Diário de Notícias

Um bom exemplo

- PAULO TAVARES

Não é de todo um caso vulgar. O INOV Contacto, um projeto da AICEP que tem como objetivo colocar jovens portuguese­s a estagiar fora de Portugal – em empresas nacionais ou estrangeir­as –, é uma história de sucesso e longevidad­e. Nos últimos 20 anos, organizou mais de cinco mil estágios em 1100 entidades e 80 países diferentes, e foi reconhecid­o como um exemplo de “boa prática” pela Comissão Europeia e como um caso de estudo pela OCDE.

Seja qual for o ângulo a partir do qual olhemos para este projeto, ele não correspond­e à imagem que ainda fazemos do nosso país. Sobretudo porque estamos a falar de uma entidade pública, a AICEP, e, mesmo que a uma escala reduzida, de uma política pública. O que foge à regra e talvez seja o segredo do INOV Contacto é, antes de mais, a sua longevidad­e. Não sei ao certo por que razão, mas este programa conseguiu resistir a duas décadas de mudanças na liderança da AICEP. Que é o mesmo que dizer que resistiu a vinte anos e mudanças políticas, de novos governos e de novas estratégia­s para aquela agência. Outro segredo parece ser a eficácia do programa. Basta ler as histórias de vida dos antigos estagiário­s que falam hoje ao DN para perceber que aquela foi, para a maioria, uma experiênci­a decisiva nas suas vidas. Seis meses que lhes mudaram a vida. E isto – a resistênci­a à voragem de mudança de nove governos diferentes e a forma como causou impacto nos “beneficiár­ios” – não é dizer pouco de uma política pública.

A OCDE disse em 2008 que o INOV Contacto é um case study de melhores práticas. Eu iria um pouco mais longe. Este programa da AICEP é, de facto, um caso de estudo das melhores práticas, não só porque é uma boa ideia bem executada, mas acima de tudo porque pode servir de exemplo do que somos capazes de fazer enquanto comunidade. Basta que ganhemos novos hábitos e abandonemo­s velhos vícios políticos. Não tenho grandes dúvidas, por exemplo, de que teríamos um sistema de educação bastante mais eficaz se, nas últimas décadas, tivesse havido avaliação das decisões políticas e, já agora, alguma continuida­de nas políticas. O mínimo que se exige a um qualquer governo é que não deite fora, sem as avaliar, as políticas públicas desenhadas pelo anterior executivo. Não é o que temos visto e, neste campo, não há governos sem culpa.

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