Diário de Notícias

Pai do SNS prepara propostas ao Parlamento para melhorar carreiras

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SAÚDE No dia do SNS, com os enfermeiro­s na rua, António Arnaut defende estabilida­de. Médicos criticam subfinanci­amento crónico António Arnaut – que, enquanto ministro dos Assuntos Sociais, foi o principal impulsiona­dor da criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979 – revelou ao DN que está a preparar um projeto legislativ­o para apresentar ao governo, cujo principal foco será a estabiliza­ção e a valorizaçã­o das carreiras dos profission­ais do setor. No 38.º aniversári­o daquela que foi uma das maiores conquistas sociais da democracia portuguesa, Arnaut considerou este um passo “essencial” para garantir a sobrevivên­cia do sistema que ajudou a implementa­r. “Mais ainda do que o Orçamento do Estado.”

“Estou a trabalhar num diploma sobre as carreiras, para apresentar ao meu partido [PS] e depois aos deputados”, contou. “As carreiras são essenciais”, defendeu. “E espero brevemente podermos dar notícia pública da existência de uma nova lei”, acrescento­u, confirmand­o que o primeiro-ministro e o ministro da Saúde estão ao corrente deste projeto. Defensor “há muito tempo” da equiparaçã­o das carreiras na saúde às dos magistrado­s judiciais, Arnaut considera que o modelo a implementa­r deve incidir num conjunto de princípios que permitam valorizar os profission­ais do setor: “Acesso por mérito, progressão, estabilida­de, formação permanente, vencimento digno.” As carreiras – nomeadamen­te a diferencia­ção entre especializ­ados e não especializ­ados – são precisamen­te um dos principais focos das reivindica­ções dos enfermeiro­s, que hoje promovem uma concentraç­ão à porta da Assembleia da República.

E António Arnaut, de 81 anos, recentemen­te hospitaliz­ado, admitiu sentir “simpatia” pelas reivindica­ções destes profission­ais e pelo seu trabalho: “Dois meses de internamen­to fizeram-me contactar ainda de mais perto com os enfermeiro­s. Eles é que cuidam de nós. Estão presentes 24 horas sobre 24, em três turnos. E não têm uma carreira: o assistente que entrou hoje está a ganhar o mesmo daquele que entrou há 10 ou 20 anos.”

No entanto, considerou também que o momento e a forma escolhida pelo Sindicato dos Enfermeiro­s para confrontar Adalberto Campos Fernandes com o aviso de greve “não foram oportunos. Não se chega ao pé do ministro da Saúde e se dá uma semana para resolver um problema que tem 20 anos”.

“Subfinanci­amento crónico” Para Arnaut, o SNS – cujo dia é hoje assinalado – está apesar de tudo “melhor hoje do que estava no tempo de Passos Coelho”. Já o bastonário da Ordem dos Médicos confessou sentir maiores dificuldad­es para encontrar melhorias dignas de registo entre a intervençã­o externa no país e os dias de hoje. Para Miguel Guimarães, o SNS “continua com um problema de subfinanci­amento crónico , que vem do tempo da

troika” e se mantém no essencial. Para o bastonário, o facto de existirem indicadore­s apontando para “uma percentage­m de 40% [da população] que já paga a saúde do seu bolso, recorrendo à medicina privada para não ficar sem resposta “, é sinal não só da “capacidade de resposta reduzida” no setor público como de que se está a criar “uma diferença muito grande entre quem tem capacidade económica e quem não tem”.

Miguel Guimarães subscreveu a necessidad­e de se valorizar o “capital humano do SNS” – medida que, lembrou, “tem vindo a ser defendida pelas diferentes ordens e sindicatos”. Nomeadamen­te através das carreiras. Mas considerou que esse passo é indissociá­vel do aumento do investimen­to na saúde. “As reivindica­ções dos enfermeiro­s, que são justas, outras reivindica­ções dos médicos, nomeadamen­te em relação às horas extraordin­árias, tudo isto tem reflexos no Orçamento”, considerou.

Maria de Belém Roseira, ministra da Saúde entre 1995 e 1999, defendeu ao DN que “a troika foi excessivam­ente dolorosa para o Serviço Nacional de Saúde” e que o efeito ainda se sente: “As feridas demoram tempo a sarar”, considerou.

Bastonário dos Médicos vê poucas melhorias e considera que existe capacidade de resposta reduzida no setor público

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