V. Guimarães sem europeus causa surpresa mas não faz soar alarmes
Antigo jogador formado no clube, Quim Berto, diz que se tratou de uma “coincidência” o onze sem europeus apresentado frente ao Salzburgo. Joaquim Evangelista surpreendido mas lembra passado recente dos minhotos
Quis o destino (e o treinador Pedro Martins...) que fosse na Cidade Berço da nação que uma equipa portuguesa entrasse para a história ao não ter feito alinhar de início um único jogador europeu. Dois africanos e nove sul-americanos compuseram o onze do Vitória de Guimarães na receção ao Salzburgo (1-1), em jogo realizado quinta-feira e referente à 1.ª jornada da fase de grupos da Liga Europa. Não é caso virgem em provas da UEFA (ver caixa), mas não deixa de causar sensação, tanto que teve grande eco na imprensa estrangeira, nomeadamente a desportiva, até porque ocorreu num clube do país que futebolisticamente é o campeão da Europa.
Além de surpreendente, é um facto que contrasta com o anterior onze vimaranense a alinhar num compromisso europeu. Há dois anos, a 6 de agosto, nove portugueses foram lançados de início por Armando Evangelista na receção de má memória ao Altach (1-4), também um adversário austríaco.
Por ter essa tradição nacional, o antigo futebolista formado no clube, Quim Berto, disse ao DN que se tratou de uma coincidência. “Acho que o que se passou na quinta-feira foi único na história do Vitória. O Guimarães tem jogadores da formação no plantel, como Kiko, Hélder Ferreira e Miguel Silva. Foi uma coincidência. Ninguém gosta muito que isto aconteça, sobretudo os adeptos, que preferem sempre de ver mais jogadores da formação no plantel, até para não se perder a mística vitoriana”, afirmou o antigo lateral, 45 anos, que representou o emblema do D. Afonso Henriques enquanto sénior entre 1992/93 e 1996/97, e em 1998/99 por empréstimo do Sporting.
Visão semelhante tem o presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista. “Encaro esta situação com um sentimento de surpresa, porque o Vitória de Guimarães é um clube que nos habituou a ser uma referência na formação e na promoção de jovens jogadores portugueses. Não me revejo nisto, porque a aposta no fu- tebolista nacional é o garante do futuro do futebol português, mas o V. Guimarães é o clube com mais pergaminhos na formação a seguir aos três grandes, nos últimos anos, e creio que essa política não se inverteu”, considerou o dirigente, também em declarações ao DN.
“Não olho para isto como uma tendência, mas como um caso atípico. É uma exceção. Choca, mas quem vai à missa todos os domingos e depois não vai um dia não pode ser criticado”, acrescentou Evangelista, que rejeita tirar conclusões precipitadas.
Também Quim Berto, hoje treinador, não acredita que o que aconteceu anteontem no onze minhoto possa constituir uma regra. “A política do Vitória tem de ser a mesma: ser um clube vendedor. E então tem de procurar bem para fazer cada vez mais. O clube bateu no fundo há uns anos e esta direção conseguiu erguê-lo. O Vitória investiu em vários jogadores da América do Sul, com parcerias, procurando gerar mais-valias. O elevado número de estrangeiros foi uma opção para este ano, mas não quer dizer que continue a ser assim, porque há qualidade nos juniores e nos bês”, reforçou o técnico, que procura colocação.
A existência de matéria-prima nos juniores e na equipa B é, também para Joaquim Evangelista, um facto. “O mercado está regulado e não vamos começar a falar em quotas de jogadores nacionais, porque não se pode olhar à nacionalidade. Há mão-de-obra e isso é visível pelos resultados das nossas seleções jovens. Podem perguntar ao Rui Jorge [selecionador sub-21]”, rematou o líder do SJPF.
Sobre o assunto, fonte oficial do V. Guimarães disse ao nosso jornal que nenhum elemento da estrutura do futebol profissional iria falar sobre um “dado estatístico” e que o clube quer entrar na história, sim, mas por passar a fase de grupos da Liga Europa.
No anterior jogo europeu do V. Guimarães, a 6 de agosto de 2015, foram lançados nove portugueses no onze, frente ao Altach (1-4)