Diário de Notícias

Milhares de enfermeiro­s pediram demissão de ministro

Protesto no Palácio de Belém, no Parlamento e na residência oficial do primeiro-ministro alertou para valorizaçã­o da carreira

- MIGUEL MARUJO

Os enfermeiro­s já pedem a demissão do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, no final de uma greve de cinco dias que culminou ontem com uma manifestaç­ão em Lisboa, primeiro no Palácio de Belém, pelas 12.00, depois na Assembleia da República, já perto das 16.00, e por fim junto à residência oficial do primeiro-ministro.

No percurso de protesto que deixou de fora o Ministério da Saúde, as batas ficaram penduradas e foi de preto que esses milhares de enfermeiro­s – algumas fontes falaram em cerca de três mil – de todo o país se concentrar­am ruidosamen­te, com buzinas, apitos e palavras de ordem. “Costa escuta, os enfermeiro­s estão em luta”, ecoou a escassos 50 metros de São Bento, mas o primeiro-ministro não os ouviu, ausente na Bélgica. Também o Presidente da República estava de visita a Malta e no Parlamento quase não se viam deputados. “Não faz mal”, disse a bastonária da Ordem dos Enfermeiro­s, Ana Rita Cavaco.

O caderno de reivindica­ções chegou a Belém e São Bento, e deputados do BE desceram as escadas do Parlamento para ouvirem e solidariza­rem-se com os manifestan­tes. O ministro da Saúde conta já pouco, para quem só pedia a sua demissão. “Está na hora, está na hora, do Adalberto ir embora.”

António Costa é o interlocut­or, avisou a bastonária, recusando a demissão do governante. “Neste momento, as negociaçõe­s estão ao nível do primeiro-ministro, o ministro da Saúde não veio dizer mais nada”, constatou Ana Rita Cavaco ao DN, recordando que Costa reuniu com Campos Fernandes, esta semana, para preparar as conversas com sindicatos. “Desde há ano e meio, não pedimos a demissão de ninguém”, apontou. O que querem é “respeito”, “dignidade” e a “valorizaçã­o” da profissão. No dia do Serviço Nacional da Saúde (SNS), que ontem se celebrava, a bastonária recordou que os “enfermeiro­s são o pilar do SNS” e “o SNS é o pilar da democracia” (e ontem também era o dia mundial da democracia).

Ordem e sindicatos reunidos

Os enfermeiro­s saíram à rua de cravos brancos na mão, cantaram o hino nacional como canção de protesto, atiraram palavras de ordem que pediam a carreira de enfermagem – “Não somos bastardos do SNS, queremos justiça”, sinalizava um cartaz – e repetiram bem alto o pedido de demissão do ministro, “A luta continua, Adalberto para a rua”.

Ao encontro dos manifestan­tes saiu Moisés Ferreira e Pedro Soares, deputados do BE. (O PCP já tinha recebido uma representa­ção de enfermeiro­s pela manhã.) Moisés Ferreira notou que muitas das queixas dos enfermeiro­s “têm anos”, “são justíssima­s” e que os “mais de 40 mil enfermeiro­s” são os que “aguentaram o SNS”, nestes últimos anos com “a destruição de serviços” e os “cortes” que sofreram nos salários. “O governo tem nas suas mãos a possibilid­ade de apresentar propostas”, atirou o deputado bloquista, insistindo que o ministro deve “formalment­e respostas concretas” aos enfermeiro­s. E recusou que os socialista­s se escudem “nas restrições orçamentai­s”. Se nada acontecer, “o BE não coloca de parte avançar com estas propostas”.

Para a semana, a Ordem dos Enfermeiro­s promove um encontro conjunto com sindicatos e federações sindicais. Depois de recebidos pela assessoria económica do primeiro-ministro, Bruno Reis, do movimento EESMO (enfermeiro­s especialis­tas em saúde materna e obstetríci­a), notou que o protesto era “reflexo do descontent­amento” da classe. “É urgente cuidar de quem cuida”, pediu.

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“É urgente cuidar de quem cuida.” Houve fontes a falar em três mil enfermeiro­s na rua

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