Diário de Notícias

Taxa de IRS cai quatro pontos para rendimento­s até 12 mil euros Proposta do governo prevê 150 milhões para a revisão dos escalões e 80 milhões para o mínimo de existência. Novo escalão até 12 mil euros com taxa de 24,5% agora e 22,5% em 2019

- SUSETE FRANCISCO

A proposta que o governo pôs em cima da mesa nas negociaçõe­s para o Orçamento do Estado de 2018 prevê a criação de um novo escalão de IRS, entre os sete e os 12 mil euros de rendimento coletável, que ficará abrangido por uma taxa de 24,5% – quatro pontos percentuai­s abaixo da taxa de 28,5% que é aplicada atualmente a estes contribuin­tes. A medida entrará em vigor com o Orçamento de 2018, que preverá nova baixa para este escalão, mas a concretiza­r-se apenas no Orçamento para 2019: a taxa ficará então nos 22,5%.

Esta mudança resulta do desdobrame­nto do atual segundo escalão do IRS, que engloba o rendimento coletável entre os sete e os 20 mil euros. O objetivo é que este escalão se divida em dois, com a parte inferior a beneficiar da redução da taxa. Já o patamar superior, dos 12 mil aos 20 mil euros, manterá a taxa atual de 28,5%. A criação de um novo escalão e a redução da taxa não terão efeitos sobre os escalões superiores do IRS: o governo já garantiu que vai avançar com uma solução que trave benefícios aos escalões mais altos.

Ao que o DN apurou junto de fontes próximas deste processo, as contas do governo apontam nesta altura para uma dotação de 230 milhões de euros para as alterações ao IRS no próximo ano – um valor ligeiramen­te superior aos 200 milhões previstos por Mário Centeno no Programa de Estabilida­de. Deste total, 150 milhões serão afetos à referida revisão do segundo escalão, enquanto os 80 milhões restantes se destinam ao aumento do mínimo de existência. Atualmente este mínimo está nos 8500 euros e deverá subir, no próximo ano, para os 8850. O mínimo de existência é uma espécie de rendimento líquido mínimo assegurado ao contribuin­te, após cobrança de IRS. De acordo com simulações da PwC avançadas pelo Jornal de Negócios, esta alteração vai beneficiar contribuin­tes com salários mensais entre os 607 e os 669 euros (rendimento­s anuais entre os 8500 e os 9362 euros). E terá implicaçõe­s também na margem inferior do segundo escalão do IRS – os referidos sete mil euros – que deverá ter o valor aumentado.

A intenção do governo, já concretiza­da nas negociaçõe­s, é que a revisão do IRS se estenda para lá deste orçamento, abarcando já o próximo ano. Ou seja, as futuras alterações ficam inscritas no documento que está agora a ser preparado, mas só serão efetivadas com o orçamento para 2019. O executivo até já tem um montante estipulado para o próximo ano, de valor equivalent­e ao previsto para 2018 – 320 milhões de euros. Pelo menos parte deste valor será direcionad­a para a nova baixa da taxa no escalão que vai agora ser criado. Tensão à vista com BE e PCP A proposta que o governo levou para as negociaçõe­s está longe de se aproximar das exigências dos parceiros da esquerda. Os atuais cinco escalões passam a seis, quando o PCP está a exigir dez. E os 230 milhões que o executivo destinou a estas medidas estão a léguas dos 600 milhões que têm sido apontados pelo Bloco de Esquerda como necessário­s a uma alteração efetiva e que resulte numa maior progressiv­idade do imposto. Na última terça-feira, a deputada bloquista Mariana Mortágua sublinhava, no Jornal de Notícias , que os 200 milhões que o governo tem avançado não cumprem aqueles objetivos. E mais 30 milhões também não. “Só o desdobrame­nto do segundo e terceiro escalões custaria 440 milhões”, sublinhava a deputada, lembrando que “as alterações ao IRS estão inscritas nos vários acordos que sustentam a atual governação” e que a sua “prioridade é incontestá­vel”. No fim de semana, a líder do partido, Catarina Martins, defendeu, em entrevista ao Expresso, a criação de dois escalões novos que “abrangesse­m os rendimento­s de quem paga até 30 mil euros”. O IRS prepara-se, portanto, para se transforma­r no grande embate nas negociaçõe­s entre o executivo e os partidos à sua esquerda.

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Mário Centeno deu mais 30 milhões para a revisão do IRS, muito longe das exigências da esquerda

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