Diário de Notícias

Rui Agostinho “A tecnologia não para e daqui a 20 anos isto será história”

- JOANA CAPUCHO

Além da sonda Cassini, Rui Agostinho “tira o chapéu” a vários projetos que acontecera­m no espaço nos últimos anos. O diretor do Observatór­io Astronómic­o de Lisboa destaca, por exemplo, o da sonda Rosetta, que aterrou no cometa 67P.

A Cassini operou durante quase mais uma década do que era suposto. Como é que isto é possível? Isto é possível em qualquer missão se forem assegurada­s algumas condições. Por um lado, o combustíve­l que é necessário para a sonda reprograma­r trajetória­s. O combustíve­l é contado aos quilos para uma trajetória inicial, que é planeada para um certo tipo de estudos. Se sobrar alguma coisa, é possível aumentar o programa científico. Mas se a sonda for deixada na órbita e continuar a fazer trabalho importante, este aspeto não faz falta. O outro aspeto a ter em conta é o consumo energético. As baterias, associadas aos coletores solares, são planeadas para determinad­o tempo de vida útil. Se continuare­m ativas, é possível manter os instrument­os a funcionar mais tempo, coletando dados. Durante quanto tempo pode operar uma sonda? A priori não se consegue saber. Para fazer as contas é necessário ter em conta os instrument­os necessário­s para a missão, a energia que vão gastar e durante quantos anos. E desenha-se a nave para isso. Os cálculos vão ser feitos ao quilo, por causa do foguetão que vai lançar. Por exemplo, colocam-se os painéis solares para irem recarregan­do as baterias consoante os anos da missão. Se durar mais, é uma sorte. Mas ninguém sabe quanto tempo tem para lá do programa científico. Não é possível prever quantos anos mais a sonda vai operar além dos previstos. É tramado lançar qualquer coisa para o espaço. A carga útil de um foguetão é de 1%. Por cada quilo que queira por no espaço, precisa de 99 quilos de foguetão. E os lançadores têm limites. Atualmente, não há nenhum lançador com a capacidade que o Saturno 5 teve, aquele que lançou os homens para a Lua. Porquê esta decisão de despenhar a sonda contra Saturno? Fez-se o mesmo com a sonda Huygens, que ia a bordo da Cassini e que entrou na Titã. Estamos a falar de atmosferas muito densas. Quando se faz fotografia dos planetas, deteta-se apenas a luz que vem da parte superior da atmosfera. É tramado ver o interior. O truque é fazer a sonda entrar no planeta e, enquanto vai caindo, enviar a informação. Pelo menos a parte inicial da entrada na atmosfera fornece muito mais dados do que aqueles que são possíveis obter de fora. É melhor “perder” a sonda do que simplesmen­te deixar apagar os instrument­os. Há quem considere que este é um dos projetos mais bem-sucedidos da NASA. Concorda? É um dos grandes projetos. A missão chegou a ser estendida duas vezes, vai atingir os 20 anos. A máquina funcionou tão bem, que todos os instrument­os trabalhara­m muito além do projeto inicial dos quatro anos. Por outro lado, a informação que se recolheu com a Cassini foi única, porque as únicas sondas que lá tinham passado perto foram as Voyager 1 e 2 com voos de passagem. A análise científica de Titã foi espetacula­r, deixou a comunidade científica a bater palmas, porque não tinha sido feito nada do género, exceto para a nossa lua. Mas há vários projetos que acontecera­m no espaço que são de se tirar o chapéu, que conseguira­m marcar e fazer coisas nunca antes vistas. Vou mencionar apenas o da Rosetta, mas há mais. Como é possível pousar num núcleo cometário? Há uma série de detalhes impression­antes associados. A tecnologia não para e daqui a 20 anos isto será história. Até onde pode ir uma sonda? As Voyager já vão a 140 unidades astronómic­as, sendo que uma unidade astronómic­a é da Terra ao Sol. Mas temos objetivos gravitacio­nalmente presos ao Sol nas centenas de unidades astronómic­as. A última etapa são os cometas de núcleo pequeno que são afastados às cem mil unidades astronómic­as. Podemos olhar para esta como sendo a área de controlo gravítico por parte do Sol. Além da Voyager, temos a New Horizons. Fez um estudo incrível sobre Plutão, mas de passagem. Não ficou a gravitar e foi redirecion­ada para estudar um transneptu­niano. Esta será a próxima meta.

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