Turquia compra mísseis russos e abre crise com NATO e UE
Responsáveis do Pentágono definiram como “preocupante” a concretização do negócio. Bruxelas e Washington consideram que compra põe em causa sanções a Moscovo
Mísseis S-400 na Praça Vermelha, em maio deste ano em Moscovo. Mísseis são considerados o sistema terra-ar mais sofisticado que existe
ABEL COELHO DE MORAIS O anúncio da compra da última geração de mísseis antiaéreos russos para equipar as forças armadas turcas está a provocar reações críticas junto de alguns Estados membros da NATO, antecipando-se ainda outras repercussões negativas.
O presidente Recep Tayyip Erdogan confirmou em Ancara já ter sido entregue parte da soma total de mais de dois mil milhões de euros para a compra de duas baterias do sistema S-400, a serem entregues em 2018, e para a posterior produção de mais duas baterias, a ser realizada na Turquia em cooperação com a Rússia. Cada bateria estará equipada com 120 mísseis e estações de radar.
O S-400 é considerado o sistema terra-ar de longo alcance mais sofisticado, podendo operar com diferentes tipos de mísseis; possui características técnicas e limites de ação mais amplos do que os da última geração dos Patriot, os PAC-3. Além de aeronaves, pode abater mísseis balísticos e drones.
Ainda antes de ter sido confirmado o negócio, o secretário da Defesa James Mattis e o chefe do Estado-Maior Interarmas dos EUA, general Joseph Dunford, tinham mostrado reservas à sua concretização. Para Dunford, seria “preocupante” enquanto Mattis suscitou a questão da “interoperacionalidade” dos S-400 com “o sistema da NATO”. Neste ponto, Ancara garantiu que seria introduzido no sistema russo o programa de identificação de amigo-inimigo com os parâmetros da Aliança Atlântica.
A aquisição dos S-400 pode explicar-se pela retirada dos Patriot dos EUA, Alemanha e Holanda de território turco em 2015, apenas permanecendo as baterias italianas e espanholas. Aquela retirada foi então muito criticada por Ancara, com o argumento de que os aliados da NATO não valorizaram a sua segurança no quadro da crise na Síria.
No final dos anos 90, a Grécia adquiriu baterias de mísseis S-300, o sistema antecessor do S-400, sem repercussões entre os aliados da NATO, à exceção da Turquia.
A aquisição dos S-400 estava ontem a ser considerada em Bruxelas e Washington como uma forma de minar o alcance das sanções da UE e dos EUA à Rússia pela anexação da Crimeia em 2014. E como nova fonte de tensões entre Ancara e a UE, os EUA e países aliados na NATO. A própria dimensão da aquisição – a mais importante até agora efetuada a um país fora da Aliança – sugere o reforço de uma estratégia de maior independência face à NATO, de acordo com a reformulação da política externa turca em curso.
Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, o social-democrata