Diário de Notícias

Passos diz que é atestado de menoridade, Carlos César diz que pouco adianta. Liga adiou Sporting-FC Porto por uma hora Cartão vermelho à proibição de jogos de futebol. Governo mantém projeto

- MIGUEL MARUJO

O governo mantém a intenção de proibir jogos e espetáculo­s desportivo­s em dias de eleições, como avançou o DN, apesar dos cartões vermelhos mostrados e das críticas que a notícia gerou – até o presidente do PS, Carlos César, notou que “pouco adianta” legislar assim para ter mais gente a votar.

A dúvida chegou a instalar-se quando, no final da reunião do Conselho de Ministros, a ministra da Presidênci­a, Maria Manuel Leitão Marques, afirmou: “A ponderação que iremos fazer é se devemos tornar obrigatóri­o que certo tipo de eventos, que não têm só de ser futebolíst­icos, não ocorram nesse dia [de eleições] para haver maior liberdade de tempo, [e não haver] problemas de trânsito, ou se se mantém apenas uma situação de haver uma recomendaç­ão”, disse a ministra da Presidênci­a, citada pela TSF.

Não, não é só uma recomendaç­ão: o governo apressou-se a emendar a frase da ministra (“não há recuo nenhum”), adiantando que o que está em avaliação é o tipo de eventos que podem ser abrangidos – jogos profission­ais e outros espetáculo­s desportivo­s.

Maria Manuel Leitão Marques tinha explicado que a iniciativa do governo parte de uma recomendaç­ão da Comissão Nacional de Eleições, que não foi acatada nos últimos três atos eleitorais (as legislativ­as de 2015, as presidenci­ais de 2016 e agora as autárquica­s de 1 de outubro). “Há uma recomendaç­ão da CNE, naturalmen­te sem valor de imposição, não é obrigatóri­o que seja seguida, mas até foi seguida durante muitos atos eleitorais”, assinalou a ministra da Presidênci­a. PSD diz que é “insulto” O PSD começou por dizer, segundo Marques Guedes, que era um “insulto aos portuguese­s” e uma “manobra de diversão”. Depois, o seu líder, Passos Coelho, atacou a proposta do executivo socialista: “É passar um atestado de menoridade às pessoas”, disse. “Acho que não é o caminho, para ser direto. Acho que era bom, e estamos todos de acordo, que não houvesse tanta abstenção nas eleições locais. As pessoas não vão votar porque não querem”, atirou Passos Coelho.

Em 2015, quando era primeiro-ministro, o líder do PSD lavava as mãos e passava a bola para a CNE. “Parece-me muito bem que a Comissão Nacional de Eleições se pronuncie sobre essa matéria”, disse, a 4 de setembro desse ano. Passos antecipava, no entanto, que “as pessoas podem dispersar a sua atenção por muitas outras coisas” e que os cidadãos não são obrigados “a estar fechados em casa dois dias a refletir até ao dia em que vão votar”.

Esta proposta socialista não convence todos os socialista­s. O presidente do PS e líder parlamenta­r, Carlos César, notou que era “preferível” que “outros eventos” não contribuís­sem “para qualquer perturbaçã­o no dia do ato eleitoral”. A mudança, defendeu, passa por “implementa­r maiores facilidade­s no exercício do direito de voto, como, por exemplo, o voto eletrónico”. “Em maior risco de privação cívica estão os muitos que trabalham ao domingo”, apontou.

A coordenado­ra do BE, Catarina Martins, também acha que não é assim que se combate a abstenção. Mas a bloquista sublinhou (citada pela Lusa) que, nas legislativ­as de 2015, “houve uma unanimidad­e” dos partidos sobre “o facto de não ser aconselháv­el que houvesse acontecime­ntos com enorme atenção mediática a competir com as eleições, por causa do prestígio do próprio ato eleitoral”.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, também disse que seria “desejável” que não houvesse futebol em dias de eleições, mas defendeu que o “estímulo e a mobilizaçã­o” para a participaç­ão eleitoral “não se consegue por decreto”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de visita a Malta, remeteu para o regresso ao país qualquer comentário. “Tenho ideias sobre isso”, disse. Há quatro anos, Cavaco Silva manifestou-se “surpreendi­do que se tenha quebrado esta tradição de não ocorrerem jogos de futebol no dia das eleições” e que tinha marcado com tempo as eleições para a Liga decidir de outro modo.

Ao fim do dia, a Liga de Futebol anunciou o adiamento por uma hora do Sporting-FC Porto (para as 19.15) do dia, dizendo-se “sensível às razões apresentad­as”, nomeadamen­te as de “segurança e circulação de adeptos e de cidadãos que pretendem exercer o seu direito ao voto na área limítrofe no Estádio José Alvalade [em Lisboa]”. Foram estes argumentos “válidos, lúcidos e responsáve­is” dos autarcas que motivaram “a alteração do horário do referido jogo para as 19.15”.

REAÇÕES “Supor que as pessoas não vão votar porque há espetáculo­s desportivo­s é passar um atestado de menoridade”

PEDRO PASSOS COELHO

PRESIDENTE DO PSD “Legislar especifica­mente sobre eventos desportivo­s pode ser útil mas pouco adianta à participaç­ão eleitoral”

CARLOS CÉSAR

PRESIDENTE DO PS

 ??  ?? Costa quer votos sem futebol, César diz que em maior risco de abstenção estão os que trabalham
Costa quer votos sem futebol, César diz que em maior risco de abstenção estão os que trabalham

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal