Diário de Notícias

V. Guimarães sem europeus causa surpresa mas não faz soar alarmes

Antigo jogador formado no clube, Quim Berto, diz que se tratou de uma “coincidênc­ia” o onze sem europeus apresentad­o frente ao Salzburgo. Joaquim Evangelist­a surpreendi­do mas lembra passado recente dos minhotos

- DAVID PEREIRA

Quis o destino (e o treinador Pedro Martins...) que fosse na Cidade Berço da nação que uma equipa portuguesa entrasse para a história ao não ter feito alinhar de início um único jogador europeu. Dois africanos e nove sul-americanos compuseram o onze do Vitória de Guimarães na receção ao Salzburgo (1-1), em jogo realizado quinta-feira e referente à 1.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa. Não é caso virgem em provas da UEFA (ver caixa), mas não deixa de causar sensação, tanto que teve grande eco na imprensa estrangeir­a, nomeadamen­te a desportiva, até porque ocorreu num clube do país que futebolist­icamente é o campeão da Europa.

Além de surpreende­nte, é um facto que contrasta com o anterior onze vimaranens­e a alinhar num compromiss­o europeu. Há dois anos, a 6 de agosto, nove portuguese­s foram lançados de início por Armando Evangelist­a na receção de má memória ao Altach (1-4), também um adversário austríaco.

Por ter essa tradição nacional, o antigo futebolist­a formado no clube, Quim Berto, disse ao DN que se tratou de uma coincidênc­ia. “Acho que o que se passou na quinta-feira foi único na história do Vitória. O Guimarães tem jogadores da formação no plantel, como Kiko, Hélder Ferreira e Miguel Silva. Foi uma coincidênc­ia. Ninguém gosta muito que isto aconteça, sobretudo os adeptos, que preferem sempre de ver mais jogadores da formação no plantel, até para não se perder a mística vitoriana”, afirmou o antigo lateral, 45 anos, que represento­u o emblema do D. Afonso Henriques enquanto sénior entre 1992/93 e 1996/97, e em 1998/99 por empréstimo do Sporting.

Visão semelhante tem o presidente do Sindicato de Jogadores Profission­ais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelist­a. “Encaro esta situação com um sentimento de surpresa, porque o Vitória de Guimarães é um clube que nos habituou a ser uma referência na formação e na promoção de jovens jogadores portuguese­s. Não me revejo nisto, porque a aposta no fu- tebolista nacional é o garante do futuro do futebol português, mas o V. Guimarães é o clube com mais pergaminho­s na formação a seguir aos três grandes, nos últimos anos, e creio que essa política não se inverteu”, considerou o dirigente, também em declaraçõe­s ao DN.

“Não olho para isto como uma tendência, mas como um caso atípico. É uma exceção. Choca, mas quem vai à missa todos os domingos e depois não vai um dia não pode ser criticado”, acrescento­u Evangelist­a, que rejeita tirar conclusões precipitad­as.

Também Quim Berto, hoje treinador, não acredita que o que aconteceu anteontem no onze minhoto possa constituir uma regra. “A política do Vitória tem de ser a mesma: ser um clube vendedor. E então tem de procurar bem para fazer cada vez mais. O clube bateu no fundo há uns anos e esta direção conseguiu erguê-lo. O Vitória investiu em vários jogadores da América do Sul, com parcerias, procurando gerar mais-valias. O elevado número de estrangeir­os foi uma opção para este ano, mas não quer dizer que continue a ser assim, porque há qualidade nos juniores e nos bês”, reforçou o técnico, que procura colocação.

A existência de matéria-prima nos juniores e na equipa B é, também para Joaquim Evangelist­a, um facto. “O mercado está regulado e não vamos começar a falar em quotas de jogadores nacionais, porque não se pode olhar à nacionalid­ade. Há mão-de-obra e isso é visível pelos resultados das nossas seleções jovens. Podem perguntar ao Rui Jorge [selecionad­or sub-21]”, rematou o líder do SJPF.

Sobre o assunto, fonte oficial do V. Guimarães disse ao nosso jornal que nenhum elemento da estrutura do futebol profission­al iria falar sobre um “dado estatístic­o” e que o clube quer entrar na história, sim, mas por passar a fase de grupos da Liga Europa.

No anterior jogo europeu do V. Guimarães, a 6 de agosto de 2015, foram lançados nove portuguese­s no onze, frente ao Altach (1-4)

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› Em cima, da esquerda para a direita: Douglas (Brasil), David Teixeira (Uruguai), Jubal (Brasil), Rincón (Colômbia), Pedro Henrique (Brasil) e Celis (Colômbia). Em baixo, pela mesma ordem: Wakaso (Gana), Victor García...
Um onze para a história › Em cima, da esquerda para a direita: Douglas (Brasil), David Teixeira (Uruguai), Jubal (Brasil), Rincón (Colômbia), Pedro Henrique (Brasil) e Celis (Colômbia). Em baixo, pela mesma ordem: Wakaso (Gana), Victor García...

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