Mais de metade da população ativa não tem sequer o secundário
OCDE destaca altas taxas de abandono dos nossos alunos. Secretário de Estado diz que Portugal está a melhorar de forma sustentada
Mais de metade da população ativa portuguesa (53%) não tem o ensino secundário e apenas cerca de 60% dos alunos que entram nesse nível de ensino conseguem concluir os estudos sem atrasos significativos. Esta é uma das principais conclusões do Education at a Glance 2017, o relatório que analisa a educação nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
Tendo em conta dados de 2016, cerca de um terço (31%) dos jovens adultos entre os 25 e os 34 anos abandonaram o secundário, quase o dobro da média da OCDE. Para a organização este é mesmo um dos grandes desafios do nosso país: “Em primeiro lugar, assegurar o acesso à educação e depois assegurar que os estudantes completam os estudos.” E se o primeiro desafio parece assegurado, já que 96% dos alunos entre os 15 e os 17 anos estão no ensino secundário, apenas metade deles o conseguem concluir nos três anos previstos. De todos os países analisados, Portugal é mesmo o que apresenta a taxa mais alta de estudantes que deixam a escola sem concluir o secundário em cinco anos: 35%, quando a média da OCDE é de 21%.
Ainda assim, o relatório deixa algumas notas positivas em relação à progressão do país, quer ao nível do secundário – “se os padrões atuais se mantiverem, espera-se que quase 90% das crianças portugueses completem os estudos secundários em alguma altura da sua vida” – quer ao nível do ensino superior, onde, apesar de o nosso país apresentar um dos menores inves-
timentos públicos da OCDE, conseguiu, na faixa entre os 25 e os 34 anos, um crescimento de licenciados de 16% desde 2005. No total, cerca de um quarto da população ativa portuguesa tem um curso superior. Destaque pela positiva ainda para as taxas de cobertura do pré-escolar (ver caixa), com uma evolução entre 2005 e 2015 de 61% para 79% das crianças de 3 anos que frequentam esse nível de ensino, que é praticamente universal aos 5 anos (97%). “Orgulho no sistema” Em comentário ao relatório, o secretário de Estado da Educação defendeu ontem que os instrumentos internacionais de avaliação dos sistemas educativos revelam que Portugal tem feito um caminho sustentado de melhoria dos indicadores de sucesso. “Temos um sistema de que nos devemos orgulhar”, disse João Costa para uma plateia de professores da Escola Básica Francisco Arruda, em Lisboa, que se reuniram para debater a flexibilização curricular.
Apesar dos progressos que entende serem efetivos em 43 anos de escola democrática do país, João Costa considera que há ainda trabalho a desenvolver tal como refere o relatório da OCDE, que aponta, por exemplo, que metade dos alunos do ensino secundário reprovam pelo menos um ano ao longo deste nível de ensino.
O mesmo relatório, segundo o secretário de Estado, aponta também fragilidades na qualificação da população ativa, com uma taxa elevada de adultos que não concluíram nem o secundário nem o ensino básico, “com consequências para si e para os seus educandos”.
Para João Costa, a identificação destas áreas críticas permite “ter a segurança de que algumas políticas educativas em curso estão no sentido certo”, nomeadamente a qualificação da população ativa e o investimento na educação de adultos com o programa Qualifica, assim como a definição do perfil do aluno e a flexibilização curricular para que as escolas possam encontrar, em liberdade, estratégias mais adequadas aos seus alunos. PEDRO VILELA MARQUES com LUSA
Cerca de um terço (31%) dos jovens adultos portugueses, entre os 25 e os 34 anos, abandonaram o secundário