Batatas fritas perigosas para diabéticos tiradas do mercado
Alimentação. ASAE teve inspetores durante todo o dia a fiscalizar se estavam à venda. Lay’s notificada para recolher pacotes voluntariamente
Os inspetores da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) estiveram ontem por todo o país a fiscalizar se ainda estavam à venda pacotes de batatas fritas da marca Lay’s com indicação errada dos hidratos de carbono (na embalagem consta um valor que é um sexto do real). Quando encontraram lotes com informação errada apreenderam-nos.
Ao mesmo tempo, segundo as informações recolhidas pelo DN, a Pepsi Co, detentora da Lay’s, foi notificada para recolher os pacotes com a informação errada e para apresentar junto da ASAE esclarecimentos sobre a situação.
O caso foi tornado público na edição desta sexta-feira do DN e surpreendeu a ASAE, que, como adiantou fonte desta entidade, não tinha recebido nenhuma denúncia sobre a venda de batatas fritas daquela marca com um erro tipográfico que fez que diabéticos calculassem as doses de insulina que necessitavam de forma errada, pois faziam as contas a 12 gramas de hidratos por cada 100 de batatas, quando o valor real é de 72 gramas de hidratos.
Depois de ter tido conhecimento da situação, o inspetor-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, decidiu colocar brigadas de inspetores em várias zonas a fiscalizar se ainda estavam à venda os lotes com a informação errada. A operação decorreu durante todo o dia e ao início da noite ainda não existiam dados sobre quantos pacotes foram apreendidos ou se a empresa detentora da marca procedeu a essa retirada dos pontos de venda.
Na quinta-feira, em resposta ao DN, a empresa – que saberia há um mês da situação depois de ter sido alertada por membros de um grupo no Facebook para doentes diabéticos – disse estar a “a mudar os rótulos”, mas frisou não ter “nada pensado” para alertar os consumidores de que as embalagens ainda à venda têm um erro nutricional. Nesse contacto a assessoria da marca salientou que “já não deve faltar muito” para as embalagens com os rótulos corretos chegarem aos postos de venda.
Ontem, foi notificada para tomar a iniciativa de recolher os pacotes.
Denúncia no Facebook
Esta situação foi conhecida depois de uma pessoa no grupo do Facebook ter alertado para a diferença entre o rótulo português e o francês (onde as quantidades estavam corretas). O caso aconteceu a meio de agosto e a marca respondeu que ia corrigir o erro quando tivesse uma oportunidade. Um mês depois, Luís Aguiar-Conraria foi a esse grupo informar o que tinha acontecido à sua filha nas férias e ficou a saber que já antes tinha havido reclamações junto da marca. A criança tem diabetes tipo 1 e o professor universitário e a mulher acabaram por calcular a dose de insulina com base na informação do rótulo, mas como essa estava mal, a menina acabou por ter uma crise de hiperglicemia.
Fiscalização
Questionada sobre este caso e os procedimentos de fiscalização que cumpre, a ASAE adiantou ter na sua atividade proativa implementados dois planos de controlo – o Plano Nacional de Fiscalização Alimentar e o Plano Nacional de Colheita de Amostras.
O controlo à declaração nutricional é efetuado em diferentes níveis tendo em conta a fase da cadeia em que é realizado. Por exemplo, ao nível da indústria são verificadas as fichas técnicas e respetivas composições dos produtos confrontando as menções declaradas na rotulagem do produto final; ao nível do retalho, poderá ser efetuada uma colheita de amostras para pesquisa analítica de determinados componentes, para confronto com a informação prestada ao consumidor. com Ana Bela Ferreira