Esperança de Costa durou 24 horas: negociação com enfermeiros sem acordo
O único sindicato que não aderiu à paralisação desta semana rompeu negociações. Hipótese de novas reuniões não está descartada
E o que parecia bem encaminhado esfumou-se ao início da noite de ontem: o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) rompeu as negociações com o Ministério da Saúde, 24 horas depois de o primeiro-ministro se ter mostrado esperançado num acordo “nos próximos dias” sobre as carreiras. E se houve de facto uma aproximação entre as partes, admitida pelo próprio SEP, ela não foi suficiente para impedir o único sindicato que não aderiu à paralisação desta semana de convocar uma outra greve, agora para os dias 3,4 e 5 de outubro.
Num vídeo publicado no Facebook depois de uma reunião com a equipa de Adalberto Campos Fernandes, o presidente do SEP assumiu que houve uma “evolução” nas propostas do ministério sobre as 35 horas semanais de trabalho para todos os enfermeiros, a reposição das horas de qualidade e o aumento dos salários, embora de forma transitória, para os especialistas. “Contudo, esta evolução de posições não é suficiente”, concluiu José Carlos Martins, que anunciou que o sindicato vai auscultar os seus associados sobre as novas propostas do governo, “que ainda ficou de melhorar alguns aspetos”.
No ar fica a hipótese de este não ter sido um divórcio absoluto e de ainda se poderem realizar reuniões entre as duas partes até à data da próxima greve. O DN apurou junto de fonte conhecedora das negociações que houve de facto uma aproximação grande de posições e que o consenso ainda é possível até 3 de outubro.
E as palavras de António Costa no dia anterior parecem indicar que o próprio primeiro-ministro está determinado numa solução. “Tem havido uma postura construtiva por parte do governo para procurar identificar questões que são justas, que são compatíveis com a nossa estratégia orçamental e tendo em conta o equilíbrio que temos de ter entre as diferentes carreiras, para não criar situações de desigualdade relativa. Esse é o trabalho que tem sido feito pelos ministérios da Saúde e das Finanças”, declarou António Costa, que apenas se referiu ao SEP, que “tem mantido negociações com o governo desde abril”, e não aos dois sindicatos que avançaram para a greve, SIPE (Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem) e SE (Sindicato dos Enfermeiros).
Desde o início da paralisação desta semana já foram adiadas seis mil cirurgias de rotina, segundo dados do Sindicato dos Enfermeiros, que continua a falar numa adesão ao protesto a rondar os 90%. O bastonário da Ordem dos Médicos manifestou ontem “alguma preocupação” com o adiamento de cirurgias devido à greve e apelou ao governo para “encetar diálogo com os sindicatos” e “tentar chegar a um acordo equilibrado”.
Para hoje está prevista uma manifestação de enfermeiros em Lisboa, naquele que será o último dia de greve do setor.