Diário de Notícias

S&P surpreende e tira rating Portugal do lixo

A agência de notação Standard & Poor’s supreendeu todos e colocou Portugal em “grau de investimen­to”. Espera-se uma forte reação nos mercados na segunda-feira

- ELISABETE TAVARES

Uma surpresa geral. A Standard & Poor’s anunciou ontem à noite que retirou Portugal do território de lixo. Foi a primeira das três grandes agências de rating – Moody’s, Fitch e S&P – a fazê-lo desde que Portugal desceu para aquele nível em 2011, em plena crise de dívida europeia.

A surpresa foi total já que só se antecipava uma melhoria do nível de risco da dívida soberana, na melhor das hipóteses, daqui a 12 meses. “É uma decisão relevante porque permite a uma fatia importante de investidor­es comprar dívida soberana portuguesa”, afirmou Filipe Garcia, economista da IMF-Informação de Mercados Financeiro­s ao DN/Dinheiro Vivo.

“Era imperativo fechar este ciclo e sair do nível de lixo e não há razões nenhumas para pensar que as outras agências não seguirão este caminho”, disse Luís Tavares Bravo, economista da DIF Broker. “O índice PSI 20 vai voar”, adianta.

A S&P subiu o rating de Portugal de BB+ para BBB-, mantendo a perspetiva “estável”. Na base desta decisão está a “forte performanc­e económica e orçamental” do país, justificou a agência de rating.

A S&P subiu a sua estimativa para o cresciment­o da economia portuguesa, em média, entre 2017 e 2020, de 1,5% para 2%. E prevê que a meta de 1,5% para o défice público face ao Produto Interno Bruto (PIB) vai ser alcançada, “colocando o rácio de dívida líquida face ao PIB num caminho mais firme de queda”.

Destaca que pode subir o rating de Portugal se observar, entre outros fatores, uma maior consolidaç­ão orçamental.

Na sua última avaliação, a 17 de março, a S&P reafirmou o rating de BB+ com uma perspetiva “estável”.

Os ratings, ou classifica­ções dos níveis de risco, da S&P vão de AAA, que correspond­e ao menor risco para o investidor, até D, o maior risco para o investidor.

Este anúncio surge após Fitch e Moody’s terem subido o outlook (perspetiva)do país de estável para positivo, em junho e setembro, respetivam­ente.

Portugal entrou no nível conhecido por lixo pela mão da Moody’s em julho de 2011 em plena crise de dívida na zona euro. Seguiu-se a Fitch em novembro de 2011 e a S&P em janeiro de 2012.

A agência canadiana DBRS tem sido a única das quatro considerad­as pelo Banco Central Europeu a manter Portugal a salvo com um rating de grau de investimen­to (BBB-low) desde novembro de 2014, o que tem permitido ao país ter elegibilid­ade para aceder ao programa de compra de ativos do banco central e aos bancos portuguese­s aceder a financiame­nto junto do BCE.

Analistas alertam contra euforia

Os analistas antecipava­m que a S&P subisse a perspetiva da dívida soberana do país de estável para positiva. “É uma boa surpresa, pois o procedimen­to usual é a subida ser sinalizada por uma melhoria das perspetiva­s das agências de rating”, afirmou Luís Bravo.

O analista frisa que a consolidaç­ão orçamental e a certeza de que o Banco Central Europeu vai garantir uma saída suave em termos de política monetária “foram os fatores fundamenta­is” para a decisão da S&P. Para Filipe Silva, diretor de Gestão de Ativos do Banco Carregosa, este anúncio “é bastante positivo para fortalecer a credibilid­ade do país e acaba por premiar Portugal por todo o esforço que fez”. As consequênc­ias para o país serão diversas. “Vai ajudar a melhorar o risco das empresas portuguesa­s, pois estas acabam por ter o seu rating associado ao da República”, adiantou. Mas alerta que “convém continuar com o trabalho feito até aqui, ver se conseguimo­s reduzir dívida e não entrar em euforias”.

Filipe Garcia aponta que “parece que há algum otimismo da S&P; seria mais expectável que a agência aguardasse por uma redução do montante da dívida pública em termos relativos e absolutos”.

Ontem, os juros da dívida soberana portuguesa a dez anos fecharam em queda ligeira para 2,8% e o principal índice acionista nacional, o PSI 20, encerrou inalterado nos 5,202 pontos.

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