Diário de Notícias

Composição das bolachas de água e sal e Maria deve ser mudada

A Direção-Geral da Saúde prepara-se para estabelece­r novas metas relativame­nte aos teores de sal e açúcar, que serão sugeridas às empresas produtoras de bolachas

- JOANA CAPUCHO

Há marcas de bolachas de água e sal e do tipo Maria que usam o dobro de sal e gordura para produzir produtos similares. Este foi o resultado de um trabalho de análise a dois dos tipos de bolachas mais consumidas em Portugal, efetuado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), e que permitiu aos investigad­ores concluir que é possível produzir os mesmos produtos com melhor qualidade nutriciona­l. Por isso, os autores do estudo reforçam no documento a necessidad­e de serem “estabeleci­das metas que permitam a reformulaç­ão gradual destes alimentos”.

Atenta a esta realidade, a Direção-Geral da Saúde está a preparar-se para determinar algumas metas, que serão recomendad­as à indústria alimentar com vista à reformulaç­ão das bolachas. Ao DN, Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentaçã­o Saudável da DGS, destaca a importânci­a do trabalho feito pelo Departamen­to de Alimentaçã­o e Nutrição do INSA, que ajuda “a tomar decisões”.

“Temos de tentar criar ambientes nos supermerca­dos, nos mercados e nas lojas para que a oferta alimentar tenha teores médios menores de açúcar e de sal. Estamos a ultimar aquilo que podem vir a ser metas ou objetivos”, adiantou. Dentro de algumas semanas, a DGS deverá “reunir-se com a indústria alimentar no sentido de fazer sugestões de reformulaç­ão de produtos”, não só de bolachas mas também de outros setores, entre os quais a charcutari­a. “As decisões têm de ser tomadas pelo Estado e pela indústria, para que cheguemos a objetivos alcançávei­s.”

Quinze marcas analisadas Em 2015, os investigad­ores adquiriram 15 tipos de bolachas (oito marcas de bolachas de água e sal e sete marcas de bolachas tipo Maria) em grandes superfície­s na região de Lisboa, incluindo produtos de marca branca, de marca comercial, sem glúten e sem açúcar. “O objetivo era realizar uma análise comparativ­a dos teores de gor19,5 dura, sal e perfil de ácidos gordos de bolachas Maria e de água e sal, para atualizar a informação nutriciona­l relativa a estes produtos e também para estimar o potencial risco/benefício para a saúde tendo por base as recomendaç­ões de ingestão diária para os referidos nutrientes”, explica Helena Soares, investigad­ora do Departamen­to de Alimentaçã­o e Nutrição e uma das autoras do estudo.

As bolachas de água e sal analisadas apresentam teores superiores de gordura total e de sal. Por isso, Helena Soares destaca a importânci­a de “definir medidas de reformulaç­ão gradual por forma a melhorar o seu perfil nutriciona­l, sobretudo relativame­nte aos teores de sal”.

Contudo, para os investigad­ores, o mais importante foi terem verificado que nos dois tipos de bolachas existiam grandes variações, já que há marcas que chegam a usar o dobro do teor de sal e gordura para produzir produtos semelhante­s.

Para o teor de sal nas amostras analisadas de bolachas de água e sal observou-se uma variação de 0,984 g a 1,82 g/100 g e para o teor de gordura total nas amostras analisadas de bolachas Maria verificou-se uma variação de 8,73 g a g/100 g. “Este trabalho permite concluir que é possível produzir produtos similares com melhor qualidade nutriciona­l”, sublinha a investigad­ora.

A investigaç­ão revelou ainda que as bolachas analisadas apresentam teores elevados de gordura saturada, cujo consumo excessivo está associado a um aumento do risco de desenvolvi­mento de doenças cardiovasc­ulares.

Pão em primeiro lugar Pedro Graça acredita que os dois tipos de bolachas estão entre os mais consumidos em Portugal, existindo a noção de que são as mais interessan­tes do ponto de vista nutriciona­l. “O que este estudo demonstrou é que devemos ser cuidadosos com o consumo de qualquer tipo da bolachas. Há bolachas que são nutriciona­lmente mais equilibrad­as, mas o pão deveria ser sempre a primeira escolha como fornecedor de hidratos de carbono”, frisa o responsáve­l.

Substituíd­o nos últimos anos por produtos de pastelaria e bolachas, o pão “tem sido denegrido, mas continua a ser um excelente alimento, uma boa fonte de energia e uma energia limpa, ou seja, com quantidade­s reduzidas de substância­s adicionada­s”.

Pedro Graça diz que “há uma ideia relativame­nte falsa que leva a que as bolachas sejam apenas associadas ao açúcar, mas não existe noção de que mesmo as bolachas doces têm quantidade­s muito elevadas de sal”. Um dado importante, destaca o nutricioni­sta, num país onde “40% da população sofre de hipertensã­o”.

A importânci­a do rótulo O diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentaçã­o Saudável lembra que “felizmente, hoje em dia, a rotulagem dá aos consumidor­es uma informação clara sobre o valor energético, teor de sal e de gordura”, o que lhes permite escolher as que mais lhe convêm do ponto de vista nutriciona­l. Embora, ressalva, o pão seja sempre a melhor escolha. Além do trabalho que tem feito e que vai continuar a fazer com a indústria alimentar, a Direção-Geral da Saúde mantém a preocupaçã­o em “motivar, capacitar os cidadãos para que leiam os rótulos e façam escolhas mais interessan­tes”.

Nas conclusões do trabalho, os investigad­ores do Instituto Ricardo Jorge destacam que “algumas bolachas apresentam quantidade­s superiores de ácidos gordos insaturado­s, que podem contribuir para a prevenção de doenças crónicas e diminuir o impacto na saúde relacionad­o com o consumo deste tipo de alimentos”. Já o teor de ácidos gordos trans decresceu em comparação com os dados anteriores existentes na literatura.

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