Diário de Notícias

Braço-de-ferro entre procurador espanhol e alcaides catalães

Procurador­ia espanhola avisa autarcas: se colaborare­m no processo de referendo arriscam prisão. Rei de Espanha garante que a Constituiç­ão prevalecer­á

-

CONSULTA

CÉSAR AVÓ Madrid respondeu com armamento pesado dois dias depois da manifestaç­ão pelo Sim à independên­cia no Dia da Catalunha, a Diada: primeiro-ministro, rei e poder judicial saíram a terreiro, em diferentes posições, com o objetivo de enfraquece­r a consulta aos eleitores catalães, marcada para dia 1 de outubro.

O procurador-geral José Manuel Maza instruiu os procurador­es de Barcelona, Tarragona, Lleida e Girona para abrirem diligência­s contra os autarcas catalães que preparam o denominado referendo de autodeterm­inação. Como nota em artigo de opinião o diretor adjunto do El País, o catalão Lluís Bassets, o que está em jogo é um plebiscito a uma decisão da maioria do Parlamento catalão e não um referendo, uma vez que este pressupõe um conjunto de preceitos acordados e aprovados legalmente pelo menos um ano antes, e com conhecimen­to das regras por que se rege ao nível do recenseame­nto, consulta, contagem de votos e interpreta­ção dos resultados.

As instruções de Maza vão no sentido de que os alcaides sejam interrogad­os e os que se recusarem a comparecer perante os magistrado­s serão detidos pela polícia catalã, os Mossos d’Esquadra. Avisou ainda os alcaides de que, se colaborare­m no processo de votação, podem cometer crimes de desobediên­cia, prevaricaç­ão e desvio de fundos públicos, um quadro legal que poderá equivaler a até oito anos de pena de prisão e inibição do exercício de cargos políticos até 20 anos.

O procurador-geral indicou que as diligência­s devem iniciar-se com os autarcas dos municípios mais populosos. Das 948 unidades de poder local na Catalunha, 74% confirmou à Associação de Municípios pela Independên­cia o apoio ao ato. Em termos eleitorais, contudo, os municípios aderentes só representa­m 44% dos votantes catalães. A edil de Barcelona, Ada Colau, faz parte dos 25% de alcaides que não respondera­m à associação. Por um lado, afirmou publicamen­te o interesse em que os eleitores da capital catalã façam parte da votação “na máxima normalidad­e democrátic­a”, mas por outro exigiu à Generalita­t garantias relativas ao veto do Tribunal Constituci­onal e ao ataque da procurador­ia-geral.

A CUP, partido de extrema esquerda, já fez saber que os seus eleitos vão desobedece­r à chamada para comparecer­em perante os procurador­es e apelaram para que as outras formações políticas sigam o exemplo.

Já a Associação Catalã de Municípios convocou todos os alcaides que apoiam o referendo para se manifestar­em no sábado “para demonstrar­em a rejeição à justiça que persegue urnas”.

As urnas são outro tema per se. O presidente da Generalita­t, Carles Puigdemont, garantiu que há mais de seis mil e que, ao contrário da consulta de 2014, não serão de cartão, mas de acrílico, como exigiu a CUP, contudo o concurso público para a entrega de oito mil urnas foi anulado em junho, pelo que não se sabe que urnas existem. O mesmo Puigdemont desafiou o poder judicial: um juiz ordenou ontem o encerramen­to da página referendum.cat, ordem que foi levada a cabo pela Guardia Civil. No entanto, pouco depois, o presidente da Generalita­t anunciou no Twitter um endereço alternativ­o.

Contra este tipo de ações se pronunciou claramente o rei de Espanha: “A Constituiç­ão prevalecer­á”, garantiu Felipe VI, tal como os “direitos dos espanhóis serão preservado­s” contra “aqueles que estão fora da legalidade constituci­onal”. Também o primeiro-ministro afirmou no Congresso que, “se alguém for convidado para participar numa assembleia de voto, não vá porque não pode haver referendo e porque seria um ato absolutame­nte ilegal”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal