Habitação. A de Medina e a dos outros lisboetas
Falta de casas acessíveis, mobilidade e turismo dominaram debate dos 12 candidatos a Lisboa. Casa de Medina surgiu logo na abertura, mas os intervenientes evitaram o tema
“A escritura é um ato público”, diz Medina sobre o facto de não ter atualizado a declaração no Tribunal Constitucional
Começou pela habitação o debate de ontem entre os 12 candidatos autárquicos a Lisboa, na RTP3, mas se o plano era falar das casas (ou da falta delas) para os lisboetas, rapidamente passou a uma em particular – a de Fernando Medina. Logo primeira intervenção, Joana Amaral Dias, candidata do Nós Cidadãos, levantou a questão da compra da casa própria do atual presidente da autarquia. “Fiz a aquisição de uma casa como todos os portugueses fazem”, respondeu o candidato socialista, reiterando estar a “cumprir escrupulosamente aquilo que a lei exige”. Sobre o facto de não ter declarado a compra (e a venda da casa anterior) ao Tribunal Constitucional, o autarca sublinhou que declarou o contrato-promessa de compra e venda. E considera suficiente: “Não o fiz por considerar que não tinha de o fazer. A escritura é um ato público.” Medina ainda disse que está em curso uma “campanha de insinuação”. E não precisou de dizer muito mais – com exceção de Joana Amaral Dias, nenhum dos outros candidatos voltou a retomar a questão. Diretamente questionada sobre este assunto, Teresa Leal Coelho, candidata do PSD, disse não estar no debate para falar de casos e passou às críticas à gestão de Medina à frente da autarquia.
Habitação, transportes e turismo foram os grandes temas de um debate que juntou, pela segunda vez, os 12 candidatos às autárquicas de 1 de outubro. Para o pós-eleições ficaram cenários em aberto, sobretudo à esquerda. Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda, deixou aberta a porta a um acordo de esquerda na autarquia. João Ferreira, vereador e candidato do PCP, também não a fechou. Fernando Medina deixou a questão sem qualquer resposta.
Do particular ao geral, a falta de habitação acessível para os lisboetas foi o maior foco de críticas ao atual presidente da autarquia. Medina até aproveitou para anunciar que o concurso para a recuperação de 126 casas na Rua de São Lázaro fechou com quatro concorrentes. Mas não se livrou das críticas. “A câmara tem mais de dois mil fogos para habitação. Tem-nos ao abandono”, apontou Teresa Leal Coelho, prometendo colocar estas casas no mercado de arrendamento. João Ferreira, da CDU, apontou uma “explosão especulativa em Lisboa”, defendendo também uma “bolsa de arrendamento, a preços acessíveis, com património da câmara”. Já Ricardo Robles explicou como financiaria as 7500 novas casas na capital – com fundos da taxa turística, financiamento bancário, do fundo de estabilidade financeira da Segurança Social, mas também de cooperativas de habitação. Assunção Cristas defendeu alterações ao regime fiscal que tornem o “arrendamento de longa duração mais competitivo”.
No capítulo dos transportes, e com vários candidatos a apontarem uma visão antiautomóvel, Fernando Medina defendeu que o atual modelo de mobilidade na cidade – onde entram 360 mil carros todos os dias – é “insustentável”. Com a Carris nas mãos da autarquia desde o início do ano, e a continuar a registar perda de passageiros, o presidente da câmara e can- didato socialista garantiu estar a “suster o ciclo de declínio”. Para Amândio Madaleno, o candidato do PTP, a Carris “não é viável absorvida pela câmara”. Foi uma das muitas críticas que se ouviram entre os pequenos partidos. “Houve um assalto por parte da Câmara de Lisboa ao espaço público”, criticou Luís Júdice, do PCTP/ /MRPP. José Pinto Coelho, do PNR, afirmou que “Lisboa não é uma cidade de bicicletas” e defendeu a extinção da EMEL. António Arruda, do PURP (Partido Unido dos Reformados e Pensionistas) sublinhou a falta de transportes na zona ocidental da cidade, defendendo também a construção de parques de estacionamento nas entradas da capital. Carlos Teixeira (ex-presidente da Câmara de Loures), que avança como candidato pelo PDR e pelo Juntos pelo Povo, a avançou com a proposta de criação de uma cidade desportiva nos antigos terrenos da Feira Popular.
Quanto ao turismo na cidade de Lisboa, foi voz geral que é positivo para a capital – entre “importantíssimo” e “uma bênção” –, mas que deve ter regras. “Não há turistas a mais, há gestão urbana a menos”, defendeu Assunção Cristas, com Teresa Leal Coelho a afirmar também que “a câmara deixa andar aquilo que lhe caiu nas mãos”. Inês Sousa Real, do PAN – partido que tem representação na Assembleia Municipal e assumiu a ambição de querer chegar ao executivo –, defendeu a realização de um estudo sobre a carga turística que a cidade consegue comportar.