Diário de Notícias

A vice-presidente mais pobre do mundo

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Não faltam mulheres na política das Américas, desde a argentina Estela Perón, que foi a primeira presidente na história do mundo, até Dilma Rousseff, duas vezes eleita para liderar o Brasil. Contudo, Hillary Clinton tornou-se um símbolo da luta das mulheres por triunfarem na política, por causa de uma vida que a obrigou a ceder o protagonis­mo ao marido, reservando para tarde o início da carreira. Ora, se alguém pensa que o percurso da norte-americana é inimitável, talvez devesse repensar, olhando para a mulher que se tornou vice-presidente do Uruguai, Lucía Topolansky.

Possessão espanhola no rio da Prata, o Uruguai foi durante séculos alvo de disputa entre as cortes de Madrid e de Lisboa. Além da teimosa Colónia de Sacramento, frente a Buenos Aires, Portugal acabou por conquistar todo o país nos tempos de D. João VI no Rio de Janeiro, para depois o Brasil independen­te perder a sua província Cisplatina numa guerra inconclusi­va com a Argentina. Nascido como país em 1825, Estado-tampão mas finalmente livre em 1828 como queria o seu herói José Artigas, o Uruguai foi durante anos conhecido pela prosperida­de entre os latino-americanos e nos tempos mais recentes por ter José Mujica, um político que vivia de forma tão modesta que logo o apelidaram de presidente mais pobre do mundo.

Ora, Lucía é a mulher de Mujica. E alguém que nunca fez questão de viver na sombra do marido famoso. Se Hillary, casada com Bill Clinton, foi primeira-dama, senadora e chefe da diplomacia, falhando porém a presidênci­a no ano passado, a uruguaia tem um currículo que não lhe fica atrás: foi guerrilhei­ra, senadora, primeira-dama e agora vice-presidente.

Lucía continua a viver numa velha quinta nos arredores de Montevideu com o companheir­o de décadas e arrisca-se agora a ser conhecida como a vice-presidente mais pobre do mundo. Será um dia presidente, em vez de Tabaré Vázquez? Estela Perón começou também por ser vice e chegou a presidente porque o marido, Juan Perón, morreu. Mas, como relembrará qualquer uruguaio, os argentinos são bem diferentes.

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