Diário de Notícias

Advogados recusam denunciar clientes por lavagem de dinheiro

Bastonário quer as ordens de advogados europeias a reagir contra a lei de lavagem de dinheiro e financiame­nto do terrorismo

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FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA O bastonário da Ordem dos Advogados (OA), Guilherme de Figueiredo, considera que a nova lei de prevenção de lavagem de dinheiro e de financiame­nto de terrorismo é um “ataque ao dever de sigilo dos advogados, que é timbre da profissão”, defendeu ao DN. E assume que esta lei obriga “os advogados a serem uma espécie de denunciant­es (whistleblo­wers), em relação aos seus clientes, em dadas transações” e que isso afeta “o capital inestimáve­l e que garante um Estado de direito, qual seja a possibilid­ade de alguém poder confiar totalmente no ou na advogada que escolhe”.

Em causa está a proibição aplicada aos advogados – que passa a vigorar a partir de segunda-feira – de avisarem os seus clientes sobre investigaç­ões de que sejam alvo, além de terem de enviar ao Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal (DCIAP) toda a informação de que disponham sobre suspeitas de branqueame­nto de capitais e de financiame­nto de terrorismo. O que choca com o previsto no Estatuto da Ordem dos Advogados, em que os advogados estão sujeitos ao sigilo profission­al. O líder dos 29 mil advogados critica ainda o legislador de querer passar competênci­as que são das autoridade­s judiciária­s e das polícias para os advogados.

Porém, a questão é controvers­a. Valerá mais uma lei que deriva de uma obrigação (diretiva) comunitári­a ou o Estatuto da Ordem dos Advogados, que deriva de um diploma da Assembleia da República? “A simples circunstân­cia de se tratar de uma transposiç­ão de uma diretiva comunitári­a não lhe aumenta o valor supralegis­lativo uma vez que o ato de transposiç­ão é sempre por lei ou por decreto-lei (nacional) salvo na parte em que a norma transposta seja direta da diretiva, ou seja, se a redação for exatamente a mesma”, explica o magistrado judicial José António Fialho. “No caso em concreto, duvido que isso tenha sucedido pois parece-me que a UE não iria dizer a todos os Estados como deveriam aplicar a norma, havendo uma certa margem de discricion­ariedade nessa matéria.” Porém, o juiz usa o caso dos bancos como paralelo: “Veja o caso dos bancos que estão sujeitos a sigilo também mas são obrigados a determinad­as comunicaçõ­es para evitar o branqueame­nto.”

Assim, advogados, solicitado­res e notários ficam proibidos de praticar atos que se traduzam no seu envolvimen­to em qualquer operação de branqueame­nto de capitais ou de financiame­nto do terrorismo. Esta nova legislação, entre outras coisas, reforça ainda os poderes do DCIAP “com vista à realização das finalidade­s da prevenção do branqueame­nto e do financiame­nto do terrorismo, e acesso direto e mediante despacho a toda a informação financeira, fiscal, administra­tiva, judicial e policial”.

Guilherme de Figueiredo assume ainda que este regime de prevenção e repressão do branqueame­nto de capitais e do financiame­nto ao terrorismo é um “sério ataque ao dever de sigilo” dos causídicos e quer uma reação conjunta com as congéneres europeias”. Ou seja: das restantes ordens dos advogados dos países da UE. Diz então o bastonário que a OA continuará, “agora de modo mais intenso, o labor junto das suas congéneres europeias e de outros organismos internacio­nais a que pertence, no sentido de estudar formas de reação conjunta, o que em muito fortalecer­á a nossa luta”. Luís Filipe Castro Mendes confessou aos jornalista­s que espera ver “aumentado” o orçamento da Cultura para 2018. “Vamos ver”, disse.

A cultura foi também a área mais beneficiad­a com 14 projetos entre os 38 vencedores (como já tinha adiantado o DN), aspeto recebido com satisfação pelo ministro.

Ontem, a ministra da Presidênci­a e da Modernizaç­ão Administra­tiva, Maria Manuel Leitão Marques, deixou a garantia de que “o governo vai assegurar a execução de todos os projetos vencedores” do OPP.

Já a secretária de Estado da Modernizaç­ão Administra­tiva, Graça Fonseca, explicou que “cada uma das áreas da administra­ção do Estado vai incluir nos seus orçamentos e planos de atividades estes projetos vencedores” – num total de 3,18 milhões de euros. E acrescento­u: “Os proponente­s vão ser parte colaborant­e com o Estado na concretiza­ção dos projetos.” MIGUEL MARUJO

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