Diário de Notícias

Santa Angelina Jolie ovacionada em Toronto

Filme de Angelina Jolie é um testemunho forte do espírito de sobrevivên­cia

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O Camboja pelos olhos de uma criança RUI PEDRO TENDINHA, em Toronto O que fazer quando se é a maior estrela de cinema do mundo e a mais famosa das ativistas pelos direitos humanos? Que tal uma excentrici­dade tipo um épico filme de guerra sobre a guerra no Camboja visto pelos olhos de uma criança? Angelina Jolie, com a ajuda do cineasta cambojano Rithy Panh, não teve medo e foi para o “seu” Camboja filmar aquilo que não pode ser esquecido. O resultado é First They Killed My Father – A Daughter of Cambodia Remembers e foi anteontem estreado no TIFF com uma receção espantosa: casa cheia a aplaudir de pé e muitas lágrimas no público. Um triunfo para Jolie, que apresentou o filme dizendo que o fez para podermos amar um extraordin­ário país e povo.

Filmado inteiramen­te sob o ponto de vista das memórias de Loung Ung, uma ativista que durante a infância experiment­ou na pele os horrores da opressão dos Khmer Rouge, a história acompanha a sua saga na selva depois de ser evacuada da cidade. Um conto de sobrevivên­cia que, para Jolie, serve para exemplo de esperança.

No caderno de méritos do filme importa referir que a câmara de Jolie mantém sempre uma modulação de luto perante todo aquele teatro de horrores, sobretudo na descrição de uma infância roubada e da aniquilaçã­o de uma família. Depois, mérito ainda maior, nunca se esquece que o ponto de vista é o da menina: a morte ali tão perto nos olhos de alguém que perde a infância e que quer sobreviver. Nota-se também que a cineasta de Invencível (como ela melhorou...) está perdida de amores pelos elementos orgânicos dos lugares e da selva. Filma os insetos, as ervas, os animais com uma inocência que cruza a referência a Malick: sim, há sequências em que a menina dá festinhas a plantas em slow-motion. O que é extraordin­ário no seu trabalho é o respeito que tem pelas personagen­s. No final da sessão dizia: “Fiz este filme para e com o Camboja. É um filme sobre a família e quero que as pessoas tirem alguma coisa desta menina, daquele pai e daquela mãe. E que olhem para o Camboja com um sorriso.” Sim, First They Killed My Father é sobre esperança. Não podemos é ter esperança de o ver nos cinemas: a Netflix lança-o em streaming na próxima sexta-feira.

Outro dos acontecime­ntos de Toronto foi The Disaster Artist, de James Franco, lançado com imenso mediatismo depois do hype do Festival South By Southwest. É a obra-prima de Franco como realizador e um dos seus melhores papéis. Mais uma história verdadeira neste festival, esta a de Tommy Wiseau, realizador do cult movie The Room, considerad­o por muitos a mais divertida comédia involuntár­ia da história de Hollywood.

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