Fosun mais perto de ter 30% do BCP ajuda a impulsionar ações do banco
O reforço de posição da Fosun no capital do BCP e um conjunto de notícias favoráveis levaram os títulos do banco a subir 4% em bolsa ontem. Analistas dizem que as ações estão baratas e muito atrativas
O reforço de posição da Fosun no capital do Millennium BCP pode marcar o início de um período de bonança para o banco, segundo os analistas. O grupo chinês assume-se como o maior acionista –e o mais influente – do banco, após aumentar a sua posição de 23,92% para 25,16% e está cada vez mais próximo de alcançar os 30%. A Fosun já tinha demonstrado o seu interesse em atingir esse patamar e tem autorização do supervisor para o fazer, tal como a angolana Sonangol, segundo maior acionista do BCP com 15,24%.
Ontem, as ações do banco subiram 4% em bolsa. Além do reforço da Fosun, tem surgido um conjunto de notícias favoráveis para o banco. Isto numa altura em que os analistas consideram que o preço das ações do banco está muito baixo e que o BCP vale bem mais do que a sua capitalização bolsista que se situa em 3173 milhões de euros. O banco tem estado pressionado em Bolsa e nos últimos três meses desvalorizou 11%.
“É uma notícia positiva na medida em que traduz o reforço de confiança do maior acionista do BCP no caso de investimento”, afirmou André Rodrigues, analista do Caixa-Banco de Investimento numa análise.
“Recorde-se que desde que apresentou a sua proposta inicial de investimento no BCP – julho de 2016 – a Fosun sinalizou a intenção de adquirir uma participação de até 30% no capital do banco, algo já aprovado inclusivamente pelas autoridades competentes”, lembrou.
O BCP anunciou anteontem, ao fim da tarde, que a Fosun, através da sua subsidiária Chiado, reforçou a posição no capital do banco de 23,92% para 25,16%. Também o Norges Bank aumentou a sua posição no banco de 2,541% para 2,544%.
Nuno Amado, presidente-executivo do BCP, afirmou, em declarações a agências noticiosas, que o reforço da Fosun está em linha com a estratégia do grupo chinês que já tinha sido anteriormente comunicado ao mercado. Segundo Amado, a aposta da Fosun é uma demonstração ao mercado de confiança no caminho seguido pelo BCP. E também espelha a performance económica e financeira do banco. Destacou o modelo de negócios robusto do BCP e uma redução de exposição ao crédito malparado.
O presidente-executivo do banco também sublinhou que este aumento de posição por parte da Fosun reflete a confiança dos investidores e reguladores na estratégia seguida pelo BCP.
Problemas no passado João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa, apontou que o BCP tem fatores positivos que o podem beneficiar. “O BCP já consegue gerar lucros e com a subida de taxas de juro por parte do Banco Central Europeu, a sua rentabilidade deverá aumentar”, afirmou. “O problema do capital está resolvido, a devolução dos CoCos ao Estado está feita e as taxas de juro baixas – que acabam sempre por penalizar o negócio da banca – já estão mais perto de começar a subir”, adiantou ao DN/DinheiroVivo. Para o diretor de investimentos do Carregosa, “com estes dados, o BCP já tem condições para começar a apresentar resultados positivos”. Lembrou que “recentemente o BCP negociava a 20% do valor do seu ativo líquido, o que não faz muito sentido”, sublinhou o diretor de investimentos. No entanto, apontou que uma parte do ativo do BCP diz respeito a créditos fiscais – impostos que não pagará quando gerar lucros. João Pereira Leite só encontra duas explicações para o banco estar a valer tão pouco em Bolsa: “Ou os acionistas acreditam que o banco vai destruir valor, dando prejuízos nos próximos anos; ou não acreditam nas contas – por exemplo, achando que o malparado pode ser maior.”
Solução para o malparado O facto de estar em marcha uma solução para o crédito malparado nos maiores bancos ajuda a afastar receios dos investidores. Uma plataforma para juntar algum do crédito malparado da Caixa Geral de Depósitos, BCP e Novo Banco deverá estar criada no início de 2018. “Este veículo deverá ser uma solução para a gestão conjunta do crédito malparado comum dos grandes bancos”, afirmou Carlos Peixoto, analista do Caixabank/BPI numa análise. “A criação do veículo em si não deverá permitir a retirada do crédito malparado dos balanços dos bancos mas pode criar condições para facilitar a venda desses créditos malparados”, adiantou.
O secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, afirmou anteontem que o Banco de Fomento e a Instituição Financeira de Desenvolvimento podem vir a ajudar empresas viáveis a obterem financiamento.
O facto de o BCP estar a disputar legalmente uma garantia do Fundo de Resolução, prevista no acordo de venda do Novo Banco à Lone Star, que pode ir até 3,89 mil milhões de euros, poderá afastar mais uma nuvem do futuro do banco.