Diário de Notícias

A celebração da beleza e da cultura que fala em português

Há dez candidatas ao título que é atribuído nesta noite em Lisboa. Parte das receitas do espetáculo é para as vítimas dos fogos

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SUSANA SALVADOR A mais jovem tem 14 anos, a mais velha 26. Algumas já são modelos, outras sonham ser. Há quem já tenha uma coroa (ou mais) de Miss e as que se estreiam nestas lides dos concursos de beleza. Em comum têm a língua: o português, mesmo que com sotaques. Uma delas será eleita hoje Miss CPLP 2017, numa cerimónia na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em Lisboa.

Foi numa cave da Casa dos Direitos Sociais, na Belavista, que se ensaiaram os últimos passos e se deram os últimos retoques nas coreografi­as para o espetáculo desta noite. A brasileira Magna Oliver, que vai atuar na cerimónia, não poupa a voz a dar ordens sobre onde cada uma das dez candidatas tem de estar, para garantir que tudo corre na perfeição. “A ideia não é só mostrar a beleza, é também mostrar a representa­tividade da diversidad­e cultural”, explica em relação ao concurso, que já vai na quarta edição.

“O Miss CPLP é uma forma de conseguirm­os contribuir para uma sociedade completame­nte diferente do que vimos à nossa volta no dia-a-dia”, explica Celso Soares, mentor e presidente do Comité Miss CPLP. “Quando se fala na comunidade lusófona, na lusofonia, a sensação que se tem é que há sempre uma ligeira confusão na mente das pessoas”, acrescenta. “Porque há quem remeta logo a lusofonia para o continente africano, o que na verdade não é. Há quem remeta para um ambiente neocolonia­lista, o que não é. Há quem remeta para o colonialis­mo de forma encapotada, o que não é. Nós aqui temos outras perspetiva­s, associadas à cidadania e ao papel que temos como cidadãos de desenvolve­r uma sociedade à nossa maneira”, conclui Celso Soares.

Na cave, as dez jovens treinam em salto alto para os desfiles. Além do traje de gala, do traje tradiciona­l e do desfile em fato de banho, haverá também oportunida­de de mostrarem o seu talento. O bilhete para o espetáculo custa 25 euros e parte das receitas reverte a favor das vítimas dos fogos florestais que afetaram Portugal neste verão. “Nunca tínhamos visto nada assim”, conta Magna, mostrando-se feliz por poder ajudar.

As questões sociais estão intrinseca­mente ligadas aos concursos de beleza e o Miss CPLP não é exceção. “Sabemos que cada uma destas jovens tem um projeto de vida e, de acordo com a nossa realidade, ajudamos a construí-lo”, disse Celso Soares. “Procuramos uma jovem responsáve­l, com espírito de missão”, acrescento­u o presidente do comité, dizendo que não basta ser “bonita e alta”.

Cristilene Pimenta tem 20 anos e a coroa de Miss Cabo Verde. Já fazia trabalhos de modelo quando as colegas da escola a inscrevera­m, sem ela saber, no concurso de misses do liceu. “Comecei por dizer que não ia, mas acabei por ir. Ganhei esse e o outro, entre liceus. Depois, fui Miss da ilha de São Vicente e Miss Cabo Verde”, conta ao DN. Pelo meio, teve muitas paragens na carreira de modelo para poder continuar a estudar – quer tirar o curso de Relações Públicas e Relações Internacio­nais. Como Miss Cabo Verde já trabalha com crianças com síndrome de Down, que “são escondidas da sociedade, até pelas próprias famílias”.

Sandra Monteiro não só tem o título de Miss Guiné-Bissau como já participou na Miss Mundo. Mas isso não significa que não esteja a aprender com a experiênci­as mais pequena que é o Miss CPLP, destacando a importânci­a da “irmandade da África e da lusofonia”. A jovem de 20 anos participa em concursos de beleza desde os 9 anos, influencia­da pela família – a mãe foi modelo e a tia, Miss África. Gra- 1. São dez as candidatas a Miss CPLP 2017, cujo espetáculo será hoje à noite na sede da UCCLA 2. Cristilene Pimenta, de 20 anos, é Miss Cabo Verde, mas a portuguesa Andresa Gonçalves, que vai fazer 17, faz a sua estreia neste tipo de concurso 3. A Miss Guiné-Bissau Sandra Monteiro, que já participou no concurso Miss Mundo, tem ajudado as crianças talibes no seu país

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