Diário de Notícias

O ESTADO DA UNIÃO

Estado da União. Presidente da Comissão Europeia defende alargament­o aos Balcãs. Por outro lado, a Turquia está cada vez mais longe

- ANA MEIRELES

JEAN-CLAUDE JUNCKER

UMA VELOCIDADE, UM PRESIDENTE, UMA MOEDA

ANTÓNIO COSTA AO DN:

“É ESSENCIAL REFORMAR E COMPLETAR A ZONA EURO”

O presidente da Comissão Europeia usou ontem o discurso do estado da União para mostrar qual é a sua visão para o futuro da Europa, cada vez mais unida, e passando uma mensagem de otimismo sobro o momento que agora se vive. Foram 70 minutos, em inglês, francês e alemão, que no final deram direito a que Jean-Claude Juncker recebesse uma ovação de pé de quem estava no Parlamento Europeu. “Dez anos desde que a crise nos atingiu, a Europa está finalmente a recuperar. E, com ela, a nossa confiança. Os nossos 27 líderes, o Parlamento e a Comissão estão devolver a Europa na nossa União. Juntos, estamos a devolver a Europa à nossa União”, afirmou o luxemburgu­ês.

“Quando olhamos para este discurso vemos uma forma de olhar para o futuro, para 2025, para aquilo que Juncker gostaria que a Europa fosse nessa data”, disse ao DN Ana Isabel Xavier, professora e investigad­ora do Centro de Estudos Internacio­nais do Instituto Universitá­rio de Lisboa (CEI-IUL). “O que Juncker pretende dizer é que a Europa deve permanecer unida do ponto de vista institucio­nal e que com esta União Europeia e com estes tratados é possível proceder a alterações em benefício da União, a favor de uma lógica supranacio­nal e em detrimento de uma gestão em que os Estados mais fortes sejam quem efetivamen­te manda na União Europeia”, sublinhou Filipe Vasconcelo­s Romão, professor de Relações Internacio­nais na UAL e no ISCTE.

Governo Liderado por um só presidente

“A Europa funcionari­a melhor se fundíssemo­s os presidente­s da Comissão Europeia e do Conselho Europeu. (…) A Europa seria mais fácil de entender se um capitão estivesse ao leme do navio. (…) Ter apenas um presidente refletiria melhor a verdadeira natureza da nossa União Europeia, tanto como uma união de Estados como uma união de cidadãos.” Esta é a proposta apresentad­a ontem por Jean-Claude Juncker, que pretende assim acabar com o cargo de presidente do Conselho Europeu, mas passá-la à prática não será fácil.

“A ideia de Juncker, na sua essência, não é negativa. A ideia é desburocra­tizar a União Europeia e fazer que os assuntos que, de alguma forma, dizem respeito ao futuro da Europa não estejam tão deslocaliz­ados, e que era importante haver uma figura que centraliza­sse os assuntos de tal forma que não parecesse existirem vozes dissonante­s”, referiu Ana Isabel Xavier. “A ser implementa­da precisa desde logo de uma revisão dos tratados, porque vai alterar o funcioname­nto das próprias instituiçõ­es comunitári­as. Para haver uma reformulaç­ão dos tratados é preciso haver aprovação de todos os Estados membros da União Europeia, mas já há vozes dissidente­s em relação a essa matéria”, prosseguiu a académica.

Euro Superminis­tro e uma moeda única

A ideia de existir uma espécie de superminis­tro das Finanças e Economia não é nova, mas Juncker voltou ontem a apresentá-la, defendendo que este cargo deve ser ocupado pelo vice-presidente da Comissão com esta pasta, que também passará a presidir ao Eurogrupo. A par disso, e na sua cruzada por uma Europa a uma velocidade, o luxemburgu­ês disse querer que o euro “seja mais do que a moeda de um grupo selecionad­o de países”, mas sim a moeda de todos os Estados membros.

“Essa proposta do ministro das Finanças e da Economia europeu é um aspeto que é tangível, é algo que é possível num prazo relativame­nte curto”, declara ao DN Filipe Vasconcelo­s Romão, que mostra uma visão diferente no que diz respeito ao euro para todos. “Acho que esta é a componente mais utópica e mais provocatór­ia do discurso do Juncker. Continua a haver muitas reticência­s por parte dos Estados, mesmo os que estão dentro da zona euro, quanto mais os que não estão, em relação à moeda única.”

Schengen Menos fronteiras e mais países

“Se queremos fortalecer a proteção das nossas fronteiras externas então temos de abrir o espaço Schengen à Bulgária e à Roménia imediatame­nte. Deveríamos também permitir que a Croácia se torne um membro pleno de Schengen assim que cumpra todos os critérios”, declarou o presidente da Comissão Europeia, que referiu que o bloco deve manter uma perspetiva de alargament­o aos países dos Balcãs.

Para a professora e investigad­ora do Centro de Estudos Internacio­nais, “esse alargament­o a leste tem de exigir a esses Estados que venham a aderir que façam a sua adesão em pleno, ou seja, não podemos continuar a ter Estados que tenham cláusulas de exceção, como se existissem Estados membros de primeira e de segunda”.

Comércio Novas acordos na mira

Jean-Claude Juncker anunciou ainda a intenção de abrir negociaçõe­s comerciais com a Austrália e com a Nova Zelândia, sublinhand­o que “parceiros por todo o mundo começaram a fazer fila à nossa porta para concluir acordos comerciais connosco”, mas deixando claro que a Europa defenderá sempre “os seus interesses estratégic­os”.

Na opinião deste professor de Relações Internacio­nais na UAL e no ISCTE, esta linha de pensamento é uma forma de “tentar aproveitar a oportunida­de, que é muito negativa em vários aspetos, da presidênci­a de Donald Trump, do protecioni­smo à economia norte-americana e de algum receio de que os parceiros comerciais estão a ter, demonstran­do que há aqui um espaço europeu com um potencial grande do ponto de vista comercial”.

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