Poiares Maduro dirige duras críticas ao presidente da FIFA
Português que fez parte do Comité de Governação da FIFA acusa Infantino de interferir em decisões do órgão
DAVID PEREIRA Quatro meses após ter sido demitido do Comité de Governação da FIFA, Miguel Poiares Maduro acusou o presidente Gianni Infantino de interferir em decisões do órgão. O dirigente português, antigo ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional (entre 2013 e 2015), disse que o suíço tentou desbloquear a reeleição do vice-primeiro-ministro russo, Vitaly Mutko, como membro do Conselho da FIFA, porque temia pela própria sobrevivência como líder do organismo que tutela o futebol mundial.
Numa audição inserida numa série de inquéritos da Comissão de Cultura, Media e Desporto da Câmara dos Comuns – câmara baixa do Parlamento do Reino Unido – sobre a forma como funciona a FIFA, Poiares Maduro disse que a secretária-geral do organismo, Fatma Samoura, argumentou que ao impedir a reeleição de Mutko se poderia estar a pôr em perigo a realização do Campeonato do Mundo do próximo ano – precisamente na Rússia – e a própria presidência de Infantino.
“Ele escolheu sobreviver politicamente e penso que tomou a escolha errada”, terá dito o político luso, em declarações reproduzidas pelo The Guardian, tendo ainda criticado Infantino por não conseguir defender firmemente as reformas independentes contra a resistência de figuras poderosas no seio da FIFA, considerando que o organismo é incapaz de respeitar as suas próprias estruturas e que necessita de “pressão externa” para se reformar.
Poiares Maduro revelou que o papel que desempenhou na tentativa de bloqueio da reeleição do vice-primeiro-ministro russo como membro do Conselho da FIFA, em março, foi a chave para o fim da sua curta passagem de oito meses pela entidade.
“O Comité de Governação estava a aplicar a própria regra da FIFA de que deve ser politicamente neutra e que as federações nacionais devem ficar livres de interferências governamentais”, terá afirmado Maduro, confessando que Infantino discutiu pessoalmente com ele para que a regra não se aplicasse a Mutko. Segundo o dirigente português, na sequência dessa discussão foi-lhe dito através do presidente do Comité de Audição e Conformidade da FIFA, Tomaz Vesel, que Infantino o demitiu.
Poiares Maduro revelou ainda que nunca mais falou com Infantino e considerou que na FIFA existe uma “cultura profundamente enraizada” que é “extremamente resistente ao controlo independente, à transparência e à responsabilidade”. “É sistémico”, vincou, acusando os dirigentes de tomarem decisões por interesses pessoais e as federações e confederações de falta de boa governação.
O político luso citou mesmo casos em que enfrentou resistência, como a nomeação de mais mulheres para altos cargos na Confederação Asiática (AFC) e a investigação a alegadas irregularidades em eleições da Confederação Africana (CAF). “A forma como exercemos a nossa independência criou muita oposição entre as pessoas mais próximas da presidência. Infantino tinha de escolher entre órgãos independentes ou preservar a própria presidência. O problema é que a oposição está tão profundamente enraizada na cultura deles que não aceitam as consequências de uma reforma”, rematou.