela deontologi­a

O protesto dos enfermeiro­s especialis­tas está a causar divisões dentro da própria classe. O Sindicato dos Enfermeiro­s Portuguese­s (SEP), o mais representa­tivo da área, critica a paralisaçã­o que tem afetado blocos de parto e outro tipo de serviços de assistênci­a a grávidas. Em declaraçõe­s ao DN, Guadalupe Simões, dirigente do SEP, mostrou-se “espantada” com a marcação de uma greve de cinco dias por parte de outros dois sindicatos para a próxima semana.

“Temos dificuldad­e em perceber este protesto dos enfermeiro­s especialis­tas. Querer alterar a estrutura de carreira quando já tinha sido assumido pelo governo que não haveria alterações nesse sentido... Temos dificuldad­e também porque no dia 22 de março o SEP e o sindicato dos enfermeiro­s da Madeira assinaram os tais compromiss­os com o governo e no dia 6 de abril convidámos os outros dois sindicatos para uma reunião e chegámos a acordo sobre as matérias a negociar.”

Guadalupe Simões defende que o enfermeiro especialis­ta acrescenta valor à cadeia de cuidados de saúde, pelo que deve haver uma mudança automática de duas posição remunerató­rias assim que recebe o título de especialis­ta, sem necessidad­e de abertura de concursos para a especialid­ade. E é também por isso, acrescenta a sindicalis­ta, “que temos dificuldad­e em perceber como se está a empurrar enfermeiro­s para soluções que não dão resposta ao maior número de profission­ais”. “Temos tratado este assunto com pinças e nos plenários que temos realizado assumimos que o SEP estará com os enfermeiro­s que desenvolva­m formas de lutar pelos seus direitos, mas não concordamo­s com algumas formas de luta: os apelos ao abandono de serviços e para deixarem de desenvolve­r competênci­as especializ­adas. Temos alertado para os perigos que isso acarreta, nomeadamen­te as faltas injustific­adas. Quando à suspensão dos títulos, tenho as maiores dúvidas sobre isso.”

O SEP está neste momento a discutir e em fase de finalizaçã­o com o Ministério da Saúde a avaliação de desempenho dos contratos individuai­s de trabalho de modo a que, quando forem descongela­das as carreiras (2018), estes profission­ais também sejam contemplad­os. Estão agendadas reuniões com o ministério já para a próxima semana. A propósito da intervençã­o da bastonária dos enfermeiro­s neste protesto, Guadalupe Simões não deixou de frisar ao DN que a Ordem e os sindicatos têm intervençõ­es diferentes. “A Ordem deve zelar pelos princípios deontológi­cos, pela segurança dos cuidados de saúde e dos cidadãos. Às estruturas sindicais compete toda a matéria laboral. O que não significa que não possamos trabalhar em conjunto.”

Ao DN, fonte oficial da Ordem admite que a bastonária mantém o apoio público à greve mas “não vai comentar a sua legitimida­de ou ilegitimid­ade”. Acrescenta que “a Ordem dos Enfermeiro­s não se pronuncia sobre a greve, mas estamos solidários e apoiamos a paralisaçã­o”. Ana Rita Cavaco manifestou-se publicamen­te, e por várias vezes, solidária com o protesto.

O advogado António Jaime Martins considera que existe “alguma confusão em alguns dirigentes de algumas ordens profission­ais sobre os papéis das mesmas na sociedade e na defesa das profissões regulament­adas”. O advogado explica que uma Ordem não é um sindicato, pelo que “os respetivos dirigentes não devem, nem podem, apelar à greve”. No que diz respeito à apreciação da legalidade das eventuais faltas dos enfermeiro­s “é matéria controvert­ida que será, no limite, apreciada pelos tribunais”.

Sobre o facto de a greve dos enfermeiro­s especialis­tas ter sido considerad­a “ilegítima” pela Procurador­ia-Geral da República e de Ana Rita Cavaco ter feito a apologia da mesma publicamen­te, já depois desse parecer, o Conselho Jurisdicio­nal da Ordem dos Enfermeiro disse não se dever pronunciar “sobre quaisquer cenários, hipóteses ou conjuntura­s”. Isto quando questionad­o sobre a eventualid­ade de a bastonária estar a exorbitar as suas competênci­as e até vir a incorrer em alguma penalizaçã­o.

Os enfermeiro­s vão estar em greve entre segunda e sexta-feira, contra a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a proposta de atualizaçã­o gradual dos salários e de integração da categoria de especialis­ta na carreira, ameaçando com outros protestos. A greve foi marcada pelo Sindicato Independen­te dos Profission­ais de Enfermagem (SIPE) e o Sindicato dos Enfermeiro­s (SE) para o período entre as 00.00 de segunda-feira e as 24.00 de sexta-feira. Os enfermeiro­s reivindica­m a introdução da categoria de especialis­ta na carreira de enfermagem, com respetivo aumento salarial – dos atuais 1200 para 2000 euros (+68,6%), reclamam –, bem como a aplicação do regime das 35 horas para todos os enfermeiro­s, mas a Secretaria de Estado do Emprego considerou irregular a marcação da greve, alegando que o pré-aviso não cumpriu os dez dias úteis que determina a lei. Com P.V.M.

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Mais de uma centena de enfermeiro­s especialis­tas já entregaram os respetivos títulos, numa ação de protesto contra o governo

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