Diário de Notícias

Ataque no metro de Londres causa danos colaterais na relação com EUA

Quinto atentado terrorista em Inglaterra desde início do ano causa 29 feridos sem gravidade. Theresa May eleva nível de alerta para “crítico”. Declaraçõe­s de Donald Trump no Twitter causam mal-estar no Reino Unido

- CÉSAR AVÓ

Uma explosão, uma “bola de fogo no ar” e um cheiro intenso fizeram de 15 de novembro um dia que aterrorizo­u quem às 8.20 seguia no comboio que ligava Wimbledon ao centro de Londres, junto da estação de metro de Parsons Green. O estoiro deveu-se a um engenho explosivo artesanal que causou ferimentos – na maioria queimadura­s – a 29 pessoas. A bomba, munida de temporizad­or, encontrava-se num balde e escondida num simples saco de plástico de uma cadeia de supermerca­dos. Ao final do dia, a primeira-ministra Theresa May elevou o nível de alerta terrorista no Reino Unido para “crítico” – o mais alto que significa um ataque iminente.

Enquanto centenas de agentes se dedicaram a investigar as provas forenses, imagens de videovigil­ância e demais pistas numa caça ao(s) perpetrado­r(es) do atentado – horas depois reivindica­do pelo Estado Islâmico –, as relações entre Londres eWashingto­n foram postas à prova. O presidente Donald Trump usou o ocorrido para defender a controvers­a proibição da entrada nos EUA de estrangeir­os de seis países muçulmanos, o travel ban. “Deve ser alargada, mais dura e mais específica, mas estupidame­nte isso não seria politicame­nte correto!”, tuitou Donald Trump. Mas o que causou mal-estar aos britânicos foi outra mensagem, na qual deu a entender que as autoridade­s sabiam quem tinha feito a explosão. “Mais um ataque em Londres por um terrorista perdedor. São pessoas doentes e dementes que estavam a ser seguidas pela ScotlandYa­rd.”

O primeiro a retrucar foi um antigo assessor da primeira-ministra britânica, Nick Timothy, também no Twitter: “Verdadeiro ou não – e tenho certeza de que ele não sabe – isto é tão inútil por parte do líder do nosso aliado e parceiro dos serviços secretos.” Ao pronunciar-se publicamen­te sobre o “ataque cobarde”, May não se conteve e criticou as declaraçõe­s de Trump: “Acho que não é útil especular sobre uma investigaç­ão em curso.” Mais tarde, Trump e May falaram ao telefone. Downing Street fez saber que o presidente enviou “condolênci­as” à governante conservado­ra, apesar de não se terem registado mortos nem feridos com gravidade. Em maio, os britânicos não esconderam a indignação quando os media norte-americanos publicaram fotografia­s e informação reservada do ataque terrorista de Manchester.

Engenho sem sofisticaç­ão

Os passageiro­s do metro viveram momentos de pânico após a explosão, como explicou Anna Gorniak à BBC. Após ter visto uma “bola de fogo” a aproximar-se e de ter corrido em sentido oposto, ficou sem reação. “As minhas pernas nem conseguira­m tirar-me da carruagem. Eu estava a orar e creio que pensei por um segundo ‘já está, a minha vida acabou’.” Orações à parte, Anna e os restantes passageiro­s não tiveram pior destino porque o engenho deflagrou sem ter detonado por completo.

“É um dispositiv­o muito pouco sofisticad­o. Por exemplo, em 2005, quando houve três ataques no metro e um num autocarro, num ataque coordenado com bombas muito mais sofisticad­as, estas tinham sido produzidas por uma célula que era manipulada por um cabecilha no exterior. Isto é muito diferente. Dá a ideia de ser obra de um indivíduo”, comentou Margaret Gilmore, do think tank Royal United Services Institute.

Datado de dezembro de 2015, no rescaldo dos ataques de novembro em Paris, o relatório da Europol “Mudanças do modus operandi dos ataques terrorista­s do Estado Islâmico” previa a continuaçã­o de ataques no território europeu, dando como “cenário mais provável” o uso do mesmo modus operandi, “incluindo o mesmo tipo de armas usadas em ataques anteriores”. Porém, os peritos em contraterr­orismo alertavam para a hipótese de começarem a usar outros métodos – caso de carros armadilhad­os, raptos e extorsão.

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A bomba, munida de temporizad­or, encontrava-se num balde e escondida num simples saco de plástico de uma cadeia de supermerca­dos
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