Diário de Notícias

Batatas fritas com rótulo errado perigoso para diabéticos Marca Lay’s admite “erro tipográfic­o” que corta hidratos de carbono para um sexto do valor real. Foi alertada há um mês

- ANA BELA FERREIRA

Luís Aguiar-Conraria foi de férias com a filha e descobriu umas batatas fritas com poucos hidratos de carbono. A criança tem diabetes tipo 1 e, por isso, o professor universitá­rio e a mulher acharam boa ideia a escolha daquele snack, uma vez que estes doentes tomam insulina de acordo com os hidratos que ingerem. O problema é que calcularam a dose de insulina com base na informação nutriciona­l errada que estava escrita no pacote e a menina acabou por ter uma crise de hiperglice­mia. “Achámos que ela podia estar à vontade e tínhamos de dar menos insulina, mas nessa noite os valores de glicemia dispararam para 400, quando ela raramente passa dos 170,180. Tivemos de dar insulina extra para compensar”, recorda.

A marca de batatas em questão é a Lay’s no forno originais, que confirmou, ao DN, haver um “erro tipográfic­o” na descrição dos hidratos de carbono. Na embalagem está escrito que tem 12 gramas de hidratos por cada 100 gramas de batatas, mas na verdade tem 72 gramas de hidratos. “A informação está errada nas embalagens do mercado espanhol e português”, indicou o gabinete de comunicaçã­o da PepsiCo, detentora da Lay’s.

A marca foi alertada para este erro em agosto por membros de um grupo no Facebook para doentes diabéticos. “Quando a marca surgiu comentamos no grupo que tinha baixos hidratos, porque andamos sempre à procura destas coisas, depois algumas pessoas começaram a comentar que tinham valores alterados, mas não percebíamo­s se era das batatas, porque pode haver outras causas. Mas depois uma das pessoas do grupo do Facebook foi a França e percebeu que afinal as batatas têm seis vezes mais hidratos do que o indicado. Isto é uma diferença brutal porque está inteiramen­te ligado à quantidade de insulina que tomamos”, conta Cristina Mota ao DN, recordando o alerta que fez em agosto à marca.

Em resposta, a Lay’s escreveu: “Informamos que realmente se tratava de um erro. Muito obrigado por nos avisar. Estávamos cientes do ocorrido e quando tivermos uma oportunida­de iremos modifi- cá-lo.” Cristina Mota refere que ainda pediu à marca para que fizessem “um comunicado público, de alerta”.

Ao DN, a assessoria da marca refere que está “a mudar os rótulos”, mas não têm “nada pensado” para avisar os consumidor­es de que as embalagens ainda à venda têm um erro no valor nutriciona­l. A garantia é de que “já não deve faltar muito” para as embalagens com os rótulos corretos começarem a chegar aos postos de venda. Até lá, o erro vai manter-se, sem aviso prévio aos consumidor­es.

Para Luís Aguiar-Conraria esta passividad­e é “potencialm­ente criminosa”. “Imagine uma pessoa que coma um pacote inteiro de batatas e calcule a insulina com esses valores errados. No limite, pode entrar em coma.”

O médico e presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, José Manuel Boavida, lembra que não são apenas os alimentos que têm influência, mas que ter dados errados, “com uma variação tão grande, como neste caso”, representa uma “uma variação de insulina enorme”. O especialis­ta lembra que devia “haver mais controlo na rotulagem em Portugal” e que se devia apresentar queixa deste caso junto das autoridade­s.

Em Portugal quem fiscaliza os rótulos é a ASAE, que indicou não ter recebido qualquer queixa sobre esta marca. Em relação à atuação, a ASAE garantiu que irá analisar o caso e que tomará todas as medidas legais necessária­s.

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O valor correto é de 72 gramas e não 12 gramas de hidratos de carbono por cada 100 gramas de batatas

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