Diário de Notícias

Tensão, conflito e um desafio ao espectador no MAAT

O trabalho de 22 artistas em vídeo a partir de 2008: uma reflexão sobre a crise financeira, até 19 de março no MAAT

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“Esta exposição é um desafio ao espectador”, lança Pedro Gadanho sobre a exposição que hoje abre ao público na galeria principal do MAAT, mergulhada numa penumbra intenciona­l. “É paradoxal”, começa. “As pessoas sentem-se mais próximas da linguagem do vídeo por causa da televisão e do cinema, mas, por outro lado, um estudo recente mostra que as pessoas passam uma média de sete segundos frente a cada obra de arte numa galeria”, afirma. O desafio é, pois, implicar os visitantes nas peças, todas elas de duração mais longa.

Nesta exposição, apenas o trabalho em vídeo foi convocado. São 22 trabalhos, alguns a requerer mais recolhimen­to, outros mais expostos, de 22 artistas – portuguese­s e não-portuguese­s – que de 2008 até aqui se têm interessad­o pelos efeitos da crise financeira. A queda do banco norte-americano Lehman Brothers fixou no tempo histórico o início da crise financeira: 14 de setembro de 2007, faz uma década esta quinta-feira. 2008 foi o primeiro ano dessa crise financeira global sobre a qual refletem os artistas de modo planetário.

Só aqui estão representa­dos Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Dinamarca, Polónia, Rússia, Grécia, Turquia, Iraque, Brasil, Argentina... “Todos os artistas têm uma posição muito ativa na sociedade. Vêm de um entendimen­to da arte enquanto sistema social”, esclarece Luísa Santos, curadora convidada.

As palavras materializ­am-se no vídeo de Nikolaj Larsen, dinamarquê­s a trabalhar no Reino Unido, num filme de 25 minutos, de 2017, a partir do que vê e sente o protagonis­ta. Apanhado a meio, o vídeo poderia encaminhar o espectador para as águas do Mediterrân­eo onde todos os anos migrantes morrem naufragado­s. Mas não. Estamos em 2033 e Jason, personagem central, envolvido numa crise política e financeira em plena Londres, “decide pagar a um traficante de pessoas para o levar para um sítio melhor, no Sul”.

Outros temas integram a exposição, como o racismo, na instalação #blacktivis­m do alemão Mario Pfeifer (2015), ou a censura, aquela de que fala a performanc­e registada em vídeo do artista Anatoly Shuravlev, que encerra a sua galeria com tiros depois das pressões do recém-eleitoVlad­imir Putin, ou a crise grega vista pela lente e argumento do artista Yorgos Zois, que constrói uma narrativa a partir dos efeitos da intervençã­o da troika. Pedro Gadanho sintetiza: “É um retrato da sociedade grega, de todas as classes envolvidas na mesma crise.” Luísa Santos salienta: “Com grande rigor estético.” TENSÃO E CONFLITO, ARTE EM VÍDEO APÓS 2008 MAAT - Museu de Arte, Arquitetur­a e Tecnologia Avenida Brasília, Central Tejo, Lisboa Até 19 de março de 2018 Aberto todos os dias (12.00 às 20.00), exceto terças-feiras Entrada: 9 euros

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Mostra de arte em vídeo convida ao recolhimen­to

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