Diário de Notícias

Miguel Castelo Branco: “Antes de Alqueva o acesso à agua era caro e incerto”

- ANA MARIA RAMOS e CARLA AGUIAR

À frente da Herdade Paço do Conde, em Baleizão, Miguel Castelo Branco dá continuida­de a uma empresa familiar iniciada pelos avós, que fez a transição da agricultur­a tradiciona­l de sequeiro para o olival, a vinha e os frutos secos, a mais recente aventura. Já exporta mais de metade do que produz.

Como se conta a história da Herdade Paço do Conde?

Eu e os meus irmãos descendemo­s de várias gerações de empresário­s agrícolas e estamos a continuar. Até 1988 dedicávamo-nos à tradiciona­l agricultur­a de sequeiro alentejana. Depois desenvolve­mos o processo de transforma­ção do grupo de 12 sociedades, iniciado pelo meu pai. No olival temos um lagar próprio com capacidade para transforma­ção de 2,5 milhões de quilos de azeitona. Vendemos com marca própria Paço do Conde e também exportamos, sobretudo para Espanha e Itália. As propriedad­es foram abrangidas pela reforma agrária... Claro. Ficaram ocupadas desde o dia 5 de agosto de 1975 até a última propriedad­e ser recuperada, em 1986, através dos tribunais. Como é a atividade nos vinhos? Temos vinhas na região de Baleizão e na Vidigueira e uma adega onde transforma­mos 1,5 milhões de quilos de uva. Temos um projeto para atingir 2,5 milhões em 2018. Qual é o peso das exportaçõe­s? Exportamos mais de 50% da nossa produção. O Canadá é o nosso principal destino, mas também Brasil, Europa, China e Angola. Temos várias marcas que temos estado a desenvolve­r. A par destas duas atividades que implicaram a transforma­ção de 1500 hectares de olivais com as técnicas mais modernas e cerca de 200 hectares de vinha, construímo­s um lagar e uma adega que permite transforma­r os nossos produtos e também prestar serviços a terceiros. Mas também se dedicam a outras culturas... Este grupo de propriedad­es faz ainda hortícolas, melão, meloa, cebola, alho, papoila para fármacos, milho e forragens. Temos também efetivo pecuário, cerca de mil vacas. Vamos arrancar com um projeto para a criação de animais de uma determinad­a raça para um cliente específico. Como é que o acesso à água de Alqueva potenciou o negócio? Desde 1986-87 que nos antecipámo­s a Alqueva fazendo barragens, bombando do Guadiana e procurando fazer a transição do sequeiro para o regadio, contando com o apoio de fundos comunitári­os. Fizemos oito barragens. A chegada da água à nossa zona, Baleizão, em 2015, foi ótima pois regularizo­u um bem que era escasso e caro. Apesar de não ser barata a água da EDIA, a situação é incomparav­elmente melhor. O acesso à agua era

MIGUEL CASTELO BRANCO

CEO DA HERDADE PAÇO DO CONDE

sempre muito incerto, dependia das chuvas. Quer dar um exemplo do quão marcante foi? Tínhamos feito um investimen­to muito grande em equipament­os muito falíveis, com elevados custos de energia elétrica e a incerteza permanente de ter ou não ter água na barragem. Diria mesmo que nos dois últimos anos teríamos tido problemas sérios, pois praticamen­te não choveu. É uma riqueza enorme termos água disponível com custos bastante inferiores aos que suportava para regar deficiente­mente. Diz que o preço não é barato. A EDIA está a cobrar demasiado pela água? Como empresário é normal que diga que não é barato, até porque noutras regiões o custo é inferior. Mas também é normal que uma infraestru­tura que foi paga por todo o país seja também paga por aqueles que a utilizam. Qual é o preço de referência? Cinco cêntimos por metro cúbico. Qual o volume de negócios e como se distribui pelas diversas áreas? Temos um volume de negócios superior a dez milhões de euros. O setor do azeite representa à volta de 40%, o agrícola outros 40% e os vinhos significam 20%. Como estão a evoluir as exportaçõe­s de azeite? Além de Espanha e Itália há perspetiva­s de abertura de outros mercados? Temos alavancado as vendas do azeite nos mercados onde o nosso departamen­to comercial desenvolve as vendas dos vinhos. O azeite engarrafad­o representa entre 10% e 15% do nosso valor de faturação e o restante é a granel, para exportação. A quase totalidade, 90% do azeite a granel, é vendida para Espanha e Itália. Estão satisfeito­s com essa posição de mercado ou querem subir? A nossa perspetiva é a de vender mais azeite engarrafad­o. Mas neste momento não é fácil fazer um preço atrativo nas grandes superfície­s com um produto de alta qualidade em concorrênc­ia com grandes engarrafad­ores que praticam preços muito competitiv­os. Em face do preço elevado que é pago pelo azeite a granel, é mais atrativa a venda neste mercado. O preço do azeite está em alta... O azeite é uma commodity adquirida em bolsa. Está em alta devido à seca em Portugal e na Espanha e também devido a problemas sanitários em Itália. Por outro lado, os preços resultam ainda de baixas produções em países produtores como a Turquia, a Grécia e outros países do Magrebe. Como tem evoluído o preço? Neste ano já houve vários preços. Já esteve a 1,30 euros e está quase em quatro. Apesar do cresciment­o de consumo de óleos, o preço do azeite tem conseguido manter-se e as vendas a subir. E quais são os principais mercados dos vinhos?

“Depois de Alqueva não há qualquer comparação, nem nos custos nem nos proveitos das exploraçõe­s agrícolas, apesar de a água não ser barata”

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