Uma orelha cada vez mais colorida
Os Orelha Negra estão de regresso com um novo disco, o terceiro, homónimo, no qual alargam o seu universo musical a novas constelações, numa viagem musical que redefine, mais uma vez, a raiz da banda. O próximo terá sons novos, garantem
essa pergunta ultimamente, mas tem apenas a ver com um método nosso. Para apressarmos o trabalho marcamos sempre um concerto, para nos obrigar a criar um novo repertório. Também aconteceu assim com o primeiro concerto de sempre dos Orelha Negra, no Musicbox, que acabaria por resultar depois no disco de estreia”, revela o produtor. “Claro que gostaríamos que tivesse saído mais cedo, mas também não nos pressionámos, porque não gostamos de fazer as coisas à pressa”, acrescenta o baterista Fred Ferreira. “Conseguimos ter sempre um prazo para apresentar um álbum, mas nunca para o ter pronto”, salienta Sam the Kid, para quem a parte de criar repertório “até é um processo rápido. Mas a partir daí ainda há muito para fazer, especialmente num grupo como os Orelha Negra, em que a música normalmente nasce de um sample, de uma batida ou de uma simples linha melódica e, a partir daí, vai sendo construída em sucessivas camadas sonoras.
“Acima de tudo somos independentes de qualquer pressão editorial e podermos trabalhar ao nosso ritmo dá-nos liberdade para gerir o tempo e deixar que as músicas cheguem ao ponto certo. Não somos aquele tipo de banda que pode passar três meses a trabalhar num álbum. Todos nós temos outros projetos e as nossas vidas profissionais não nos permitem fazer isso”, conclui o baixista Francisco Rebelo.
Trata-se, portanto, “de um método como outro qualquer”, como explica Fred, “que tem resultado muito bem” para os Orelha Negra. Como, aliás, mais uma vez se comprova neste terceiro álbum homónimo, porventura o mais completo da discografia do quinteto composto por Sam the Kid, Fred Ferreira, DJ Cruzfader, Francisco Rebelo e João Gomes. De todos, só o teclista João Gomes está ausente da conversa, devido – lá está – a outros compromissos profissionais.
Para quem conhece os trabalhos
“Tenho andado a ouvi-lo no carro e até eu ainda estou sempre a descobrir coisas novas”, confessa Fred. No meio disto tudo há ainda uma assumida e inédita aproximação ao formato canção. Um dos responsáveis por isso é DJ Cruzfader, o homem a quem cabe escolher a maioria dos samples utilizados e que neste disco teve um papel bem mais ativo do que nos anteriores, como todos, e especialmente o próprio, reconhecem. “Neste disco fiz muito mais trabalho de casa. Quando chegámos ao estúdio, já levava feita uma pesquisa de várias sonoridades, que me permitiu adiantar muito o trabalho durante o processo de gravação e composição”, afirma o DJ. “Nos outros discos trabalhámos mais em registo de ensaio, enquanto neste começámos logo a gravar, à medida que íamos compondo. Isto permitiu um maior envolvimento do Cruz, que anteriormente só começava a participar mais no processo de pós-produção”, acrescenta Francisco Rebelo.
“Foi um álbum criado de raiz, feito a partir de ideias muito em bruto”, sustenta Sam the Kid, que, sobre a nova sonoridade, diz tratar-se apenas da “evolução natural” do grupo. “Quando fizemos o primeiro disco ainda não conhecíamos a nossa identidade, estávamos a construí-la. No segundo já conseguimos criar um imaginário e, a partir daí, o maior desafio passa por não repetir ideias. Não queremos fazer aquele grande álbum, que todos vão recordar, mas sim mais discos como este, ambiciosos e arriscados, com um envolvimento cada vez maior de todos. O próximo terá com certeza outras sonoridades que ainda não experimentámos”, garante.
Porque a viagem dos Orelha Negra ainda mal começou, como todos estes músicos perceberam, quando se juntaram pela primeira vez, em 2009, para criar um projeto pensado para tocar em pequenos clubes, mas que depressa se tornou abrangente e transversal, em termos de público. “Tivemos logo a sensação de que ia ser o início de uma longa história”, frisa Fred. E “haverá mais, muitos mais discos” dos Orelha Negra, prometem.
Orelha Negra