Diário de Notícias

Jovens que nem trabalham nem estudam quase duplicaram desde 2000

Nem-nem. Apesar da diminuição do desemprego e do abandono escolar, OCDE revela que Portugal continua com problemas graves nos jovens entre os 15 e os 29 anos. Taxa passou de 11% para 20,8% em 2016.

- PEDRO SOUSA TAVARES

Em 2016, mais de um em cada cinco jovens portuguese­s dos 15 aos 29 anos (20,8%) não trabalhava­m nem estudavam. O indicador consta do relatório “Education at a Glance”, da OCDE, e pode ser considerad­o surpreende­nte a vários níveis.

Desde logo, por aparenteme­nte contrariar outros estudos sobre os “nem-nem” portuguese­s – ou NEET, de acordo com a terminolog­ia oficial – e outros indicadore­s recentes favoráveis relativos ao desemprego jovem e taxa de escolariza­ção. Mas também por colocar o país com a quinta taxa mais elevada da OCDE – apenas abaixo de Itália, México, Espanha, França e Grécia – e que representa quase o dobro dos valores nacionais no ano 2000, em que estes se situavam nos 11%.

A explicação aparente está nos adultos entre os 25 e os 29 anos, os quais – apesar de considerad­os neste relatório da OCDE – não costumam constar de outros indicadore­s relativos aos jovens. Nomeadamen­te no desemprego jovem, que abrange dos 15 aos 25 anos e já está abaixo dos 23%, em Portugal, depois de ter atingido um pico de 38% em 2013; ou dos mesmos NEET mas para a faixa etária dos 18 aos 24 anos.

Ainda no final de agosto, o Eurostat divulgou dados relativos aos jovens dos 18 aos 24 que não trabalham nem estudam em que Portugal surgia com uma taxa de 12%, em linha com a média da OCDE. No final de 2016, o país tinha mesmo chegado aos 11,5%, merecendo elogios da comissária europeia do emprego, Marianne Thyssen.

Afinal, mostram os dados da OCDE, Portugal continua com um problema muito sério de jovens sem ocupação. E não parecem restar dúvidas de que o foco está claramente centrado na faixa dos 24 aos 29 anos.

“Isso com certeza tem que ver com o alargament­o de classe etária que eles consideram [face às medições habituais até aos 24 anos]”, diz ao DN o sociólogo Elísio Estanque, confirmand­o que “todos os outros dados que temos tido são de redução do emprego e de sucesso escolar. A explicação seria um agravament­o rápido de desemprego a partir daqueles que terminam o estudo: Com 24 anos, a maioria dos jovens saíram da universida­de e dos institutos superiores”.

Portugal continua a ter uma das taxas de abandono escolar precoce – maiores de 24 anos que não concluíram o secundário nem estão a estudar – das mais altas da OCDE: 35% para uma média da OCDE de 21%. Mas a própria organizaçã­o elogia no estudo os progressos registados a esse nível, dando ênfase à aposta no profission­al e vocacional.

O próprio relatório da OCDE demonstra que a “causa” das elevadas percentage­ns de “nem-nem” não está do lado da educação. No mesmo período, entre 2000 e 2016, em que os jovens portuguese­s nessa situação passaram de 11% para 20,8%, a taxa dos que estavam a estudar cresceu dos 36,5% para os 43,3. A questão está na descida, nesse período, dos que estavam empregados, que passaram de 52,6% em 2000 para apenas 35,9% em 2016.

Mas como comprovar que é apenas uma pequena franja de jovens desemprega­dos – entre os 25 e os 29 anos – que está a ditar as preocupant­es médias nacionais? O DN confrontou, ao final da tarde de ontem, o Instituto do Emprego e Formação Profission­al (IEFP) com as conclusões da OCDE.

Apesar de não ter respondido às questões, por não ter tido tempo de analisar os métodos do estudo internacio­nal , este organismo enviou ao DN um quadro do Inquérito ao Emprego, do Instituto Nacional de Estatístic­a, com a distribuiç­ão, em três grupos etários, dos jovens dos 15 aos 34 anos que não estavam a estudar nem a trabalhar. Os dados, não sendo inteiramen­te esclareced­ores, deixam algumas pistas. No total, no segundo trimestre deste ano, existiam 241 900 nestas condições. Destes, quase 151 mil estavam na faixa etária dos 25 aos 34. Mais do dobro daqueles – entre os 20 e os 24 anos – que costumam ser citados quando se fala em “nem-nem”.

Elísio Estanque aponta algumas críticas ao método da OCDE. Nomeadamen­te o facto de “combinar dois grupos muito distintos: os 15 aos 24, a grande maioria dos quais a estudar, e os 24 aos 29”. No entanto, admite que, mesmo com estas ressalvas, “os números são preocupant­es. Numa altura em que a escolarida­de está a aumentar e o desemprego a descer, deixam-nos perplexos”, assume.

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